Taiado escreveu:oGuto escreveu:Taiado escreveu:Não existe formula mágica, apenas a experiencia pessoal. Num exemplo mais dramático, tenho um colega cuja filha mais nova se matou com o revolver q ele guardava em casa numa gaveta destrancada da escrivaninha. É o sujeito mais ateu q conheço. Nada é capaz de convence-lo de q Deus existe, e olha q não é uma pessoa ignorante, é um sujeito com uma formação q nem 0,01% da população brasileira tem acesso, é até dificil contra-argumentar com ele, por duas razões: pelo vasto cabedal de informações e conhecimentos q ele possui e poço de remorso em q ele esta afundado
Não compreendi o contexto de se utilizar de uma tragédia pessoal para se discutir o ateísmo.
Principalmente, porque coisas desse tipo só se definem como óbvias quando vistas em retrospecto.
O que é um dos conceitos do existencialismo sartriano, o mundo dos Em-si e dos Para-si.
Por este prisma, uma tragédia como a que citou, findada em sua essência, somente existe no passado.
Do meu ponto de vista, há mais proveito no ateísmo expresso do existir preceder a essência, caminho de saída para a angústia do seu amigo, do que na religiosidade da essência governar a existência, buraco no qual parece querer jogá-lo (com todo respeito, belo amigo você).
Caro companheiro oGuto,
Na verdade a tragédia pessoal citada serve unica e exclusivamente para ilustrar meu ponto de vista de q o ateista geralmente é uma pessoa que sofreu uma grande decepção. Esta decepção geralmente é direcionada a Deus.
Desta forma no exemplo, existe a composição, do sentimento de culpa dele por deixar uma arma de fogo marcando, e do fato q menina que tinha um caso de depressão muito grave, cujo tratamento talvez tivesse de ser trancando a pessoa, sei lá. Não sou psiquiatra, ou psicologo, mas acho q mesmo um profissional pode apenas tentar mostrar-lhe o caminho de saída desta tragédia, para retomar a vida normal, mas com bastante dificuldade, como é obvio pela situação.
Conheço uma outra situação em q uma pessoa, que sofreu uma grande injustiça, um grande mal, pelas mãos de terceiros, passou a negar a existencia de Deus devido a este acontecimento. Se a gente for investigando pessoa a pessoa, será raro o ateista q chegou a conclusão pela não existencia de Deus e aceitou isso sem ter tido algum tipo de tribulação emocional.
Um bom domingo a tds.

Tudo bem. Esta foi sua experiência pessoal. Também tive as minhas. E é óbvio e frequente que uma pessoa tenha uma experiência ruim com um representante ou amostra de determinado grupo e generalize para o restante, tomando aquela experiência como base - assim uma pessoa que tenha recebido um péssimo atendimento num hospital público pode assumir que todo médico é um mercenário de havental; alguém agredido ou humilhado por um policial (encaixo-me nessa categoria) pode achar que toda a corporação não presta. Mas por mais que a pessoa se apegue aos seus preconceitos, no fundo tem de admitir que a realidade não é bem assim: a maioria dos médicos valorizam suas profissões e veem nela algo mais do que um meio para ganhar muito dinheiro, e, felizmente, os policiais corruptos ainda não são maioria (ainda).
Mais uma vez, se quase a totalidade da população mundial acredite em alguma forma de divindade, então logicamente que os que creem em Deus são maioria entre todos os extratos de comportamentos, inclusive entre os auto-destrutivos, alcoolatras, drogados, suicidas, prostitutas, assassinos... Não creio que haja uma incidência maior de desvios de conduta entre ateus.
Ateísmo por revolta?
Você cita o caso do seu conhecido que passou por uma tragédia pessoal e se "converteu" ao ateísmo. Primeiro que provavelmente no caso dele seja uma perda de fé temporária, assim como uma coxeadura provocada por um forte trauma e que volta aos poucos com fisioterapia. No caso dele a "fisioterapia" vai ser a típica fase de revolta (pela qual ele está passando), questionamento (Por que eu, meu Deus? Por que minha filha?), negação (se tu permites que algo assim aconteça com um de seus devotos filhos é porque ou não existe ou não se importa) e aceitação. Caso a fé fosse minimamente ancorada na razão, ele tiraria algo de útil dessa situação e se tornaria um ateu convicto. Mas como a fé é só uma forma irracional de cobrir um buraco emocional, o famoso vazio existencial, e as pessoas se convenceram de que não inventaram nada melhor para se colocar no lugar, ele vai se convencer de que essa tragédia aconteceu porque: a) Deus tem um plano maior secretíssimo para a vida dele e ele, como ser humano, não tem capacidade para entender; b) Deus levou-a naquele instante para poupá-la de um futuro sofrimento maior ou mesmo para tirá-la do sofrimento pelo qual ela passava naquele momento (viciada, marginalizada, deprimida); ou seja, ele foi misericordioso; c) Deus deu o livre arbítrio ao ser humano para que ele pudesse fazer o que quisesse; mas, principalmente em sociedade, o desejo de uns entra em conflito com o de outros, e como o ser humano é pródigo em desrespeitar regras, o que causou a morte da filha do nobre cristão acima não foi Deus e sim o exercício do livre arbítrio dela, livre inclusive para tirar a própria vida. Deus não interferiu porque só assim o ser humano vai aprender a lição. Ou seja: de todos os ângulos que se olhe Deus está protegido, logo não há motivo para o sujeito abandonar sua fé.
Mas a lógica é coisa do Diabo, como alguns dizem e:
a) dizer que não se pode questionar a existência de algo porque essencialmente não temos capacidade, inteligência para compreendê-lo é encerrar o assunto da forma mais fácil, medíocre e até arrogante; b) poupar alguém do sofrimento, tirando-lhe a vida tem um nome que costuma provocar arrepios em religiosos, debates acalourados entre médicos e filósofos e dar cadeia em certos países: Eutanásia. Sou a favor da pessoa poder decidir sobre todos so aspectos de sua vida, inclusive sua morte, desde que consciente o suficiente para isso e, em determinados casos, ciente de possíveis punições. Um paciente com câncer terminal deveria ter o direito de poder acabar com seu sofrimento. Agora, pode-se discutir até que ponto uma pessoa com dor aguda ou deprimida tem condições de decidir isso. Mas é consenso entre as religiões que, independente da situação isso é considerado um pecado gravíssimo. Só Deus tem esse direito. É como se um legislador por ter criado determinada lei, estivesse acima dela. Se um cidadão comum infringe a lei é preso, mas se o presidente da república faz o mesmo ele sai impune. Ao que parece o tribunal divino não é muito diferente do nosso. c) Deus deu o livre arbítrio ao ser humano como uma forma de lavar as mãos e dizer: "vocês são humanos então que se entendam; depois não venham botar nada na minha conta." Para que nós aprendessemos a nos respeitar, a conviver. Mas então há os ditos milagres, pequenas intervenções divinas no curso da vida de alguém: uma menina sobrevive a um acidente de avião com 142 mortos; uma diarista cae do décimo sétimo andar e não morre; durante um acidente de carro, um bebê é lançado a vinte metros de distância e só tem escoriações; tudo ótimo, Deus é bondoso e protege os indefesos, mas aí: playboy... foi mal, empresário bate o carro a 150km/h, matando uma jovem estudante de advocacia, e sai vivo com apenas alguns ferimentos; assaltante troca tiros com a polícia, mata um pedestre, foge e bate o carro em alta velocidade e escapa vivo. Espera um pouco, qual o critério para as intervenções de Deus? Quer dizer que para Deus tanto faz um bom cristão ou um assassino? Na hora de realizar um milagre na vida de uma pessoa Ele escolhe na base do unidunitê. Isso para mim tem outro nome: Acaso. Quem sabe um pouco de probabilidades tem consciência de que, para toda ação, há possibilidade de erro ou acerto. O que varia são as percentagens. Ou seja, um copo escapar da minha mão, bater no piso e continuar intacto, sair rolando escada abaixo e parar no último degrau ainda intacto é uma possibilidade, remota, mas ainda sim possível. Assim como ganhar na loteria. Ou levar cinco tiros na cabeça e sobreviver. Para os religiosos há um outro padrão: se for algo muito improvável (mas possível), importante é um milagre de Deus. Se for algo improvável mas de significado nulo, como o exemplo do copo, então é só coisa do acaso. E tem os desastres naturais - também tidos como manifestações de Deus sem um significado ou intenção clara. Pegue-se o caso do Tsunami que matou milhares de pessoas. Quem faz isso aqui na terra, indenpendente de sua justificativa é tido como genocida mas Deus só quer dar um recado. Ou seja, ela dá o livre arbítrio mas interfere.
Das duas uma: ou Deus é como um espectador entediado de reality show que, quando a coisa amorna, ele provoca uma tragédia aqui outra ali para esquentar o programa. Ou não há nada lá em cima.
O nosso colega aventou a possibilidade do ateísmo ser uma "sequela" do degosto provocado por uma grande tragédia. Eu rebato com a possibilidade muito mais concreta de, diante de tantos bons argumentos para a não-existência de Deus, persisti nessa crença seja uma consequência de lavagem cerebral, que todos sofremos desde pequeno, primeiro no seio familiar, depois pela mídia e cultura para acreditarmos nessa mentira.