20/11 - Dia da Consciência Negra

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#181 Mensagem por Tricampeão » 17 Mai 2011, 22:29

Nazrudin escreveu:O critério de cotas racial, é discriminador, tem conotações racistas (o que diz combater) e se baseia em critérios ultrapassados de classificação e divisão humanas que deveriam ser combatidos pelo Estado e não fomentados. Na prática, o que se busca é uma declaração, mais das vezes errônea, que que o sujeito é negro. A genética já provou que não é assim simples e será cada vez menos....
Não considero que o critério tenha conotações racistas, pois ele não se baseia no conceito de raça, e sim no de fenótipo.
Os senhores podem dizer o que quiserem a respeito da nossa intensa miscigenação, mas quando eu vejo uma pessoa na rua, sei dizer se ela vai ser discriminada ou não nos ambientes metidos a grãfinos. O fenótipo é uma realidade objetiva e experimentalmente verificável.
As cotas baseadas em critérios socioeconômicos, evidentemente, também são válidas.
Nazrudin escreveu:nem sempre a raiz de todos os males é o branquelo que está ao lado...
Na verdade, eu diria que, na maior parte dos casos, a raiz do mal é o branquelo que esta lá no Norte.

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#182 Mensagem por rapaz solitário » 17 Mai 2011, 23:19

Tricampeão escreveu:
Quanto aos indiodescendentes, não serão esquecidos, pois vão receber cotas devido à sua condição de pardos.
É... . Mas, o detalhe é que os tais caboclos/pardos serão assimilados como negros, né? Já que pardo = negro... .
Tricampeão escreveu:
Nazrudin escreveu:O critério de cotas racial, é discriminador, tem conotações racistas (o que diz combater) e se baseia em critérios ultrapassados de classificação e divisão humanas que deveriam ser combatidos pelo Estado e não fomentados. Na prática, o que se busca é uma declaração, mais das vezes errônea, que que o sujeito é negro. A genética já provou que não é assim simples e será cada vez menos....
Não considero que o critério tenha conotações racistas, pois ele não se baseia no conceito de raça, e sim no de fenótipo.
Os senhores podem dizer o que quiserem a respeito da nossa intensa miscigenação, mas quando eu vejo uma pessoa na rua, sei dizer se ela vai ser discriminada ou não nos ambientes metidos a grãfinos. O fenótipo é uma realidade objetiva e experimentalmente verificável.
As cotas baseadas em critérios socioeconômicos, evidentemente, também são válidas.
Sendo assim... o critério tem conotações fenotípicas, oras. Engraçado é que é dito que não há raças, mas ha racismo. A intolerância existirá, independente de se ratificar que não existam raças, desde que existam diferenças. Sendo assim, que mudem o nome "racismo" pra "etnismo", "fenotipismo" ou sei lá o que. O que o Nazrudin escreveu pode significar que não exista conotação racial, mas há discriminação de qualquer jeito.

E, posso estar enganado, mas quem implantou o Apartheid na Africa do Sul foram os ingleses, que foram os últimos colonizadores desse país, já que eles invadiram o país após a presença dos holandeses por lá, tanto que geraram guerras e mataram muitos holandeses, mas estes se renderam em troco de não serem exterminados, e passaram o comando à Terra da Rainha.



Pastor

Realmente, faz sentido. Mas, só falta criarem os tais portões pra x e pra y e z. Mas, sem chances disso acontecer no Brasil, pois se não é alardeado racismo na Holanda, aqui seria.

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#183 Mensagem por Tricampeão » 18 Mai 2011, 00:05

rapaz solitário 2 escreveu:
Tricampeão escreveu:
Quanto aos indiodescendentes, não serão esquecidos, pois vão receber cotas devido à sua condição de pardos.
É... . Mas, o detalhe é que os tais caboclos/pardos serão assimilados como negros, né? Já que pardo = negro... .
Mas qual é o problema com isso?
rapaz solitário 2 escreveu:A intolerância existirá, independente de se ratificar que não existam raças, desde que existam diferenças.
A intolerância com o outro realmente é difícil de suprimir.
Mas, se o outro está em condições de chutar a canela do intolerante, a situação fica equilibrada, e não causa maiores problemas sociais.
Corintianos nunca vão gostar de palmeirenses, mas não há risco de guerra civil entre eles, pois as forças se equivalem.
É por isso que fortalecer os negros trará maior equilíbrio social.
rapaz solitário 2 escreveu:E, posso estar enganado, mas quem implantou o Apartheid na Africa do Sul foram os ingleses, que foram os últimos colonizadores desse país,
Você tem razão. Os negros já tomavam no cu antes dos ingeses chegarem, mas eram escravos. O apartheid era desnecessário.
rapaz solitário 2 escreveu:Mas, sem chances disso acontecer no Brasil, pois se não é alardeado racismo na Holanda, aqui seria.
Entendi que isso também é considerado racismo na Holanda. Apenas os racistas não chamam de racismo.

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Nazrudin
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Re:

#184 Mensagem por Nazrudin » 19 Mai 2011, 11:07

Sobre a comparação dos holandeses com o caso brasileiro não vejo parâmetros. Os holandeses, como todo povo razoavelmente homogeneo, é bastante discriminador. Os japoneses discriminam descendentes de coreano que residem no Japão a mais de século! Por causa do sobrenome. Eu assisti recentemente um video do Andre Rieu tocando na cidade natal de Maastricht e era uma brancura só. Tinha claro, um ou outro DIFERENTE na platéia, vi ate um negrao agarado com uma das belas loiras holandesas. Interessante que cantando na orquestra tinham duas brasileiras, uma loitinha e uma morena com uma belíssima voz.

Mas voltando a vaca fria. Nunca tinha visto a degradação da Escola de base pública por essa ótica do racismo. E ainda não consigo ver. Me surpreendeu claro os seus argumentos, mas para mim ainda passa longe da explicação. Como somos um povo todo misturado, essencialmente essas tensões não temos nessa escala, lembrando que lá a coisa vai além do racismo, a xenofobia tem várias razões econômicas e sociais.
Tricampeão escreveu: Os senhores podem dizer o que quiserem a respeito da nossa intensa miscigenação, mas quando eu vejo uma pessoa na rua, sei dizer se ela vai ser discriminada ou não nos ambientes metidos a grãfinos. O fenótipo é uma realidade objetiva e experimentalmente verificável.
As cotas baseadas em critérios socioeconômicos, evidentemente, também são válidas.
Eu não sei como é ai no Centrão, mas aqui no sul é assim:

Lá vem o negrão cheio de paixão.... ticatá-ticatá-ticatá... vestigo com um terno bem gra-fino, discriminação ele não passa não! Chegou no carrão,com a linda morena... ticatá-ticatá-ticatá... no posto é chamado de DOUTOR... no restaurante granfa recebido com champã! Tchan!

Agora se um branquelo (do zóinho azuli, quase um nortista du norti) pé rapado e do pé rachado.... lá de POOOOOMErôoode vier com os trajes da roça pedindo para usar o banheiro do restaurante bacana... questões fenotipicas sem dúvida.....

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O Pastor
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Re: Re:

#185 Mensagem por O Pastor » 19 Mai 2011, 21:11

Nazrudin escreveu:Sobre a comparação dos holandeses com o caso brasileiro não vejo parâmetros. Os holandeses, como todo povo razoavelmente homogeneo, é bastante discriminador. Os japoneses discriminam descendentes de coreano que residem no Japão a mais de século! Por causa do sobrenome. Eu assisti recentemente um video do Andre Rieu tocando na cidade natal de Maastricht e era uma brancura só. Tinha claro, um ou outro DIFERENTE na platéia, vi ate um negrao agarado com uma das belas loiras holandesas. Interessante que cantando na orquestra tinham duas brasileiras, uma loitinha e uma morena com uma belíssima voz.

Nazrudin, acontece o seguinte. A Holanda é um exemplo excepcional para o que discutimos aqui. Vc se engana se pensa que o holandês médio se vê como RACISTA e acha isso natural. Eles não se acham racistas, o pensamento deles é EXATAMENTE igual ao pensamento dos brasileiros, das elites brasileiras. O tema é tabu por lá, ninguém gosta de discutir o assunto. Eles se acham tolerantes e pronto, IGUALZINHO nossas elites e nossa mídia. Eles chegam a se achar uma "democracia racial", como no Brasil, e se acham realmente a frente dos demais europeus em relação a isso.

Há muita miscigenação entre os holandeses. Isto é fato. O exemplo que vc citou do negrão com a loira é comum por lá. Há uma colônia surinamesa muito grande nas principais cidades. ESta população, por ter uma afinidade cultural maior, acaba digamos, tendo alguns acesso que os demais imigrantes, não-brancos, não conseguem. Logo. o caso é como no Brasil, isto acaba criando a ilusão de que não existe racismo, etc, de que todos são cidadãos, mas sim, existe. Os indicadores sócio-economicos são muito claros.

A Holanda não chega a ser um país extremista. Apesar de seu passado calvinista, de terem sidos fundamentais no aperfeiçoamento da escravidão africana, de tudo de ruim que fizeram na Indonesia, eu vou limpar um pouco a barra dos holandeses. Claro, existem os extremistas e existem os racistas, mas na média, o país é sim, muito tolerante.

É preciso entender que o novo discurso do racismo na Europa é muito diferente daquele do final do século XIX. Desde o final da WW2, os europeus, sobretudo os que passaram por coupação nazista, aprenderam da pior maneira, onde o nacioinalismo e a xenofobia pode chegar. Depois da guerra, a maioria dos países incrementaram suas constituições banindo o racismo ou qualquer forma de discriminação. Acontece que a prática na sociedade é outra, todos nós sabemos. O racismo vai e vem, exatamente conforme os rumos da economia. Quando tudo vai mal, os partidos de extrema direita conseguem eleger uma meia-dúzia de baderneiros que desaparecem tão logo quando as coisas melhoram, Mas tirando os extremistas, que sempre fazem muito barulho e nunca conseguem porra nenhuma, o europeu em geral sabe que não existe mais essa coisa de "superioridade racial" de ser "biologicamente" melhor que o outro. Eles são bem conscientes disso. Mas isso não significa que o racismo deixa de existir. Só que o tipo de racismo agora é outro, é o racismo chamado de "cultural", que no fundo, tem o mesmo efeito do racismo biológico.

A coisa funciona assim: "- Nós, os europeus, achamos maravilhoso passar férias no Marrocos/Tanzania. Amamos a cultura marroquina/tanzaniana e sua gente. Só que, nossas culturas são muito diferentes. Tão diferentes que se torna impossível vivermos juntos, em harmonia. Nossa sociedade européia, é complexa demais para vcs entenderem, logo é melhor vcs não virem pra cá em busca de empregos e melhores condições de vida."

Percebe a diferença do discurso?? É muitíssimo parecido com o racismo das nossas elites, que muitas vezes é confundido com "PRECONCEITO SOCIAL".

O texto abaixo é um pouco longo, mas ilustra bem o que estou dizendo aqui.
Racismo e globalização

Teun A. Van Dijk

La Paz - O jornalista Carlos Morales entrevistou em La Paz o lingüista e cientista cognitivo holandês, docente e pesquisador na Universidade Pompeu Fabra de Barcelona, Teun Van Dijk. Teun Van Dijk chega na Bolívia com uma longa trajetória como pesquisador no campo da lingüística e da análise do discurso. Conhecido no mundo pela sua obra La noticia como discurso (Paidós,1990) e, em seguida, pelo seu trabalho intitulado Racismo y análisis crítico de los medios (Paidós, 1997), Van Dijk se distinguiu devido ao seu método crítico de análise sobre o que fazem os meios de comunicação e como constroem as notícias.

Desde o princípio se define como um "cientista crítico", que se posiciona contra o racismo e a favor dos mais desvalidos e vulneráveis da sociedade. Desde os anos 80 levantou um imenso projeto de pesquisa a nível transnacional que agrupa pesquisadores da Europa, dos Estados Unidos e da América Latina com o mesmo fim: perseguir os traços dos discursos dominantes de nosso tempo.

Impressionado pelos movimentos sociais na América Latina e, particularmente, por aqueles que se tornaram notícia na Bolívia nos últimos anos, Van Dijk deu uma conferência e um curso sobre análise do discurso por convite da Universidade Católica Boliviana (UCB).

Em que medida está aumentando o racismo e a discriminação com a globalização?

Os discursos do racismo não são novos. Existem há séculos. Os gregos já chamavam de barbaroi os estrangeiros que eram diferentes deles e, por isso, tinham menos direitos. A palavra "bárbaros" vem de barbarein, que quer dizer "balbuciar", ou seja, aquele que fala um idioma que não se entende, que não é o nosso. Logo viria a idéia da superioridade européia, branca, ocidental, em relação às pessoas de outros continentes. Isto aumentou muito com as explorações de outros continentes. Desde 1492, quando Cristóvão Colombo descobriu estas terras, já havia uma maneira de descrever e nomear os demais como diferentes de nós europeus, em geral, com um tom de superioridade. Naquela época, o debate era se os selvagens tinham alma ou não. Desde um ponto de vista religioso, os colonizadores se perguntavam sobre estas pessoas que não eram cristãs. Depois, nos séculos XVIII e XIX, surgem as ciências das raças que mediam os crânios de forma absurda para estabelecer a superioridade de umas raças sobre outras. Os cientistas inventaram o racismo, o que rapidamente foi utilizado pelos políticos para legitimar a escravidão e a dominação européia sobre os não-europeus. Então, são fenômenos muito antigos. A colonização era uma forma de globalização. A palavra "globalização" é nova, mas em muitos sentidos o fenômeno é muito velho.

O que a globalização traz de novo em relação ao racismo, já que sabemos sobre a exclusão de milhões de pessoas em meio a estas profundas transformações tecnológicas, políticas e econômicas que estão ocorrendo nestas últimas décadas?

No plano da cultura, por exemplo, os intercâmbios são muito mais rápidos que antes devido aos novos meios de transporte e internet. Agora vemos como um fenômeno tremendo a dominação econômica dos Estados Unidos. Entretanto, os princípios básicos dessa exclusão e da discriminação são bastante antigos. O que vemos, hoje, são essas grandes migrações de pessoas, de regiões mais pobres a outras de maior prosperidade. Então, quando surgem problemas econômicos no sistema, se culpa os imigrantes porque são um excelente grupo para responsabilizar, visto que não têm o direito de votar e não têm poder. Com os imigrantes está acontecendo o que antes acontecia com os judeus. Há uma imigração muito forte para a Europa, o que está trazendo consigo uma importante mudança social no sentido da diversificação cultural. Hoje, em Amsterdã, alguém pode não acreditar onde está, porque no centro se vê mais pessoas não-européias, não-holandesas. Podem-se encontrar pessoas do Marrocos, do Suriname, das Antilhas, da Turquia e de todas as partes do mundo. O mesmo ocorre em Londres ou Paris.

Como se constroem estes discursos sobre os imigrantes e sobre os "outros" que são discriminados?

Depois de analisar os discursos das pessoas na rua, de pessoas comuns, em bairros pobres e em bairros ricos, cheguei à conclusão de que grande parte da produção e reprodução dos discursos racistas é uma coisa das elites. Isto é assim porque as elites têm o controle sobre o discurso público. São elas que fazem as leis, escrevem os jornais, fazem a ciência, fazem a justiça. O discurso dominante em uma sociedade é o discurso das elites e não das pessoas comuns. A pessoa comum quase não tem voz no discurso público. Se a tem, é através dos partidos políticos -de esquerda ou de direita-, mas, outra vez, são as elites que são os líderes desses partidos. Após muitas análises dos discursos, observamos que as elites pré-formulam o racismo. Talvez não de uma maneira tão extrema e explícita. Porém, elas são as primeiras a falar "deles" como diferentes, como delinqüentes, como aqueles que não respeitam nossa cultura e nossos valores. Enquanto que as pessoas comuns não sabem nem do que se trata. Os políticos, os policiais, os juízes, os empresários e os jornalistas são os primeiros que sabem e identificam que os imigrantes estão chegando. As elites definem se essas pessoas são "boas" ou "más" para a sociedade que os recebe.

Por que fazem isso?

Por temor, por ignorância. As elites definem os imigrantes como pessoas que "não são como nós". Existe um temor que a nossa cultura dominante possa se alterar devido a sua chegada. O ex-presidente da Generalitat de Catalunha, Jordi Pujol, por exemplo, expressou que tinha medo que a cultura catalã sofresse porque os imigrantes falam outras línguas, por exemplo, os latino-americanos, que falam espanhol. O nacionalismo tem medo cultural. Grande parte do racismo das elites é cultural, tem a ver com a língua, os hábitos, os costumes. A isto se somam os problemas do mercado de trabalho. Isto deveria se expressar muito mais entre os mais pobres, porque é ali onde se compete por um posto de trabalho. Porém, a discriminação também está no sistema que controlam as elites. Por si mesmas não são racistas, mas são as rotinas burocráticas que contribuem para a marginalização dos demais.

Que papel interpretam neste processo os meios de comunicação? De que maneira as rotinas jornalísticas contribuem ou não para a discriminação?

Os jornalistas não são diferentes dos outros membros das elites. Nesse sentido, não são mais ou menos racistas que as outras elites. Em segundo lugar, não necessariamente estão na origem das expressões racistas, mas sempre estão em cooperação com outras pessoas, isto é, políticos, empresários e fontes de informação que determinam essas expressões de discriminação. Os jornalistas como grupo profissional e os meios de comunicação como organizações sempre estão em simbiose com outras instituições. Por exemplo, a relação entre jornalistas e políticos é impensável sozinha. São páginas e páginas a cada dia de relações entre ambos setores. O mesmo ocorre entre jornalistas e cientistas sociais; entre os jornalistas e os policiais; entre os jornalistas e os juízes; estas fontes dão quase todo o material necessário para encher o jornal. Existe muito pouco no jornal que seja produção do próprio jornalista, uma alta porcentagem provém de fontes de fora do jornal. Noventa por cento dessas fontes de informação faz parte das elites e não do que ocorre na rua. Estas elites definem a forma como se chamam as coisas no mundo do público.

Bom, mas os jornalistas tentam comunicar a realidade que ocorre em nossos países da forma mais ampla...

Claro, mas a comunicação que estabelecem os jornalistas não é somente de cima para baixo, entre os comunicadores e os leitores; mas também entre os comunicadores e as elites. É através dos jornais que os políticos sabem o que acontece no país. O mesmo acontece com os cientistas que descobrem problemas através do que lêem no jornal, e logo publicam no mesmo jornal. É uma simbiose. As notícias se formam com outros textos que produzem essas fontes. Nesse sentido, o jornalista tem uma missão fundamental de intermediação entre as elites. Então, quando essas elites manifestam ou deixam de manifestar certos aspectos da realidade de forma sutil sobre os imigrantes, por exemplo, os meios o fazem de uma maneira mais contundente; e, finalmente, as pessoas lêem esse mesmo fato de uma maneira muito mais exagerada. É todo um processo onde se aumentam ou diminuem certos aspectos da realidade. Assim, nas rotinas do jornalismo nasce uma forma de ver as coisas que em si não é racismo, mas que tem um efeito racista. Se na Europa há um assalto onde está envolvido um cidadão turco, o jornal diz em uma manchete "um turco assaltou um local"; então as pessoas sintetizam o fato dizendo que os turcos estão envolvidos na delinqüência com uma memória muito parcial.

Os jornais "sérios" se defendem dizendo que este é um problema só dos meios sensacionalistas. Isso é assim?

Isso é um mito. Segundo nossos estudos, a porcentagem de artigos onde se associam os imigrantes com a delinqüência nos jornais chamados "sérios" é quase a mesma que a dos denominados jornais sensacionalistas. As manchetes não serão tão terríveis, os formatos serão mais dissimulados, mas também a imprensa "séria" generaliza a imigração como uma invasão e uma ameaça.

Em que medida a linguagem pode se converter em instrumento para discriminar os outros? Certos setores na Argentina designam os imigrantes bolivianos como "bolinhas" Isto é discriminatório?

Não são os termos ou as palavras, mas sim os conceitos. "Bolinha" é só uma palavra e você pode dar o significado que quiser. "Mouro", por exemplo, que antes significava somente as pessoas do norte da África, hoje é um termo associado com os marroquinos com uma conotação negativa. O problema é o conteúdo que se dá às palavras, se é positivo ou negativo.

Porém, alguns jornalistas dizem, "bolinha" fica melhor em uma manchete do que "imigrante boliviano"; uma questão de espaço...

Se o argumento é que é uma palavra curta, existem muitas outras palavras que podem ser imaginadas e pensadas para representar esse grupo. Pode-se dizer imigrantes ou simplesmente bolivianos ou pensar palavras mais neutras. A palavra não importa muito e sim todas as idéias que estão por detrás dela. O que se associa com essa palavra. Se a associação é sempre com a delinqüência, com a ênfase em alguns aspectos físicos (baixos, morenos), com a agressividade ou violência ou com o fato de designar o outro como menos, então a palavra se enche de aspectos negativos. Na Holanda ou na Alemanha as próprias palavras "estrangeiro" ou "imigrante" têm em si mesmas uma conotação negativa que aponta para a discriminação.

Outros dizem que "assim falam as pessoas" e a imprensa reflete o que diz as pessoas na rua...

O que deveria ser perguntado primeiro é onde as pessoas aprendem a falar. Onde os leitores aprendem a falar sobre os imigrantes? Não é inato. Têm que aprender de alguma forma. Muitas vezes as fontes que nutrem essas formas de falar sobre os imigrantes são as elites. Um exemplo claro sobre isso encontramos nas guerras balcânicas e no extermínio das populações islâmicas na Bósnia. As representações e palavras negativas não vinham do povo, mas vinham dos nacionalistas extremistas através da rádio sérvia. Eles inventavam essas formas negativas de ver os outros. Então a imprensa desempenhava um papel fundamental com o uso de metáforas, com títulos, manifestando umas coisas em detrimento de outras, com exageros e com cifras arbitrárias e com toda a gama de possibilidades que a imprensa possui para tratar de um tema. Então, não tinha porquê estranhar o fato das pessoas imitarem o que liam nos meios. A maior parte do racismo e das palavras de discriminação não se inventa na rua, mas vem das elites. O argumento de que a imprensa somente reflete o que diz o povo é outro mito que simplesmente não encaixa a teoria com a prática. Então, como se pode influenciar nas relações sociais de um país com milhões de pessoas se não for através dos meios de comunicação e dos políticos que se citam através desses mesmos meios. O racismo dos setores populares se torna visível através dos meios de comunicação que reproduzem esses discursos de discriminação. Não os ignoram, mas os enfatizam. E, assim, é uma forma de construir o racismo. Eles, os pobres, os imigrantes são racistas entre eles, dizem os meios das elites. Por isso, os meios buscam "racistas oficiais" em Le Pen ou Haider, mas não vêem o racismo nas universidades, nos jornais ou no Parlamento que pertencem a essas elites.

Na Holanda se fala criticamente destes temas?

O racismo na Holanda é um tema tabu. É um tabu dizer que as elites são racistas. Por isso, a recepção dos trabalhos sobre racismo é muito negativa. Em geral, não querem ouvir. "Nós? Nós não somos racistas, por favor", dizem as elites. E, paradoxalmente, a esquerda holandesa também não quer falar destes assuntos porque tem a imagem de ser progressista e "politicamente correta", desta forma, o racismo é incompatível com eles.

Na América Latina existe uma cultura da discriminação dos povos indígenas e dos pobres. Inclusive, na Bolívia, ocorre o paradoxo de que uma minoria teve o poder de discriminar a uma maioria de indígenas. Como vê o racismo na nossa região?

No ano passado publicamos um livro chamado Dominación Étnica y racismo discursivo en España y América Latina. Ali encontramos que os fundamentos do racismo na América Latina são os mesmos que na Europa. É, basicamente, um racismo europeu, um racismo do homem branco contra os não-europeus, os indígenas e os afro-americanos. Existe, obviamente, muita variação. O racismo depende do contexto. Não é o mesmo racismo na Argentina, no México, Brasil ou Chile. O caso boliviano é específico porque é um dos poucos países onde a minoria age como uma maioria. Isto tem a ver com o poder político e com a representação. Eles deveriam ter a maioria no Parlamento por pura lógica, mas não é assim. Por isso também não tem o poder simbólico, empresarial e intelectual para definir estas relações sociais. Algo similar aconteceu na África do Sul com o Apartheid, onde uma minoria pôde controlar por anos a uma maioria sobretudo pobre e com muitas línguas diferentes. Então, a multiculturalidade da Bolívia -e o mesmo no Brasil- requer uma análise especial sobre quais tipos de racismo estão agindo para sustentar este sistema de poder. A isto se deve acrescentar a discriminação de classe, porque não é só um problema cultural. Muitos na América Latina são racistas, em virtude das classes. "Eu, racista? Mas se minha babá sempre foi negra", diz muita gente nesta região.

Agora vemos uma emergência dos movimentos indígenas que reclamam por um lugar de poder no sistema político...

Vejo que há um incremento muito grande de consciência sobre o que está passando. Há uma década pouquíssimas pessoas falavam na América Latina de racismo. Este processo é paralelo com o que está passando nos Estados Unidos e na Europa. Nesta região, as demandas dos grupos indígenas –minoritários ou majoritários segundo o país– mostram que uma consciência está despertando sobre estes problemas. Percebem que não vivem apenas na pobreza, mas que, além disso, são discriminados em todos os âmbitos de poder. Por isso, existem movimentos fortes de reivindicação de seus direitos. Há uma década, os levantamentos de Chiapas, no México; do Equador, do Peru e da Bolívia apontam a um mesmo objetivo de crítica sobre o que está passando na sociedade.

Certos setores apontam, contudo, que os movimentos indígenas também são racistas já que designam os brancos de forma discriminatória...

O que acontece é que também existe um discurso da resistência. A resistência é uma forma de contra-poder. O racismo é um sistema de dominação e de abuso de poder. Assim, um grupo minoritário que não tem poder na sociedade, por definição, não pode ser racista. Se não aceitam os brancos ou os chamam de forma discriminatória, estamos frente a uma forma de defesa e de resistência. Neste momento não querem esta forma de dominação branco-européia e querem construir outra forma de poder. Isso não é racismo. Racismo não é somente excluir a outra pessoa de outra cor ou outra cultura. Racismo tem a ver sempre com poder, com abuso de poder. Exclui o que tem poder. Discrimina o que tem poder. Se um grupo tem o poder em uma sociedade e abusa desse poder, então, se pode falar de racismo.

Este artigo foi publicado originalmente na revista http://www.sinpermiso.info
________________________________
Teun A. Van Dijk
Nasceu em Naaldwijk, Holanda, em 1943. Desde os anos setenta está intimamente relacionado com a América Latina após a sua união com a psicóloga chilena Flavia Hernández. Obteve o doutorado em lingüística na Universidade de Amsterdã, Holanda. Desde 1999, ensina Filologia na Universidade Pompeu Fabra de Barcelona. O método de análise de Van Dijk pode ser consultado em seu site sobre o tema: http://www.dicourse-in-society.org
http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/not ... d_canal=42

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Nazrudin
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Re: 20/11 - Dia da Consciência Negra

#186 Mensagem por Nazrudin » 19 Mai 2011, 21:49

Pastor, depois faço alguns comentários sobre o "novo" racismo. Interessante o texto mas o link no final está incorreto, é esse aqui:

http://www.discourses.org/

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Dr. Zero
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Re: 20/11 - Dia da Consciência Negra

#187 Mensagem por Dr. Zero » 19 Mai 2011, 22:44

O Pastor escreveu:Mas como o caso holandês do post anterior é exatamente igual ao brasileiro??

No Brasil sucedeu o seguinte. No inicio dos anos 70, junto com o milagre econômico, a qualidade de vida de negros e pardos foi pouco a pouco melhorando. Se antes uma criança negra no máximo ia ao colégio pra se alfabetizar e olhe lá, a partir daquela época, com a melhoria de vida, começaram a perceber que poderiam ir um pouco além. Na medida em que essa população começou a fazer peso nas escolas públicas, pouco a pouco os brancos brasileiros começaram a ter os mesmo dilemas que os brancos holandeses tiveram em 2006.

Os pais começaram a associar a presença negra nas escolas como algo negativo e foram pouco a pouco tirando seus filhos dali. Os de classe média alta, rapidamente foram para os colégios particulares ou para escolas públicas que se situavam em bairros onde haviam poucos ou nenhum negro. O Estado, percebendo essa debandada, foi pouco a pouco diminuindo os investimentos, o que fez com a escola publica fosse perdendo massa crítica que incluiu a saída dos melhores professores. Soma-se a isso, o “interesse” imenso do regime militar em investir na educação. Está criado o ciclo que foi pouco a pouco asfixiando a escola pública de base. Percebam que o mesmo não ocorreu com a escola pública superior e que por coincidência, possui um perfil racial branco, homogêneo.

Claro que essa depauperação não se deu do dia pra noite. Eu estudei toda minha vida em escola pública, nos anos 80, e a minha escola era vizinha a uma grande favela. No entanto, a qualidade daquela escola ainda era muito boa. Me deu total condições de entrar em universidade pública sem a necessidade de cursinhos suplementares. E olha que eu nunca fui um aluno brilhante. Na minha época, quem ia pras escolas particulares era porque não conseguia passar na pública, que dava “bomba” e ainda era muito difícil. As particulares, com exceção das grandes, eram sinônimos de malandragem e “passar sem estudar”. Quando eu estava finalizando o antigo 2º grau, já no primeiro ano dos anos 90, era claro a decadência do ensino. Alguns anos depois, soube até de casos de tiroteio naquela escola.

Logo, um dos motivo do esvaziamento das escolas públicas brasileiras se deu, pelo racismo. Ou o medo de convívio dos brancos da elite (leia-se classe média média e alta) com os não-brancos. Hoje, ela é freqüentada por brancos pobres, negros e pardos que se pudessem tirariam seus filhos dali imediatamente e não sem razão. Claro que há outras razões, mas esta foi uma que me pareceu decisiva.


O Pastor escreveu:Mas como o caso holandês do post anterior é exatamente igual ao brasileiro??

No Brasil sucedeu o seguinte. No inicio dos anos 70, junto com o milagre econômico, a qualidade de vida de negros e pardos foi pouco a pouco melhorando. Se antes uma criança negra no máximo ia ao colégio pra se alfabetizar e olhe lá, a partir daquela época, com a melhoria de vida, começaram a perceber que poderiam ir um pouco além. Na medida em que essa população começou a fazer peso nas escolas públicas, pouco a pouco os brancos brasileiros começaram a ter os mesmo dilemas que os brancos holandeses tiveram em 2006.

Os pais começaram a associar a presença negra nas escolas como algo negativo e foram pouco a pouco tirando seus filhos dali. Os de classe média alta, rapidamente foram para os colégios particulares ou para escolas públicas que se situavam em bairros onde haviam poucos ou nenhum negro. O Estado, percebendo essa debandada, foi pouco a pouco diminuindo os investimentos, o que fez com a escola publica fosse perdendo massa crítica que incluiu a saída dos melhores professores. Soma-se a isso, o “interesse” imenso do regime militar em investir na educação. Está criado o ciclo que foi pouco a pouco asfixiando a escola pública de base. Percebam que o mesmo não ocorreu com a escola pública superior e que por coincidência, possui um perfil racial branco, homogêneo.


Claro que essa depauperação não se deu do dia pra noite. Eu estudei toda minha vida em escola pública, nos anos 80, e a minha escola era vizinha a uma grande favela. No entanto, a qualidade daquela escola ainda era muito boa. Me deu total condições de entrar em universidade pública sem a necessidade de cursinhos suplementares. E olha que eu nunca fui um aluno brilhante. Na minha época, quem ia pras escolas particulares era porque não conseguia passar na pública, que dava “bomba” e ainda era muito difícil. As particulares, com exceção das grandes, eram sinônimos de malandragem e “passar sem estudar”. Quando eu estava finalizando o antigo 2º grau, já no primeiro ano dos anos 90, era claro a decadência do ensino. Alguns anos depois, soube até de casos de tiroteio naquela escola.

Logo, um dos motivo do esvaziamento das escolas públicas brasileiras se deu, pelo racismo. Ou o medo de convívio dos brancos da elite (leia-se classe média média e alta) com os não-brancos. Hoje, ela é freqüentada por brancos pobres, negros e pardos que se pudessem tirariam seus filhos dali imediatamente e não sem razão. Claro que há outras razões, mas esta foi uma que me pareceu decisiva.


insigne Pastor:
lembre-se que a educação brasileira do passado era extremamente bacharelesca e elitista, então ter saudade disso é puro passadismo
tem um questionamento que eu postei num outro post e que até agora nenhum professor e forista se dignou a responder (sei lá, como dizem os petistas eu sou "mal informado" e não me interesso na formação dos "cidadãos de amanhã"), então eu tomo a liberdade de transcrever a pergunta "ipsis litteris"
Dr. Zero escreveu:algum forista professor pode explicar para nós porque essa fixação por Piaget?
no que isso melhora os resultados da educação?
nunca mais apareceu nada de novo depois desse cara (que morreu já faz mais de 30 anos e com mais de 80 anos de idade)?
existe algo no horizonte dos educadores além de piaget e marx?
o que os professores finlandeses e coreanos tem que os nossos não tem (não vale citar recursos porque a Coreia do Sul até as décadas de 70/80 estava numa miséria maior que a nossa)?
P.S. 1 eu posso ser bem mais novo que vc, mas eu também sei arranhar uns latins
P.S. 2 formar o cidadão não adianta nada se ele continuar analfabeto, incapaz de interpretar um texto simples e de fazer pelo menos as 4 operações — e olha que hoje em dia isso não garante mais nada em termos de emprego, tem que ter MBA, pós doutorado em não sei o quê, fluência em não sei quantas línguas (incluindo-se aí finlandês, coreano ou cantonês), cursos e intercâmbios no exterior e o escambau... se vc não quiser ter nada disso, vc pode ficar ali, naquela baia de TMK falando o dia inteiro com gente que quer te ver longe
P.S. 3 todos sabem que o Dr. Zero é um doente mental, fudido, gordo, cegueta, branquelo, e que só o Tricampeão o leva a sério

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#188 Mensagem por Tricampeão » 20 Mai 2011, 00:49

Nazrudin escreveu:Eu não sei como é ai no Centrão, mas aqui no sul é assim:

Lá vem o negrão cheio de paixão.... ticatá-ticatá-ticatá... vestigo com um terno bem gra-fino, discriminação ele não passa não! Chegou no carrão,com a linda morena... ticatá-ticatá-ticatá... no posto é chamado de DOUTOR... no restaurante granfa recebido com champã! Tchan!

Agora se um branquelo (do zóinho azuli, quase um nortista du norti) pé rapado e do pé rachado.... lá de POOOOOMErôoode vier com os trajes da roça pedindo para usar o banheiro do restaurante bacana... questões fenotipicas sem dúvida.....
Aqui, no Império do Centro, onde a maioria da população é de negros e pardos, o negão seria discriminado, sim. E com roupa de bacana, pior ainda. Porque o medo dos branquelos é que os negros e pardos acordem e tomem o poder. Se o cara for coitadinho, ainda passa. Se fizer sucesso, vai encarar muita pressão. Se for um organizador/conscientizador dos companheiros, ainda mais.
O Pelé, por exemplo, sempre foi discriminado. Não nas lojas e nos postos de gasolina, é claro. Mas sempre que abria a boca pra falar, a mídia venal caía de pau.
O Joaquim Barbosa, como o Pastor exemplificou, é discriminado. Não nas lojas e nos postos de gasolina, é claro. Mas se começar a defender a Justiça Social, a mídia venoliberal vai pedir a cabeça dele.
Ser discriminado não quer dizer sempre ser barrado na entrada. Pode significar ser tratado de forma diferente, uma vez dentro. O Pastor já se referiu a isso.

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Re:

#189 Mensagem por PAULOSTORY » 20 Mai 2011, 01:14

Tricampeão escreveu:
Nazrudin escreveu:Eu não sei como é ai no Centrão, mas aqui no sul é assim:

Lá vem o negrão cheio de paixão.... ticatá-ticatá-ticatá... vestigo com um terno bem gra-fino, discriminação ele não passa não! Chegou no carrão,com a linda morena... ticatá-ticatá-ticatá... no posto é chamado de DOUTOR... no restaurante granfa recebido com champã! Tchan!

Agora se um branquelo (do zóinho azuli, quase um nortista du norti) pé rapado e do pé rachado.... lá de POOOOOMErôoode vier com os trajes da roça pedindo para usar o banheiro do restaurante bacana... questões fenotipicas sem dúvida.....
Aqui, no Império do Centro, onde a maioria da população é de negros e pardos, o negão seria discriminado, sim. E com roupa de bacana, pior ainda. Porque o medo dos branquelos é que os negros e pardos acordem e tomem o poder. Se o cara for coitadinho, ainda passa. Se fizer sucesso, vai encarar muita pressão. Se for um organizador/conscientizador dos companheiros, ainda mais.
O Pelé, por exemplo, sempre foi discriminado. Não nas lojas e nos postos de gasolina, é claro. Mas sempre que abria a boca pra falar, a mídia venal caía de pau.
O Joaquim Barbosa, como o Pastor exemplificou, é discriminado. Não nas lojas e nos postos de gasolina, é claro. Mas se começar a defender a Justiça Social, a mídia venoliberal vai pedir a cabeça dele.
Ser discriminado não quer dizer sempre ser barrado na entrada. Pode significar ser tratado de forma diferente, uma vez dentro. O Pastor já se referiu a isso.
CONCORDO PLENAMENTE!!
EXISTE O PRECONCEITO RACIAL E O PRECONCEITO SOCIAL, PORÉM NO CASO DO PRECONCEITO RACIAL, MESMO QUE O ALVO DA DISCRIMINAÇÃO, TENHA UMA CONDIÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL ACIMA DA MÉDIA, ISSO NÃO EXTINGUIRÁ O PRECONCEITO RACIAL SOBRE O MESMO.
O NEGRO QUE ANDA DE CARRÃO E VAI NO FASANO, VAI SER SEMPRE OLHADO PELOS OUTROS CLIENTES E TRATADO PELOS FUNCIONÁRIOS DE UMA MANEIRA DIFERENTE.
SABEM POR QUÊ?
PORQUE ELE VAI SER TAXADO COMO UM "NEGÃO BLASÉ", O QUE VAI GERAR UM PRECONCEITO AINDA MAIOR!
VAI GERAR NO INCONSCIÊNTE COLETIVO (PRECONCEITUOSO) : "AQUI NÃO É O LUGAR DESSE CARA" - CONCEITO EXATAMENTE IGUAL AO DO APARTHEID SUL AFRICANO:
BRANCOS AQUI , PRETOS PARA LÁ!!

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Re: 20/11 - Dia da Consciência Negra

#190 Mensagem por O Pastor » 20 Mai 2011, 19:28

Dr. Zero escreveu: insigne Pastor:
lembre-se que a educação brasileira do passado era extremamente bacharelesca e elitista, então ter saudade disso é puro passadismo
tem um questionamento que eu postei num outro post e que até agora nenhum professor e forista se dignou a responder (sei lá, como dizem os petistas eu sou "mal informado" e não me interesso na formação dos "cidadãos de amanhã"), então eu tomo a liberdade de transcrever a pergunta "ipsis litteris"

Dr. Zero,

Não, 1000x não.

Eu não quero que a educação pública do Brasil no século XXI seja a mesma de 40 anos atrás. Isto é impraticável, vivemos novos tempos. A educação hoje vai muito além de saber a tabuada de có, ou saber grego, ou latim, ou a localização de Vanatu no mapa, eu sei disso. Eu estou comparando apenas a questão dos investimentos, que antes, relativamente falando, eram muuuuuuito maiores do que hoje. Eu quis mostrar que entre outros fatores, o tradicional ASCO das elites contra o povão, minou as chances de uma escola pública de base eficiente. O tema é um pouco parecido com a saúde pública, embora não saiba dizer se os hospitais públicos são uma merda porque a maioria dos pacientes são negros e mestiços. O que sei é que houve uma preferência da sociedade em pagar o PARTICULAR do que exigir do governo um melhor serviço. O governo, que nada mais nada menos representa a vontade de suas elites, não de seu povo, simplesmente deixou de investir em educação e saúde. O povo, é óbvio que quer uma melhor educação e saúde, acontece que sua voz é sufocada sempre que vai pro palanque e a mídia reproduz apenas aquilo que as elites querem ouvir. Como diz o camarada Tricampeão, o povo só é ouvido quando vai pro pau, pra ruptura, mesmo assim é taxado como BADERNEIRO. Ou, então, quando suas tripas estão saindo pra fora na fila do hospital, ai, aparecem os representantes do poder querendo curar tudo com band-aid. Depois tudo se esquece...

A educação brasileira precisa não apenas de mais investimentos, como precisa se modernizar, se adaptar a nossa atual conjuntura. O Brasil finalmente tem uma grande chance de ser potência mundial, vivemos um momento histórico único, eu não tenho dúvida, mas pra isso precisaremos de uma educação mais adequada.

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Re: 20/11 - Dia da Consciência Negra

#191 Mensagem por Dr. Zero » 20 Mai 2011, 20:45

O Pastor escreveu:
Dr. Zero escreveu: insigne Pastor:
lembre-se que a educação brasileira do passado era extremamente bacharelesca e elitista, então ter saudade disso é puro passadismo
tem um questionamento que eu postei num outro post e que até agora nenhum professor e forista se dignou a responder (sei lá, como dizem os petistas eu sou "mal informado" e não me interesso na formação dos "cidadãos de amanhã"), então eu tomo a liberdade de transcrever a pergunta "ipsis litteris"

Dr. Zero,

Não, 1000x não.

Eu não quero que a educação pública do Brasil no século XXI seja a mesma de 40 anos atrás. Isto é impraticável, vivemos novos tempos. A educação hoje vai muito além de saber a tabuada de có, ou saber grego, ou latim, ou a localização de Vanatu no mapa, eu sei disso. Eu estou comparando apenas a questão dos investimentos, que antes, relativamente falando, eram muuuuuuito maiores do que hoje. Eu quis mostrar que entre outros fatores, o tradicional ASCO das elites contra o povão, minou as chances de uma escola pública de base eficiente. O tema é um pouco parecido com a saúde pública, embora não saiba dizer se os hospitais públicos são uma merda porque a maioria dos pacientes são negros e mestiços. O que sei é que houve uma preferência da sociedade em pagar o PARTICULAR do que exigir do governo um melhor serviço. O governo, que nada mais nada menos representa a vontade de suas elites, não de seu povo, simplesmente deixou de investir em educação e saúde. O povo, é óbvio que quer uma melhor educação e saúde, acontece que sua voz é sufocada sempre que vai pro palanque e a mídia reproduz apenas aquilo que as elites querem ouvir. Como diz o camarada Tricampeão, o povo só é ouvido quando vai pro pau, pra ruptura, mesmo assim é taxado como BADERNEIRO. Ou, então, quando suas tripas estão saindo pra fora na fila do hospital, ai, aparecem os representantes do poder querendo curar tudo com band-aid. Depois tudo se esquece...

A educação brasileira precisa não apenas de mais investimentos, como precisa se modernizar, se adaptar a nossa atual conjuntura. O Brasil finalmente tem uma grande chance de ser potência mundial, vivemos um momento histórico único, eu não tenho dúvida, mas pra isso precisaremos de uma educação mais adequada.


como foi bem lembrado por sua pessoa, a "zelite" brasileira odeia pobre (tudo bem, as de outros países também, mas a daqui seria talvez um caso exacerbado pelo fato de sermos um país "emergente", não creio que as elites de países como o Gabão, Vanuatu, Paquistão ou Belize sejam melhores nesse sentido)

posso dizer que o caso dos hospitais públicos apenas exprime esse asco, afinal antigamente nem isso havia, era tudo Santa Casa (que são entidades particulares sem fins lucrativos e que atualmente estão fechando uma por uma à míngua de recursos), e hoje temos os hospitais públicos onde o pessoal finge que recebe salário e vai trabalhar porque senão vai pro tronco — eu sei que no caso dos médicos tem uns "esquemas", mas se eles pensam que estão acima da merda estão muito enganados

vc deve ter visto recentemente na mídia a churrascada dos "diferenciados" na frente do Shopping Higienópolis, afinal se um grupo pequeno consegue tirar o metrô de lá então os "diferenciados" são muito bons enquanto "sabem o seu lugar", quando esses emergentes querem disputar lugar com essas famílias quatrocentonas, aí é briga

e educação, no caso da "zelite" era um um instrumento para se diferenciar da plebe "diferenciada", aprender grego e francês era mais importante que aprender Matemática Financeira, por exemplo, afinal esse pessoal nunca iria precisar pegar no batente — isso era tarefa dos "diferenciados", grupo ao qual se agregaram imigrantes das mais diversas origens que a duras penas acabaram por ascender socialmente (alguns com maior ou menor facilidade, outros na base do "rolo") e incorporando o ideário da classe dominante de ter filho com canudo na mão e "funcionário público" ("servidor público" conforme alguns foristas)

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Re: 20/11 - Dia da Consciência Negra

#192 Mensagem por Dr. Zero » 20 Mai 2011, 20:51

e professor não faz TD, gente? ou minhas perguntas são por demais ofensivas?

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#193 Mensagem por Tricampeão » 21 Mai 2011, 10:28

Mais sobre a discriminação no Inferno do Norte:
http://www.wcnc.com/news/local/Muslim-l ... 10644.html
Muslim men say they were taken off flight to Charlotte
by BETH SHAYNE / NewsChannel 36
Posted on May 6, 2011 at 5:12 PM
Updated Sunday, May 8 at 9:46 AM

CHARLOTTE, N.C. -- Two Muslim religious leaders who were removed from a commercial airliner in Memphis say they were told it was because the pilot refused to fly with them aboard.

Masudur Rahman and Mohamed Zaghloul were supposed to travel on an 8:30 a.m. Delta flight, run by a subsidiary, from Memphis, Tenn. to Charlotte. They were traveling to attend a conference of the North American Imam Federation that, ironically, intends to address prejudice against Muslims.

Rahman, who is from India, and Zaghloul, Egyptian-born, were both dressed in traditional long shirts and have beards in keeping with Muslim tradition. Rahman said he and Zaghloul were screened in the security line and again at the gate Friday before they were allowed to board their Delta Connection flight to Charlotte.

After the plane started taxiing, he said the pilot announced the flight was headed back to the gate. Both men were removed from the plane, and screened again.

"We were very cooperative," he said Friday. "I say, 'It is okay.' They checked our luggage. They checked our everything."

"Every person--not only me--every person, should allow to check his luggage," Rahman said. "We are living in America. We want the security of America."

After that security check, he said a Delta employee at the gate informed him that the pilot of the flight would not allow him on board. He says the employees in the airport were very apologetic--even angry--and said they tried repeatedly to convince the pilot that he was wrong.

Rahman said he was even told that the gate agents asked the passengers if they felt uncomfortable about the two Muslim men, and reported back to the pilot that the people on board the plane were not concerned.

Transportation Security Administration spokesman John Allen in Atlanta confirmed the incident Friday and said it was not that agency's decision to deny boarding.

A Delta Air Lines spokeswoman said the flight was operated by Atlantic Southeast Airlines, also based in Atlanta.

ASA released this statement:

“Atlantic Southeast Airlines flight 5452 from Memphis to Charlotte returned to the gate to allow for additional screening of a passenger and the passenger's companion. We take security and safety very seriously, and the event is currently under investigation. Compensation and re-accommodation on the next available flight were immediately offered to the passenger and the passenger's travel companion. We sincerely apologize for any inconvenience that this may have caused.”

Back in Charlotte, Rahman, a professor at University of Memphis, compared the incident to the story of Rosa Parks.

"That history I found today in that plane, and it shouldn’t happen with any other person," he said.

Charlotte-based attorney Mo Idlibi, who accompanied the men once they arrived in Charlotte, said his clients' would like to see more training for pilots about this sensitive issue. Idlibi continues to investigate the option of a lawsuit.

Idlibi said there is precedent on this issue. U.S. Airways recently settled a lawsuit filed by six imams who were removed from a plane in Minneapolis in 2006. Those men had been traveling to the North American Imam Federation conference as well.

(Note: Comments have been removed from this story due to excessive abuse reports.)
Não são apenas os negros que são discriminados no Inferno do Norte. E não é só preconceito racial que existe, mas também cultural. E tambem o chamado preconceito social, pois se os caras estivessem com roupa de emir, óculos escuros e um Rolex em cada braço, não teriam sido retirados do avião.

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#194 Mensagem por Tricampeão » 21 Mai 2011, 20:56

Um pouco sobre a luta dos negros no Inferno do Norte:
http://www.youtube.com/watch?v=AI4U-q2o2cg
Prof. Angela Davis, demitida da Universidade da Califórnia devido à pressão do maior filho da puta de todos os tempos, Ronald Cuzão Racista com Complexo de Rambo Reagan, por fazer parte do Partido Comunista Gringo e dos Black Panthers.
http://www.youtube.com/watch?v=Yp9StQhW ... re=related
http://www.youtube.com/watch?v=v8M8f9x4 ... re=related

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Re: 20/11 - Dia da Consciência Negra

#195 Mensagem por O Pastor » 21 Mai 2011, 23:17

[ external image ]

Abaixo reproduzi, uma iNteressante entrevista com Angela Davis, quando de sua vinda ao Brasil, em 2009.


http://www.atardeonline.com.br/vestibul ... id=1204654
Angela Davis: “Quando Obama visitar o Brasil, vai aprender algumas lições”

Cleidiana Ramos

Aos 65 anos, Angela Davis continua a mostrar por que se tornou um ícone do movimento negro norte-americano nos anos 1970. Bastam minutos de conversa com a hoje pesquisadora e professora da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz (EUA), para perceber a facilidade em expor, numa linguagem clara, linhas de raciocínio complexo, fruto do aprofundamento que marca sua produção acadêmica. Um exemplo é quando explica a visão que tem do feminismo, para além do embate de gênero. A jovem ativista de outrora continua também a fascinar a juventude. Este segmento foi o público mais constante nas palestras que ela realizou, na última semana, em Salvador, como convidada da ‘XII Edição da Fábrica de Ideias’, programa anual sediado no Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia (Ceao/Ufba ). Coordenada pela doutora em sociologia Ângela Figueiredo e pelo doutor em antropologia Lívio Sansone, a Fábrica oferece treinamento para jovens pesquisadores em estudos étnicos. Angela Davis, inclusive, discorda de quem costuma apontar a juventude do mundo atual como apática, do ponto de vista político. Para ela, cada geração tem sua forma própria de atuação. “A minha postura é a de aprender com os jovens, porque sempre são eles que provocam as mudanças radicais”, afirma. Nesta entrevista concedida à repórter Cleidiana Ramos, com o auxílio da tradutora Raquel Luciana de Souza, Angela Davis falou, dentre outros assuntos, sobre as lições que o governo brasileiro pode oferecer a Barack Obama, em relação a uma política de maior aproximação com a África.

A TARDE | É a segunda vez que a senhora vem à Bahia. O que notou sobre a questão racial e de gênero aqui?

Angela Davis | O termo feminismo é ainda bastante contestado, como também é contestado nos EUA. Mas, eu descobri que há mulheres ativistas que estão fazendo um trabalho bastante semelhante. Então, nesse sentido, não faz diferença como uma pessoa se identifica. Tem mulheres que estão trabalhando nessas questões de violência contra a mulher, assistindo vítimas dessa violência e, ao mesmo tempo, pensando em formas de se erradicar um fenômeno que é uma pandemia por todo o mundo. São questões que eu acredito que perpassam as fronteiras nacionais. Acredito que ativistas nos EUA podem aprender muito com ativistas aqui do Brasil.

AT | Ao que a Sra. atribui a resistência ao termo feminismo?

AD | Há essa resistência ao termo feminismo porque pressupõe-se que se adotem posições vazias. Há posições antimasculinas, anti-homem. Quando feministas brancas formularam pela primeira vez essa noção de direitos das mulheres, elas estavam somente prestando atenção à questão de gênero e não prestavam atenção à questão de raça e de classe. E nesse processo elas racializaram gênero como branco e colocaram uma questão de classe como uma classe burguesa, mas as feministas negras argumentaram que você não pode considerar gênero sem considerar também a questão de raça, a questão de classe e a questão de sexualidade. Então isso significa que as mulheres têm de se comprometer a combater o racismo e lutar tanto em prol de mulheres como de homens.

AT | É uma visão bem diferente daquela que a maioria das pessoas tem sobre feminismo.

AD | O tipo de feminismo que eu abraço não é um feminismo divisivo. É um feminismo que busca a integração. Mas, como disse anteriormente, estou mais preocupada com o trabalho que as pessoas fazem e o resultado que alcançam do que se estas pessoas se denominam feministas ou não. Muito do trabalho histórico tem descoberto tradições e legados feministas de mulheres que nunca se denominaram feministas, mas nós as localizamos dentro de uma tradição feminista. Eu já vi trabalhos que falam sobre Lélia Gonzalez no Brasil denominando-a feminista e eu não sei se ela se considerava feminista. Tem também mulheres contemporâneas como Benedita da Silva. Eu não sei se ela se identifica como feminista.

AT | A senhora pensa em escrever algo sobre as suas impressões em relação à Bahia?

AD | Eu acho que sim. Mas eu teria de voltar aqui e passar um pouco mais de tempo fazendo uma pesquisa substantiva. Estou bastante impressionada com o ativismo das mulheres em Salvador e, em geral, aqui é um lugar maravilhoso.

AT | A Cidade das Mulheres, de Ruth Landes, trabalho realizado na década de 30, trata do poder feminino no candomblé da Bahia.

AD | Aqui no Brasil, o poder que as mulheres exercem é uma base muito poderosa para o poder feminista no Brasil. Eu escrevi um livro, Legados do Blues, e o meu argumento é que as mulheres do blues, durante os anos 20, ajudaram a forjar um feminismo da classe trabalhadora.

AT | Os EUA elegeram pela primeira vez um presidente negro. Passado esse primeiro semestre do governo Obama, como a senhora avalia as suas ações?

AD | Ele fez coisas boas e fez algumas coisas ruins. A minha posição em relação a Obama nunca foi de pressupor que um homem sozinho, independentemente de sua raça ou classe, pudesse salvar o país e o mundo. O que foi bastante entusiasmante em relação à sua eleição foi o que nós aprendemos sobre o país. O fato de que tantas pessoas estavam predispostas a votar nele nos diz que houve progresso. É claro que não atrapalhou o fato de ele estar disputando a eleição com o partido de George Bush. A segunda questão é que Obama apresentou-se como alguém conectado a uma tradição de luta negra. Ele se identifica com o movimento dos direitos civis, com figuras como Martin Luther King. Um homem negro que tivesse uma política conservadora não teria feito a diferença em termos de ponderarmos sobre onde estamos agora. A terceira questão e, provavelmente, a mais importante, é que Obama foi eleito porque os jovens criaram esse movimento em massa.

AT | Este é um aspecto bem interessante sobre a vitória de Obama.

AD | A eleição de Obama nos transmitiu o que estava acontecendo em termos de organização de uma juventude com um movimento de base. Eram jovens negros, brancos, latinos, indígenas. A minha esperança está na capacidade de esse movimento ir na direção correta. Por outro lado, Obama não tem tomado bons posicionamentos, como em relação à questão da manutenção das tropas militares no Afeganistão.

AT | O governo brasileiro adotou uma política de aproximação com os países africanos. Há muita esperança de que o governo Obama possa fazer o mesmo. Esta esperança, em sua opinião, pode se confirmar?

AD | Obama tomou uma boa decisão ao visitar à África. Ele visitou Gana. Isso prova que sua visita não era simplesmente em função das suas origens, mas também para discutir problemas sérios. Em, termos de relação entre os EUA e a África, principalmente na questão histórica, foi muito importante a visita de Obama aos fortes de Gana, da Costa do Cabo e à porta do não-retorno. Foi muito importante para os EUA verem isso. Os afro-americanos já conhecem esses lugares. Eles viajam ao Senegal, a Costa do Cabo, mas esta foi a primeira vez que essa conexão histórica entre EUA e a África foi evidenciada. Isso estimulou uma discussão sobre o papel da escravidão. Logo depois, por exemplo, houve reportagens sobre a plantação onde um bisavô de Michelle Obama foi escravo.

AT | As questões históricas ganharam destaque.

AD | Estas questões históricas são importantes. Mas o que eu considero ser muito difícil para Obama fazer é reconhecer os danos horrendos que o capitalismo causou à África. As políticas de ajustes estruturais do FMI e do Banco Mundial fizeram com que vários países africanos desviassem recursos de serviços sociais para setores lucrativos da economia. Acredito que isso é que tem de ser abordado. Eu sei que o Brasil tem uma posição mais progressista em relação à África. Então, provavelmente, quando Obama visitar o Brasil ele vai poder aprender algumas lições. Quando isso acontecer, estaremos extremamente felizes porque nós ficamos muito envergonhados quando o George Bush veio e disse: “Eu não sabia que havia negros no Brasil”.

AT | O que pensa sobre as ações afirmativas no Brasil?

AD | Não tenho acompanhado esta discussão rigorosamente. Mas, na minha primeira visita ao Brasil, em 1997, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, as pessoas estavam apenas começando a reconhecer que o Brasil não era uma democracia racial. As ações afirmativas ainda estão sendo muito atacadas nos EUA, mas têm sido responsáveis pela integração de várias instituições em lugares, por exemplo, como a África do Sul. Eu sei que aqui no Brasil elas acontecem no que diz respeito às universidades. As ações afirmativas são um instrumento muito importante. O discurso nos EUA modificou-se. No lugar de se falar sobre ações afirmativas fala-se agora sobre diversidade, o que é problemático. A administração de George Bush foi a administração mais diversificada na história dos EUA antes da administração de Obama. Mas ele colocou em seu governo negros e latinos conservadores. Essa diversidade tem sido definida como a diferença que não faz a diferença.

AT | Quando foi implantada a política de ações afirmativas nos EUA?

AD | Em 1977, tivemos o primeiro desafio jurídico às ações afirmativas. Isso aconteceu num caso levantado por um homem branco que não foi admitido para a Universidade da Califórnia e desde então há o caso de vários outros processos judiciais impetrados por brancos que argumentam ser vítimas de um racismo às avessas.

AT | No Brasil, o STF prepara-se para julgar a constitucionalidade das cotas a partir de uma provocação do DEM.

AD | A meu ver, deve-se desafiar pressuposições de que o caso trata apenas de homens brancos como indivíduos e mulheres negras como indivíduos que estão ali lutando por um emprego. As ações afirmativas nunca foram concebidas para ajudar indivíduos apesar do fato de que indivíduos se beneficiam das mesmas. A ideia é soerguer uma comunidade inteira. Trata-se de uma população que foi objeto de discriminação. Tanto nos EUA como no Brasil nós ainda vivemos com o sedimentos da escravatura. A escravidão não é somente algo que existe no passado. Habita o nosso mundo hoje em dia, com toda a pobreza, o analfabetismo. As ações afirmativas são um passo inicial em termos de se abordarem questões de escravatura, colonização. Esquece-se tudo isso. Parece que existem só duas pessoas: um homem branco e um homem negro, ou um homem branco e uma mulher negra.

AT | A senhora vem de uma geração muito politizada. Como analisa a ação política da juventude do mundo atual?

AD | Eu estou muito entusiasmada. Não sou o tipo de pessoa que gosta de deitar nos louros da minha geração. Eu sei que cada geração abre uma nova trilha. Frequentemente pessoas que se engajaram em movimentos pressupõem que cada geração tem de fazer a mesma coisa da mesma forma. A minha postura é a de aprender com os jovens, porque sempre são eles que provocam as mudanças radicais. Grande parte do meu ativismo é contra o complexo industrial carcerário. Este é um movimento cuja maioria é constituída por jovens que utilizam métodos diferentes. Eles utilizam representações culturalistas, como música, e usam novas formas de comunicação, como facebook. Estou aprendendo muito com isso.

AT | É um movimento interessante, então.

AD | Estou feliz que eles tenham feito isso, porque se transforma o terreno para que se possa desenvolver novas ideias, expandindo o nosso conhecimento sobre as possibilidades para a liberdade. Por isso eu acho tão importante prestar atenção nos jovens. Eu não acredito nessas pessoas que dizem que os jovens são apáticos que eles não estão fazendo nada. Nós precisamos acompanhar este movimento, de maneira que estas noções de liberdade se expandam e se tornem mais abrangentes porque eu não acredito que chegaremos num ponto no qual possamos dizer “isto é liberdade, nós chegamos ao topo da montanha e podemos parar de lutar”. Acho que será uma luta infinita e as vitórias que conquistamos nos permite imaginar novas liberdades. O discurso de Martin Luther King, conhecido como Eu tenho um sonho, fala sobre chegar ao topo da montanha. Ele nunca diz o que se vê ao chegar ao topo da montanha. Acredito então que cada geração vai criar novas imaginações do significado de ser livre.

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