Laura Novaes escreveu:É... A própria profissão que escolhi no momento vem me fazendo chegar a conclusão que fidelidade sexual acho que não é normal mesmo... Pra completar, olha o texto que achei:
Entendendo definitivamente os homens
(numa visão real e verdadeira de Arnaldo Jabor)
etc...
Hm, esse texto tem um tom um pouco cínico, mas diz algumas coisas interessantes. Queria dar minha opinião a respeito:
Primeiro, esse papo de "infidelidade masculina é biológico", na boa, é um belo papo furado; não creio que seja uma teoria realmente levada a sério por quem estuda o assunto. E mesmo que fosse verdade, nós fazemos trocentas coisas que são contrárias ao que seria "natural" (andar vestido, ficar acordado durante a noite etc etc), então a meu ver isso nada mais é do que desculpa esfarrapada de quem se sente culpado em trair.
A meu ver, o "bom" numa relação é a fidelidade. Um relacionamento estável pressupõe um pacto onde a base é o compartilhamento de algumas coisas, como sexo, a casa, os filhos, os momentos de ternura e de fraqueza etc etc. Não tem muito cabimento pensar em estar casado com alguém e morar com outras pessoas nada a ver na mesma casa, por exemplo; a casa é o espaço que os dois escolheram para compartilhar entre si, para construir à sua maneira. Da mesma forma, o sexo, sendo um momento de aproximação como nenhum outro, também faz parte desse universo compartilhado que não tem muito como ser dividido com mais ninguém (e mesmo em ménages ou swings o espaço dos dois continua sendo restrito aos dois).
Ao mesmo tempo, a sexualidade está presente em todas as nossas relações, só que de diferentes maneiras. Dentre essas relações, há aquelas pessoas por quem você "arrasta uma asa", ou acha muito bonita/gostosa, e com quem às vezes até transita pelo mundo da paquera: uma piadinha picante aqui, uma insinuaçãozinha ali... faz parte das nossas relações com o mundo! Querer fingir que isso é "cafagestagem" ou "galinhagem" é tapar o sol com a peneira e alimentar sentimentos idiotas de culpa. Mas normalmente essas relações permanecem nesse nível, e o mundo do "sexo mesmo" continua sendo restrito ao casal.
Acontece que nós (homens e mulheres!) somos humanos e, como tal, temos defeitos e damos mancadas. E por isso às vezes rola de alguém sair desse nível das insinuações e "pular a cerca". É ruim? Sim. É grave? Depende. É ruim, não porque traz alguém de fora para o espaço que deveria ser compartilhado pelo casal, mas sim porque
exclui um dos dois desse espaço que deveria ser dos dois. É esse o real sentido da "traição": a exclusão do outro de uma parte da sua vida que deveria ser compartilhada (e nem todas precisam ser compartilhadas, claro; o trabalho, por exemplo, normalmente não é). Quanto à gravidade, depende muito da situação. Em se tratando de um amante, ou seja, alguém com quem há uma relação regular que envolve mais que o sexo, a meu ver a coisa é grave: basicamente, o pacto de compartilhamento foi completamente quebrado.
No entanto, em se tratando de escapadas esporádicas, com alguém que se conheceu numa balada ou com um/uma profissional, acho bem menos grave. Isso porque boa parte da integridade do compartilhamento permanece: a relação de confiança, carinho etc no sexo dentro da relação estável não vai se reproduzir em uma "escapada". Além disso, antes uma escapada desse tipo do que criar um universo de fantasias e desejos proibidos que, com o tempo, tendem a crescer e assumir proporções enormes (justamente por serem proibidos), ameaçando a estabilidade da relação muito mais do que uma escapada!
Então, embora não concorde muito com o tom cínico do texto, concordo com a idéia principal: se seu parceiro dá eventuais escapadas, é melhor simplesmente olhar para o outro lado. Tentar restringir isso a todo custo é abrir espaço para problemas muito maiores. Não é o ideal, mas nós não vivemos num mundo ideal, e nós não somos perfeitos. É claro que pode acontecer de uma escapada dar origem a um relacionamento externo; mas, se isso acontecer, é porque o relacionamento anterior, mais cedo ou mais tarde, iria acabar de qualquer maneira.
Resumindo minha opinião, fidelidade é bom, mas não precisa ser levada tão a sério assim. Agora, para as GPs, esse certamente é um assunto complicado...