Nazrudin escreveu:O Pastor levantou um assunto que é interessantíssimo. Eu não sabia desse dado que a Argentina chegou a ter tanto quanto o Brasil, mas havia sim uma população negra considerável... Agora a forma do extermínio e eliminação do território argentino.... um hermano me contou como foi.... mas vou deixar o Pastor contar para vcs.
Hoje em dia não é tão difícil saber sobre isso, como já foi no passado. Basta digitar no google “negros na Argentina”, que aparece muita informação interessante. Os nossos hermanos já tiveram, proporcionalmente falando, tantos negros quanto nós. A Argentina foi um país escravocrata, sim senhor, e em algumas províncias, havia até mais negros do que brancos. Muito distante daquele mito que muitos acreditavam/acreditam que eles foram uma linda colônia européia, pacífica e bonitinha, de enraizamento.
Pra quem acha que foram os imigrantes italianos que inventaram o tango e deram a ginga portenha no futebol, ou não conseguem entender as feições não-européias de jogadores como Verón, Tevez e Maradona, que leiam o texto abaixo. Ele é indicado principalmente para os baba-ovo de argentino. E no Brasil, eu sei que tem muitos.
A marginalização do povo negro na Argentina.
Em 1810 um terço dos 44 mil habitantes de Buenos Aires eram negros escravos. Menos de 70 anos depois só 2% da população tinham origem africana. Os outros foram mortos direta ou indiretamente pela ação do próprio governo argentino.
A Argentina enviou seus negros para todas as guerras possíveis. A maior delas foi a do Paraguai (na qual Argentina, Brasil e Uruguai se uniram contra o ditador Solano Lopez). Mas houve outras. Algumas bem convenientes para um governo que queria o “branqueamento” da população. Em uma delas, negros foram colocados para brigar com índios. Duas minorias se viram forçadas a se exterminarem mutuamente.
As populações negras sobreviventes se amontoaram em bairros paupérrimos de Buenos Aires. Aos negros não era dado ou permitido escola, emprego, saúde ou cidadania. Viviam abandonados, como bichos. Uma epidemia de febre amarela, agravada por uma onda de tifo e outras doenças próprias de lugares infectos, tomou conta do gueto. Na verdade, a febre amarela também se espalhou para os bairros dos brancos pobres, mas seus habitantes foram levados para um outro lugar, mais seguro, enquanto dos bairros negros, cercados pela polícia, ninguém podia entrar ou sair. O resultado foi a morte de quase todos os negros, nas piores condições que um ser humano pode morrer.
Para dizimar 1.500 índios na Patagônia (entre homens, mulheres, velhos e crianças), o governo argentino tinha usado o expediente de “doar” a eles cobertores e mantas contaminados com o vírus da febre amarela e outras doenças. Historiadores defendem que o mesmo processo foi usado para acabar com os negros de Buenos Aires.
Durante a Segunda Guerra Mundial, não foi apenas o regime ditatorial que aproximou Juan Domingo Perón de Adolf Hitler. Foi, também, a política de segregação racial, que defendia a tese de que os arianos são superiores às outras raças. Na verdade, esta é uma das grandes falácias da humanidade. Os egípcios, que eram negróides, já conheciam a Astronomia enquanto os germanos, que deram origem aos alemães, ainda comiam carne crua. Todos os homens, do indígena brasileiro, africano ou australiano, ao europeu loiro, de olhos azuis, têm, exatamente, o mesmo DNA. Perón tanto se identificava com as idéias de Hitler, que abriu as portas da Argentina para 10 mil oficiais nazistas que fugiam das tropas aliadas. Ainda hoje se calcula que 20% da população argentina é adepta do neonazismo.
É muito ingênuo imaginar que as demonstrações de racismo em estádios de futebol da Argentina são inofensivas e só ficam ali. Elas expressam o pensamento da maioria do povo argentino. O ex-presidente Carlos Menem chegou a dizer que “negros são um problema do Brasil, a Argentina não tem esse problema”. Um deputado, em plena tribuna, alardeou que aquela casa era de gente decente, pois não tinha “índios ou negros”.
A Argentina tem negros, mas nega isso.
A Argentina é tão racista que nega uma parte de sua população. Poucos sabem, pois até o governo faz questão de dizer que o país não tem negros, mas isso não corresponde à verdade. Pesquisas realizadas por entidades humanitárias mostram que de 6 a 7% da população do País é de pessoas de origem negra. Somados aos índios, 15% da população argentina não é da raça branca.
O governo se empenha tanto em esconder por baixo do tapete esses 15% de negros e índios, que os últimos censos demográficos omitem a designação de raça. Só com o esforço de entidades internacionais de direitos humanos é que o item “raça” aparecerá nos censos da população argentina. Como não existem oficialmente, esses grupos minoritários são tratados como refugiados em seu próprio país, sem direito a saúde, emprego, nada.
Isso tem causado cenas bizarras, como da senhora que foi detida por falsidade ideológica. Ela ia viajar para fora do País e apresentou um documento provando que era argentina. O funcionário da alfândega reagiu, indignado: “Como pode ser argentina, se é negra?”. Contaram tantas vezes a mentira, que todos acreditam nela.
Tevez e Maradona, um negro e um índio .
Não é preciso ser um especialista para olhar com atenção o jogador Carlos Tevez e perceber nele fortes traços negróides. Ou você diria que Tevez é descendente de alemães ou ingleses? O rapaz veio da ralé argentina, uma ralé que – pela tolerância natural gerada pela pobreza - aceitava e aceita brancos, negros e índios sem frescuras ou intelectualismos.
Assim como Tevez tem origem negra, só um cego não percebe no corpo e nos traços de Maradona (pernas curtas, troncudinho, cara redonda, olhos um tanto amendoados) uma inegável origem indígena.
Da mesma forma que dois grandes ídolos do futebol argentino são frutos das minorias renegadas do País, a contribuição cultural mais importante dos argentinos à humanidade também não foi dada pela raça branca. O venerável tango veio da milonga, que era a música criada e cantada pelos negros dos bairros pobres de Buenos Aires.
Por tudo isso é que não se pode esperar uma atitude mais tolerante, democrática e inteligente dos argentinos com relação ao racismo. Num país que anda na contramão da história, que prefere a segregação à fraternidade, negros serão mal recebidos por muito tempo ainda.
Em um continente onde brancos, negros e índios se misturam e, depois de tantas tragédias, tentam acertar as diferenças para um futuro de paz, justiça e prosperidade, ninguém merece suportar o racismo de um país amargurado, que ainda não caiu na sua dura realidade.
http://www.culturanegra.com.br/argentina.htm