20/11 - Dia da Consciência Negra

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#241 Mensagem por Tricampeão » 24 Jul 2011, 00:37

Compson escreveu:Mas levar a luta mais adiante significa exatamente o quê? Promover uma vingança ou uma punição contra os brancos? Intensificar políticas compensatórias para os negros? Instituir um governo revolucionário clássico?
Não estou em condição de dizer aos irmãos sulafricanos o que devem fazer, pois eles é que conhecem direito seus males e aspirações.
No entanto, sua pergunta pode ser respondida de forma genérica como: significa que os negros devem assumir o poder. O que vão fazer com ele, eles é que devem decidir.
E se a África do Sul ficar uma bosta, segundo as métricas distorcidas e ideologizadas dos economistas venoliberais, isso não constituirá problema algum, se ela estiver seguindo o rumo que o povão, soberano, tiver escolhido.
Compson escreveu:Quando falei que o Tutu não me parece um lunático quis dizer simplesmente que a comparação com os bolcheviques não é pertinente, pois as finalidades dos movimentos eram diferentes. Pode se que minha percepção esteja influenciada pela mídia venal, mas Tutu me pareceu um cara com ideias radicais, mas não um sujeito disposto a pegar em armas para eliminar um classe e cumprir a missão histórica do proletariado.
É claro que o Tutu tem suas limitações pois, afinal de contas, não passa de um membro da seita desprezível dos cristãos.
Mas, se um general vindo da Namíbia e financiado pelos gringos filhos da puta invadisse o país, com o objetivo de restaurar o regime de Apartheid, pode ser que ele pegasse em armas, sim. As pessoas nem sempre fazem o que prefeririam fazer, e sim escolhem entre as alternativas concretas que se lhes apresentam.

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O Pastor
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Re: 20/11 - Dia da Consciência Negra

#242 Mensagem por O Pastor » 30 Jul 2011, 12:29

Como sempre, o Observatório da IMprensa foi muito feliz ao mostrar mais uma vez o desleixo da iimprensa nacional. No caso, como as revistas EPOCA e ISTOÉ, erraram absurdamente no julgamento dos atos terroristas na NOruega. Nossa imprensa como todos sabem, parece ainda mais falida que a imprensa mundial.

O tema "intolerância", acho que é fundamental pra se entender as raízes do racismo e do ódio. Quem pensa que o Brasil está longe disto, que coloque as barbas de molho...

TERRORISMO NA NORUEGA

http://www.observatoriodaimprensa.com.b ... o-fascismo

A marca registrada do fascismo


Duas das mais importantes revistas semanais brasileiras, Época e IstoÉ, poderiam ter disputado, no fim de semana de 23-24/7, para saber quem foi capaz de errar mais na avaliação dos violentíssimos atos terroristas cometidos na sexta-feira (22/7), na Noruega, por um fascista local.

IstoÉ errou de cabo a rabo: simplesmente atribuiu o atentado à Al Qaeda. Ilustra a reportagem com uma foto de prédios abalados em Oslo e outra de Ayman Al-Zawahiri, sucessor de Osama bin Laden.

A revista, como as demais, apresentou a Noruega como um cenário político idílico. Esse engano se repetiu em todas as mídias. Ou quase. Na noite de terça-feira (26/7), Alberto Dines abriu o programa do Observatório de Imprensa na TV com um comentário que colocou em contexto histórico o ato aparentemente desvairado de Anders Behring Breivik:

“O monstro de Oslo certamente agiu sozinho, mas ele não estava nem está sozinho. Breivik faz parte de uma legião mundial de extrema-direita que não nasceu agora, começou nos anos 20 do século passado e levou a humanidade à mais sangrenta guerra de todos os tempos. A ideologia de Breivik só difere do nazifascismo no acréscimo do ingrediente religioso. De resto, nada a diferencia do rancor hitlerista e fascista. Sua xenofobia é gêmea do Tea Party americano. O antissocialismo que levou Breivik a atacar a sede do governo e massacrar 68 jovens conterrâneos num acampamento de verão é o mesmo que leva a direita americana a travar o orçamento do país com o pretexto de que Barack Obama é socialista. A pacífica Noruega foi invadida em 1940 pelas tropas de Hitler, que lá instalaram um ditador local, chamado Quisling, cujo nome tornou-se sinônimo de colaborador do nazismo. A Segunda Guerra Mundial ainda não acabou.”

Os suspeitos habituais

A Época evitou a imagem de uma Noruega isenta de riscos, mas os atribuiu exclusivamente à hostilidade de fundamentalistas islâmicos devido à participação do país no contingente da Otan que combate o Talibã no Afeganistão e à reprodução, em jornais noruegueses, de charges dinamarquesas que, em 2005, provocaram a ira de religiosos muçulmanos.

No fim da reportagem, mencionou a hipótese de o ataque ter sido promovido pela extrema direita norueguesa, dada a nacionalidade do atirador preso, mas isso não abalou o tom geral do texto, encimado por um subtítulo onde se lia: “Um duplo atentado à [sic] bomba e a tiros, endereçado ao governo norueguês, lembra o Ocidente de que o sinistro legado de Osama bin Laden continua à espreita”.

Presente desenraizado?

Veja esperou para dar as informações corretas, embora não tenha deixado de mencionar a hipótese de uma ação de fundamentalistas islâmicos. O que não saiu a contento foi o cenário norueguês. O clichê usado na capa da revista, “Terror no país da paz”, patenteia granítica ignorância histórica.

Por sinal, a reportagem afirma, logo no início, para criar um mote com o qual “amarra” o texto no final, que Alfred Nobel, antes de morrer, em 1896, estabeleceu que a entrega do prêmio que leva seu nome seria feita na Noruega, porque ela era “um país sem apego ao militarismo e dirigido por uma elite tolerante”.

Ocorre que em 1896 a Noruega não era um país, mas parte da Suécia (desde 1814, após uma dominação pela Dinamarca que remontava a meados do século 16). Tornar-se-ia independente em 1905 e, num plebiscito, escolheria como rei um príncipe dinamarquês. O regime é desde então essencialmente democrático, em molde parlamentarista.

O colaborador norueguês


A Noruega independente é um país pacífico, que ficou fora da Primeira Guerra Mundial e teria repetido essa escolha na Segunda se não tivesse sido invadida por Hitler. A Alemanha importava da Suécia o ferro que era escoado pelo porto norueguês de Narvik e daí pelo Mar do Norte. Hitler adiantou-se aos britânicos, que teriam invadido o país para cortar esse fluxo. O exército da Noruega resistiu dois meses aos alemães até capitular, tempo suficiente para a família real e o governo buscarem refúgio.

Forças antinazistas norueguesas impuseram ao invasor uma resistência nada desprezível, que, juntamente com a possibilidade de ataque dos Aliados, obrigou Hitler a manter no país 300 mil soldados que teriam sido preciosos em outras frentes de batalha.

O Quisling mencionado por Dines no programa de TV, Vidkun Quisling (sobrenome aportuguesado como quisling, sinônimo de quinta-coluna), foi primeiro-ministro entre 1942 e 1945, sob a égide de um “comissário civil” alemão, o nazista Josef Terboven. Das fotos que ilustram este texto (publicadas na Coleção 70º Aniversário da II Guerra Mundial, 1939-1945, vol. 4), uma mostra Quisling durante uma visita a Berlim e outra é de seu julgamento.

Por vontade própria

O que importa aqui não é a narrativa histórica, mas sinalizar para o leitor a força que teve e tem na Noruega, como na Europa inteira, nos Estados Unidos e alhures, a extrema-direita racista, antissemita, xenófoba.

Quisling era um homem da elite norueguesa, filho de conhecido pastor luterano. Foi ministro da Guerra entre 1931 e 1933. Depois, fundou o Nasjonal Samling, agremiação nacionalista que acabaria transformada em partido nazista, com escassos votos (2% nas eleições de 1935), embora tenha chegado a 45 mil filiados sob a ocupação hitlerista. Logo após o desembarque alemão, em abril de 1940, tentou sem êxito formar um governo pró-nazista. Não foi aceito. Só em 1942 conseguiu tornar-se primeiro-ministro.

Essas informações servem para sublinhar que Quisling não foi um colaborador “forçado”, ou alguém que se deixou cooptar em nome do “mal menor”. Era nazista convicto. Uma parte da intelectualidade norueguesa simpatizava com o nazismo – como, de resto, acontecia em todos os países.

O caso mais notório foi o do escritor Knut Hamsun, autor do celebrado romance A Fome e Prêmio Nobel de Literatura em 1920. O cartaz de propaganda nazista reproduzido abaixo mostra a expectativa de entendimento entre nazistas e noruegueses “contra o bolchevismo”.


Punição radical

Quisling, acusado de corrupção, assassinatos e traição, foi julgado, condenado e executado em outubro de 1945. Segundo Tony Judt (Pós-Guerra – Uma História da Europa desde 1945), na Noruega todos os integrantes do Nasjonal Samling (ele dá o número de 55 mil) foram julgados, “além de outros 40 mil indivíduos; 17 mil homens e mulheres receberam penas de detenção e trinta sentenças de morte foram expedidas, das quais 25 levadas a cabo. Em nenhum outro local as proporções [de punição a colaboracionistas pró-nazistas] foram tão elevadas”.

Segundo algumas interpretações, penas punições adotadas podiam ser classificadas como retaliações. Esse rigor era tanto antinazista como anti-alemão. Não funcionou para “sepultar” o radicalismo de direita, como se deu a entender depois da guerra (minha geração cresceu com essa ideia na cabeça, até que, no Brasil, a ditadura militar, com suas indisfarçáveis inclinações fascistas, enterrou ilusões).

Teimosa erva daninha


Giogio Almiranti fundou o Movimento Social Italiano, sucessor do Partido Nacional Fascista, em 1946. Franco, o ditador espanhol, governou de 1939 até morrer, em 1975. O ditador Antônio de Oliveira Salazar morreu em 1970, mas só em 1974 Portugal se viu livre do regime por ele instaurado em 1933.

Em 1999, a revista The Economist publicou um artigo cujo título é expressivo: “Fascismo ressurgente?”. O motivo imediato era a ascensão, na Áustria – país que teve proporcionalmente o maior número de nazistas, mas não os puniu em escala comparável à da Noruega e mesmo às de outros países ocupados por Hitler −, de Jörg Haider e seu Partido da Liberdade. Haider, que morreu num acidente automobilístico em 2008, propagandeava sua admiração por algumas políticas de Hitler.

Em relação à Noruega, a The Economist assinalava o crescimento do Partido do Progresso, de Carl Hagen (cerca de 15% dos votos nas eleições daquele ano; hoje, é o segundo partido no Parlamento, com 41 cadeiras), mas não o consider


ava uma ameaça à democracia escandinava, “menos ainda um herdeiro da depravação de Vidkun Quisling”. Entre as características do Partido do Progresso, a revista apontava o empenho em “espremer o estado de bem-estar social” e “um sopro de agressividade anti-imigrantes”.

Armas da direita


Com o terrorista Breivik o sopro virou vendaval, voltado contra noruegueses que seriam complacentes. O Christian Science Monitor disse na quinta-feira (28/7) que a oposição ao multiculturalismo e os sentimentos anti-imigrantes são “supreendentemente comuns” na Noruega.

Breivik não é louco. Ele aparentemente agiu sozinho, mas, como constatou Dines, não estava nem está sozinho. Com raríssimas exceções, atentados de direita de grandes proporções ou intensa repercussão política produziram recuos da democracia nas últimas décadas.

Isso aconteceu, por exemplo, na Itália (1976, assassinato de Aldo Moro; os autores se imaginavam de esquerda radical; 1980, atentado de Bolonha) e nos Estados Unidos (1995, bomba de Oklahoma, detonada por um simpatizante da milícia, governo Clinton; 2001, Torres Gêmeas e Pentágono, governo G.W. Bush).

Teria acontecido no Brasil em 1981, truncando a reconquista democrática, se a bomba destinada ao Riocentro não tivesse explodido no colo do sargento que a portava.

A Segunda Guerra Mundial derrotou Mussolini e Hitler, mas não o fascismo, que brota e rebrota indiferente ao grau de severidade com que seus praticantes tenham sido punidos após a vitória aliada.

As revistas que noticiaram o terror em Oslo informaram, na edição do mesmo fim de semana, que a prefeitura de Wunsiedel, sul da Alemanha, decidiu destruir o túmulo do segundo homem na hierarquia nazista, Rudolf Hess, exumar seus ossos, cremá-los e jogar suas cinzas no mar, para acabar com a peregrinação de neonazistas ao cemitério onde ele estava enterrado havia quase 25 anos.

A consciência dessa desafiadora realidade está um pouco distante das redações brasileiras.

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Re: 20/11 - Dia da Consciência Negra

#243 Mensagem por Compson » 02 Set 2011, 15:21

Não sei se já foi recomendado aqui, mas um filme interessante sobre apartheid é The Wilby Conspiracy[/i], que foi traduzido com o nome cretino de Conspiração violenta, talvez para não desgradar nossos milicos (1975).

Estava no Lido :oops: e o que me chamou a atenção foi o Michael Caine com 12 anos. Ele faz um turista inglês, boboca mas legal (já que racistas mesmo eram os malditos holandeses), que acaba se metendo com um negão revolucionário (Sidney Poitier).

Evidentemente não vi o filme inteiro :oops: , portanto não me responsabilizo se tiver alguma escorregada reaça... Mas a parte que eu vi é muito boa. Quando achar o DVD, escrevo naquele tópico de resenhas.

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Re: 20/11 - Dia da Consciência Negra

#244 Mensagem por Carnage » 19 Set 2011, 23:12

http://revistaforum.com.br/idelberavela ... goncalves/
A Caixa Econômica Federal, a política do branqueamento e a poupança dos escravos, por Ana Maria Gonçalves
18 de setembro de 2011 às 16:33 17 Comentários

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Uma imagem inédita de Machado


“São tanto mais de admirar e até de maravilhar essas qualidades de medida, de tato, de bom gosto, em suma de elegância, na vida e na arte de Machado de Assis, que elas são justamente as mais alheias ao nosso gênio nacional e, muito particularmente, aos mestiços como ele. [...]. Mulato, foi de fato um grego da melhor época, pelo seu profundo senso de beleza, pela harmonia de sua vida, pela euritmia da sua obra.”

O trecho acima é de um artigo do jornalista, professor, crítico e historiador literário José Veríssimo, em artigo no Jornal do Comércio, um mês depois da morte de Machado. Causou espanto em muita gente, inclusive em Joaquim Nabuco, que lhe enviou uma carta: “Seu artigo no jornal está belíssimo, mas essa frase causou-me arrepio: ‘Mulato, foi de fato um grego da melhor época’. Eu não teria chamado o Machado mulato [itálico no original] e penso que nada lhe doeria mais do que essa síntese. Rogo-lhe que tire isso quando reduzir os artigos a páginas permanentes. A palavra não é literária e é pejorativa, basta ver-lhe a etimologia. O Machado para mim era um branco, e creio que por tal se tornava [sic]; quando houvesse sangue estranho, isso em nada afetava a sua perfeita caracterização caucásica. Eu pelo menos só vi nele o grego. O nosso pobre amigo, tão sensível, preferiria o esquecimento à glória com a devassa sobre suas origens”. É interessante perceber que o que causa espanto a Nabuco é Veríssimo ter chamado Machado de mulato, e não ter dito que as qualidades de medida, tato, bom gosto e elegância, na vida e na arte, eram alheias aos mestiços como ele, um neto de escravos. Pensamento condizente com um governo brasileiro que discutia a nossa condenação ao atraso e à pobreza de espírito, adquirida via mestiçagem. A solução seria tentar reproduzir, nos trópicos, a pureza de sangue europeia, sonho de consumo antigo das elites portuguesa, na época do Brasil colônia, e brasileira, pelo que parece, até os dias atuais.

A ideia de embranquecimentos dos brasileiros é antiga, e muitos eram abolicionistas não por questões humanitárias, mas porque acreditavam ser necessário estancar o quanto antes a introdução de sangue negro entre os nacionais. Em um ensaio publicado em Lisboa, em 1821, o médico e filósofo Francisco Soares Filho aponta a heterogeneidade do Brasil como o grande empecilho para o país se tornar um Estado Moderno: “Hum povo composto de diversos povos não he rigorosamente uma Nação; he um mixto de incoherente e fraco”. O livro de Andreas Hofbauer, Uma história do branqueamento ou o negro em questão, transcreve vários trechos do artigo de Francisco Soares Filho, “Ensaio sobre os melhoramentos de Portugal e do Brasil”, entre os quais destaco o que fala da necessidade e das vantagens de se promover a miscigenação controlada:

“Os africanos, sendo muito numerosos no Brasil, os seus mistiços o são igualmente; nestes se deve fundar outra nova origem para a casta branca. (…) Os mistiços conservarão só metade, ou menos, do cunho Africano; sua côr he menos preta, os cabellos menos crespos e lanudos, os beiços e nariz menos grossos e chatos, etc. Se elles se unem depois à casta branca, os segundos mistiços tem já menos da côr baça, etc. Se inda a terceira geração se faz com branca, o cunho Africano perde-se totalmente, e a côr he a mesma que a dos brancos; às vezes inda mais clara; só nos cabellos he que se divisa huma leve disposição para se encresparem. (…) E deste modo teremos outra grande origem de augmento da população dos brancos, e quasi extinção dos pretos e mistiços desta parte do Mundo; pelo menos serão tão poucos que não entrarão em conta alguma nas considerações do Legislador.”

Hofbauer também cita o artigo de António d’Oliva de Souza Sequeira, “Addição ao projeto para o estabelecimento politico do reino-unido de Portugal, Brasil e Algarves”, de 1821, no qual, além de reforçar as ideias do benefício da mestiçagem de seu conterrâneo, aponta a necessidade de promover a imigração: “Como o Brasil deve ser povoado da raça branca, não se concederão benefícios de qualidade alguma aos pretos, que queirão vir habitar no paiz. (…) E como havendo mistura da raça preta com a branca, (…) terá o Brasil, em menos de 100 annos todos os seus habitantes da raça branca. (…) Havendo casamentos de brancos com indígenas, acabará a côr cobre; e se quizerem apressar a extinção das duas raças, estabeleção-se premios aos brancos, que se casarem com pretas, ou indígenas na primeira e segunda geração: advertindo, que se devem riscar os nomes de “mulato, crioulo, cabôco” e “indígena”; estes nomes fazem resentir odios, e ainda tem seus ressaibos de escravidão (…) sejão todos ‘Portuguezes!”.

(Um breve parênteses: não sei se sou apenas eu que consigo ver semelhanças entre o discurso acima, de 1821, com o de “esqueçamos isso de brancos, negros, amarelos etc… somos todos Brasileiros!”, muito comumente encontrados em artigos de Ali Kamel, Demétrio Magnoli e Yvonne Maggie, por exemplo, apoiados pelo requentamento da teoria da mestiçagem, feito por Gilberto Freyre.)

A ideia de que, em 100 anos, os brasileiros seriam todos brancos, foi atualizada em 1911 por João Batista Lacerda, diretor do Museu Nacional. Nessa época o cientificismo já tinha biologizado o conceito de raça, e o racismo brasileiro se dividia entre duas correntes de pensamento. A segregacionista, que dizia que a mestiçagem já nos tinha posto a perder e que nunca seríamos uma nação desenvolvida; e a assimilacionista, que apostava na salvação através do processo de branqueamento, com imigrantes europeus. Apostando sempre no seu povo, essa última tornou-se a posição oficial do governo brasileiro, que tentava vender, no exterior, a ideia de um país com grande futuro à espera dos europeus; ou à espera de europeus, para ser mais exata. Participávamos de feiras e congressos internacionais, disputando imigrantes com Argentina, Chile e Estados Unidos, e o discurso de Lacerda, representante brasileiro no I Congresso Universal de Raças, em Londres, tenta aplacar o medo dos europeus de compartilharem o Brasil com uma raça inferior: “(…) no Brasil já se viram filhos de métis (mestiços) apresentarem, na terceira geração, todos os caracteres físicos da raça branca [...]. Alguns retêm uns poucos traços da sua ascendência negra por influência dos atavismos(…) mas a influência da seleção sexual (…) tende a neutralizar a do atavismo, e remover dos descendentes dos métis todos os traços da raça negra(…) Em virtude desse processo de redução étnica, é lógico esperar que no curso de mais um século os métis tenham desaparecido do Brasil. Isso coincidirá com a extinção paralela da raça negra em nosso meio“.

A elite intelectual brasileira, formada por literatos, políticos, cientistas e empresários, indignada com as declarações do diretor do Museu Nacional, foi debater nos jornais e revistas. Alguns clamavam que 100 anos era um absurdo de tempo, que o apagamento do negro se daria em muito menos. Outros debochavam do otimismo de Lacerda, como o escritor Silvio Romero, que acreditava que o processo, que todos concordavam ser irreversível, levaria, pelo menos, uns seis ou oito séculos. Mas todos concordavam que era apenas uma questão de tempo, desde que o Brasil continuasse a promover a entrada de brancos europeus, a não fazer nada para integrar os negros que já estavam no país ou para baixar a taxa de mortalidade entre eles, e a dificultar a entrada de novos africanos. De fato, o governo brasileiro financiou a vinda de imigrantes europeus, não fez absolutamente nada que ajudasse escravos e libertos e proibiu a entrada de africanos. Um decreto de 28 de junho de 1890 diz que estava proibida a entrada de africanos no Brasil, e é reforçado por outros em 1920 e 1930, quando os banidos não necessariamente precisam ser africanos, mas apenas parecer. Em 1945, um decreto lei não mais proíbe, mas diz que:

Art. 1o – Todo estrangeiro poderá, entrar no Brasil desde que satisfaça as condições estabelecidas por essa lei.

Art. 2o – Atender-se-á, na admissão de imigrantes, à necessidade de preservar e desenvolver, na composição étnica da população, as características mais convenientes da sua ascendência européia, assim como a defesa do trabalhador nacional.

Tal decreto, me parece que foi revogado apenas em 1980. Mas as “características mais convenientes” da nossa ascendência europeia ainda são as desejáveis e estimuladas pelo governo, como nos mostra, exatamente 100 anos depois do pronunciamento de João Batista Lacerda, diretor do Museu Nacional, esse comercial da Caixa Econômica Federal (ver comercial do mês de setembro.

O fato mais visível é o branqueamento de Machado de Assis. Sobre esse assunto, que é longo e complexo, sugiro a entrevista com o professor Eduardo de Assis Duarte e, para quem quiser se aprofundar um pouco mais, a leitura de seu livro “Machado de Assis Afrodescendente: escritos de caramujo.” Veríssimo, atendendo ao apelo de Nabuco, nunca incluiu o artigo em seus livros; e para acabar com qualquer dúvida quanto à mulatice, a certidão de óbito de Joaquim Maria Machado de Assis diz que o grande escritor, da “cor branca”, faleceu de “arteriosclerose”. Questionada pelo ato falho, a assessoria de imprensa da Caixa se manifestou, dizendo que “o banco sempre se notabilizou pela sua atuação pautada nos princípios da responsabilidade social e pelo respeito à diversidade. Portanto, a Caixa sempre busca retratar em suas peças publicitárias toda a diversidade racial que caracteriza o nosso país”. Mas há também outro fato interessante no universo europeizado do comercial: no Rio de Janeiro de 1908, circulam apenas brancos. O comercial, assinado por “Caixa – 150 anos” e “Governo Federal – País rico é país sem pobreza”, apaga completamente as presenças negra e mestiça da capital federal do início do século. Tais atitudes colocam o governo como propagador e vítima das políticas oficiais de branqueamento da população e de ensino deficiente, voltado para o descaso com e o esquecimento do passado escravocrata brasileiro. Tivessem os profissionais envolvidos na criação, produção e aprovação de tal comercial estudado um pouco mais a vida dos africanos no Brasil, não teriam cometido erros tão banais. E tão graves, porque em nome de um governo e de uma instituição que diz ter uma história construída por todos os brasileiros, mas que parece, nesse caso, retratar apenas aqueles brasileiros que sempre foram mais brasileiros do que os outros. A nossa desigualdade entre iguais.

Tivessem esses profissionais dado uma olhada nos levantamentos demográficos da época (embora “raça” não tenha entrado nas estatísticas entre 1890 e 1940 – porque “éramos todos brasileiros”…) ou nas crônicas publicadas em jornais e revistas da época, ou o interesse de conhecerem um pouco melhor o assunto em questão, saberiam que a população negra e mestiça do Rio de Janeiro deveria ser, no mínimo, 30 e 40% do total, mas aparentava ser muito mais. A então capital federal, onde já era numerosa a presença de escravos e libertos, recebeu grandes contingentes de negros e mulatos após a assinatura da Lei Áurea, chegados das áreas rurais e de diversas partes do Brasil. Eles eram, então, a maioria a circular pelas ruas, em busca de emprego, que não havia, ou fazendo bicos, tentando se adaptar à nova realidade. Uma “sociedade movediça e dolorosa”, como nos contam as crônicas de João do Rio, entre tantas outras tão fáceis quantos de achar, caso houvesse interesse.

E por falar em “movediça e dolorosa”, é interessante também perceber como o governo retrata os escravos em outro comercial (ver mês de maio) referente à comemoração dos 150 anos da Caixa, o “Libertos”.

O comercial nos faz acreditar que a “poupança dos escravos” havia sido uma iniciativa progressista da Caixa quando, na verdade, foi um retrocesso nas “leis informais” que regulavam as iniciativas de compra de liberdade, e uma forma de o governo brasileiro, já no final da escravidão, lucrar um pouco mais com a exploração do trabalho escravo. Há um estudo interessante sobre essa poupança, “A poupança: alternativas para a compra da alforria no Brasil (2a metade do Século XIX)”, da historiadora e professora Keila Grinberg, que vou tentar resumir aqui, em meio a outras informações. É importante entender o cenário em que a “poupança dos escravos” foi lançada.

Após a Revolução Industrial, a Inglaterra buscava novos mercados consumidores para seus produtos e, vendo a escravidão com um dos grandes entraves, promulgou unilateralmente o Slave Trade Suppression Act de 1845, conhecido no Brasil como Bill Aberdeen. O ato considerava como sendo pirataria o comércio de escravos entre a África e as Américas, e a Inglaterra poderia abordar qualquer navio em atividade suspeita e liberar a carga humana. Muitos desses africanos foram levados para colônias inglesas no Caribe, onde trabalharam sob condições bem parecidas com a escravidão. Vários navios brasileiros foram aprendidos e destruídos, gerando uma série de incidentes diplomáticos que, em conjunção com outros fatores, levaram o Brasil a parar com o tráfico. Na verdade, a pressão era para que o Brasil obedecesse a Lei Feijó, também conhecida como “lei para inglês ver”, promulgada em 7 de novembro de 1831, que dizia:

A Regência, em nome do Imperador o Senhor Dom Pedro Segundo, faz saber a todos os súditos do Império, que a Assembléia Geral decretou, e ela sancionou a Lei seguinte:

Art. 1º. Todos os escravos, que entrarem no território ou portos do Brasil, vindos de fora, ficam livres.

Essa lei nunca foi obedecida e precisou ser reforçada com a Lei Eusébio de Queirós, aprovada em 4 de setembro de 1850:

Art. 1: As embarcações brasileiras encontradas em qualquer parte, e as estrangeiras encontradas nos portos, enseadas, ancoradouros ou mares territoriais do Brasil, tendo a seu bordo escravos, cuja importação é proibida pela lei de 7 de novembro de 1831, ou havendo-os desembarcado, serão apreendidas pelas autoridades, ou pelos navios de guerra brasileiros, e consideradas importadoras de escravos. Aquelas que não tiverem escravos a bordo, nem os houverem proximamente desembarcado, porém que se encontrarem com os sinais de se empregarem no tráfego de escravos, serão igualmente apreendidas e consideradas em tentativa de importação de escravos.

Inicialmente, a Lei Eusébio de Queirós também teve pouquíssimo efeito, fazendo inclusive com que o tráfico se intensificasse. Como a vida útil de um escravo era curta, e as condições dos cativeiros brasileiros nunca foram ideais para a reprodução, como acontecia, por exemplo nos EUA, os exploradores de trabalho escravo trataram de garantir um bom estoque de peças, começando a pensar, inclusive, que a escravidão, algum dia, poderia ter fim. Quando a Inglaterra intensificou o controle nos mares, começou então o aumento do comércio interno, com as províncias do Rio de Janeiro e São Paulo, ancoradas na lucrativa economia cafeeira, importando peças do norte e nordeste. Possuir escravos que se tornavam cada vez mais caros, então, começou a ser coisa de “gente grande”, com a diminuição da entrada de peças de reposição e a crescente demanda da indústria cafeeira, base da economia brasileira da ápoca. O Brasil passava por grandes transformações, e outras duas leis importantes também foram promulgadas em 1850, a Lei das Terras e a lei do Código Comercial, ambas com profundas ligações com a escravatura.

Começando a se pensar pela primeira vez em um Brasil sem escravos, a Lei das Terras defendia os interesses dos grandes latifundiários, garantindo-lhes o direito de regularizar a posse das terras que ocupavam. As terras não ocupadas passaram a ser do Estado e só poderiam ser adquiridas em leilões, com pagamento à vista, impossibilitando que ex-escravos (e possíveis colonos, porque já se discutia uma política de imigrações), quando libertados, se tornassem proprietários através de ocupações.

O Código Comercial regulamentava a criação de sociedades anônimas e comerciais, uma necessidade por causa das reorientações na economia brasileira. Não tendo mais condições de comprar escravos, a gente “média” e “miúda” começou a ter outras necessidades de crédito e a se interessar por outros bens de consumo, aumentando a importação de bens estrangeiros. Em 1851, por exemplo, surgiu no Rio de Janeiro o Banco do Commercio e da Indústria que, junto com outros bancos, passou a receber depósitos e a emprestar dinheiro. Foi esse banco que, em 1853, depois de uma fusão com o Banco Commercial do Rio de Janeiro, deu origem ao Banco do Brasil. Segundo Keila Grinberg, “(…) Com isso, o crescimento das atividades comerciais no país, devido principalmente à prosperidade dos negócios do café, foi facilitado pelo aumento da emissão de moeda, e pela autorização, por parte do governo imperial, da realização de várias operações comerciais pelos bancos”. Em 1857 já havia vários bancos oferecendo esses serviços, mas a crise no setor cafeeiro e o grande número de instituições privadas, levou o governo a centralizar a atividade bancária, principalmente as de poupança e crédito, através da Lei dos Entraves, de 1860. Foi através dessa lei que o Governo Imperial criou a Caixa Econômica, que entrou em atividade em 1861 como o primeiro banco que receberia “as pequenas economias das classes menos abastadas”, nos moldes de várias instituições privadas de grande sucesso nos EUA e na Europa.

As Caixas prestariam os serviços de depósito em poupança e de empréstimos tendo como garantia a penhora de bens. Com isso, o governo buscava “centralizar no Estado as economias dos poupadores, de pequenos a grandes, de modo que o montante arrecadado pudesse contribuir para o desenvolvimento da infra-estrutura do país, como aconteceu nos Estados Unidos, onde a poupança alavancou o investimento em ferrovias, centros de tratamento de água e esgoto e canais”. A princípio, a arrecadação não foi muito grande, ao contrário da procura por empréstimos, e só melhorou um pouco a partir de 1864, com a quebra de várias instituições concorrentes.

A Lei do Ventre Livre, de 1871, reconheceu, entre outras coisas, o direito do escravo formar pecúlio. Na verdade isso já acontecia havia muito tempo. Escravos se reuniam em associações (Juntas ou Irmandades) auto-regulamentadas e contribuiam para um fundo comum que, entre outras coisas, servia para a compra de cartas de alforrias de seus associados. A novidade da lei é que, diferente do que acontecia antes, se o escravo tivesse dinheiro suficiente a carta de alforria não poderia mais ser negada pelo seu dono. A Caixa Econômica então passou a aceitar depósitos de escravos, mas a caderneta de poupança teria que ser aberta em nome dos seus donos, porque o decreto de fundação, de 1861, dizia:

“Não serão admittidos, como depositantes ou abonadores, os menores, escravos, e mais indivíduos que não tiverem a livre administração de sua posse e bens”

E para que o escravo tivesse certeza disso, de que não era dono daquele dinheiro e daquela “poupança do escravo”, Keila Grinberg nos conta que “todas as cadernetas de escravos eram riscadas onde aparecia a palavra ‘senhor’ antes do espaço destinado à redação do nome do poupador. Para que não restasse dúvidas de que poupar não fazia de nenhum escravo, um senhor.”

Isso significa que a “poupança dos escravos” criada pela Caixa Econômica Federal não é nenhuma novidade entre as modalidades de se juntar dinheiro para a compra da carta de alforria, e ainda é um retrocesso, no sentido de proibir depósitos em nome de escravos. Caixas Econômicas não estatais, surgidas na década de 1830 na Bahia, em Pernambuco, Alagoas, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio de Janeiro, seguindo o modelo das caixas existente em outros países escravistas das Américas, não tinham essa proibição. Então, o que a Caixa Econômica Federal fez, em 1872, ao oficializar a “poupança dos escravos”, foi permitir e reafirmar que o controle do dono sobre o escravo, com a tutela do Estado, fosse exercido inclusive sobre algo que, de comum acordo entre dono e escravo poderia ficar, anteriormente, sob a responsabilidade do escravo. Antes de oficializar essa proibição, inclusive, a própria Caixa “aceitava” depósitos de escravos, como prova a existência da caderneta de poupança de número 12.729: “mesmo à margem da lei, entre 1867 e 1869, a escrava Luiza depositou religiosamente 5 mil réis por mês com o aval de D. Antonia Luiza Simonsen, sua senhora’, escreve Grinberg. A poupança dos escravos de ganho coloca-os novamente sob a tutela de seus senhores.

Luiz Carlos Soares nos dá uma ideia da vida de um escravo de ganho no Rio de Janeiro, em sua tese “Urban Slavery in Nineteenth Century Rio de Janeiro”: “Uma parcela considerável desses cativos [que andavam pelas ruas do Rio] era constituída pelos escravos de ganho. Estes desenvolviam as mais diversas modalidades de comércio ambulante, carregando as suas mercadorias em cestos e tabuleiros à cabeça, ou transportavam, sozinhos ou em grupos, os mais variados tipos de cargas, ou ainda ofereciam os seus serviços em quaisquer eventualidades, até mesmo no transporte de pessoas em seus ombros pelas ruas da cidades nos dias chuvosos ou carregando em suas cabeças barris com os dejetos das residências que à noite eram jogados ao mar.” Profissões mais especializadas, como sapateiros, barbeiros, joalheiros, ou até mesmo mendicância e prostituição, estavam entre as atividades exercidas pelos escravos de ganho. São esses os escravos retratados no comercial “Liberdade” da Caixa, todos saudáveis, “higienizados”, sorridentes e bem tratados. A realidade, no entanto, era bem outra. Alguns realmente conseguiam se dar bem, sendo capazes de juntar boa quantidade de dinheiro; mas eram exceções. O que valia a pena, nessa modalidade, era o escravo ter um pouco mais de liberdade em relação aos escravos rurais ou domésticos, sob maior vigilância. Os escravos de ganho eram mandados para a rua por seus senhores, onde deveriam trabalhar para pagar o “jornal”, ou seja, uma quantia diária, semanal ou mensal estipulada pelo dono. Era o excedente desse jornal, se houvesse, que os escravos poderiam poupar para empregar no que bem quisessem, desde o complemento à alimentação deficiente, roupas, aluguel de um cômodo para morar longe do senhor, ou a carta de alforria. E era esse excedente que, em nome do dono, poderia ser depositado na “poupança dos escravos”, na esperança de, um dia, ser suficiente para comprar a liberdade; o que se tornava cada vez mais difícil.

A partir de 1850, com a venda maciça de escravos para as zonas cafeeiras, o número de escravos diminuiu consideravelmente na cidade do Rio de Janeiro. O recenseamento realizado em 1872, ano de lançamento da poupança de escravos, conta que eles eram, ao todo, 37.567, dos quais 5.785 eram criados (escravos de aluguel para serviços domésticos) e jornaleiros (de ganho). Escravos de ganho já não eram bom negócio. Em alguns setores mais lucrativos, como o de transporte, eles estavam perdendo espaço para trabalhadores livres, melhor organizados e de melhor aparência; em sua maioria imigrantes pobres portugueses. Esse é o cenário quando a Caixa Econômica Federal decide aceitar dinheiro de trabalho escravo – desde que em nome do donos, é sempre bom lembrar -. Com a alta sucessiva do preço, e com seus donos usando métodos legais e ilegais para manter os escravos que possuíam, as compras de cartas de alforria se tornaram raríssimas depois da Lei de 1871. “Que não restem dúvidas: a alforria custava caro. Para se ter uma ideia, entre 1860 e 1865 o preço médio pago por um escravo para ficar livre variou entre 1:350.000 réis e 1:400.000 réis, mas chegou a mais de 1:550.000 réis em 1862. Evaristo, depois de três anos de poupança acumulou irrisórios 8.100 réis. Luiza, aquela que depositava com consentimento da sua senhora Antonia Luiza Simonsen, chegou a pouco mais de 200.000 réis”, lembra Grinberg.

Provavelmente, foram raríssimos os que conseguiram comprar suas cartas de alforria através das cadernetas dos escravos, como a escrava Joana do comercial. Aplicados no banco, os recursos destinados à compra de sonho serviam para aumentar os lucros da Caixa que, segundo o estatuto de criação, podia utilizar o dinheiro das poupanças para fazer empréstimos, a juros, através do Monte de Socorro, com as penhoras. Talvez isso também pudesse ser chamado de exploração de mão de obra escrava. Da qual, hoje, a Caixa de orgulha, a ponto de apresentar como um dos grandes feitos a ser comemorado em seus 150 anos de existência. Ironicamente, ou não – pois realmente quero acreditar que é fruto da profunda ignorância histórica e da falta de sensibilidade -, o confessional foi exibido no mês de maio, para ser potencializado e remetido à Lei Áurea. Coisas da propaganda, que talvez pudesse ser usada para nos responder duas perguntas:

- O que foi feito do dinheiro dessas cadernetas de poupança quando aconteceu a abolição? O dinheiro era dos escravos, o excedente do que tinham que pagar ao dono, mas não estava no nome deles. Eles conseguiram recuperar essas economias?

- Em 1872, quando foi criada a “caderneta dos escravos”, dirigida aos escravos de ganho, já fazia 41 anos que o tráfico atlântico de escravos estava proibido. Visto que a maioria dos escravos de ganho era composta por africanos (Luiz Carlos Soares nos informa que, na segunda metade do XIX, na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, dos 2.869 pedidos de concessão de licença para trabalhar ao ganho, 2.195 eram para africanos), a Caixa, antes de aceitar a abertura das cadernetas, checava se tinham entrado legalmente no Brasil (é bom lembrar que, em 1900, a expectativa de vida do brasileiro era de 33,4 anos, sendo a dos escravos bem menor que a dos não-escravos), ou era cúmplice dos que tinham sequestrado, capturado e mantido ilegalmente africanos em cárcere privado e trabalhos forçados, conforme as leis de 1831 e 1850?

Seria bom que a Caixa Econômica Federal investigasse a possibilidade de ter cometido erros e, se for o caso, se retratasse. Pelo branqueamento de Machado e por ter lucrado, talvez ilegalmente, com o dinheiro dos escravos, e fazer disso motivo de orgulho. Se não por toda a população afrodescendente brasileira, pelos seus mais de 14.000 funcionários homenageados em um belíssimo comercial comemorando o Dia da Consciência Negra.

Para que eles não se sintam usados. Para que nós não nos sintamos enganados por meras e belas campanhas de marketing. Para que este país comece a conhecer e respeitar sua História. Para que as palavras de sua assessoria não sejam propaganda enganosa: “O banco sempre se notabilizou pela sua atuação pautada nos princípios da responsabilidade social e pelo respeito à diversidade.” Que assim seja!

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Re: 20/11 - Dia da Consciência Negra

#245 Mensagem por Carnage » 02 Jan 2012, 22:41

Um assunto que não gosto muito de discutir, principalmente porque não tenho opiniões muito bem formadas a respeito de certos aspectos, como o sistema de cotas, por exemplo.

Mas pra botar um pouco de lenha na fogueira (que na verdade está queimando num tópico errado) no tópico mais apropriado, colo um texto que vi:

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassi ... brasileiro
O racismo não cordial do brasileiro
Enviado por luisnassif, seg, 02/01/2012 - 19:01
Por Mario Sergio


Neste final de ano pude testemunhar e viver a vergonha dessa praga do racismo aqui em nossa multicultural São Paulo. E com pessoas próximas e queridas. Não dá para ficar calado e deixar apenas o inquérito policial que abrimos tomar conta dos desdobramentos desse episódio lamentável e sórdido.

Na sexta feira, 30, nossos primos, espanhóis, e seu pequeno filho de 6 anos foram a um restaurante, no bairro Paraíso (ironia?) para almoçar. O garoto quis esperar na mesa, sentado, enquanto os pais faziam os pratos no buffet, a alguns metros de distância. A mãe, entre uma colherada e outra, olhava para o pequeno que esperava na mesa. De repente, ao olhar de novo, o menino não mais estava lá. Tinha sumido.

Preocupada, deixou tudo e passou a procurá-lo ao redor. Ao perguntar aos outros frequentadores, soube que o menino havia sido retirado do restaurante por um funcionário de lá. Desesperada, foi para a rua e encontrou-o encolhido e chorando num canto. Perguntado (em catalão, sua língua) disse que "o senhor pegou-me pelo braço e me jogou aqui fora".

O casal e a criança voltaram para o apartamento de minha sogra e contaram o ocorrido. Minha sogra que é freguesa do restaurante, revoltada, voltou com eles para lá. Depois de tergiversações, tentativas de uma funcinária em pôr panos quentes, enfim o tal sujeito (gerente??) identificou-se e com a arrogância típica de ignorantes, disse que teria sido ele mesmo a cometer o descalabro. Mas era um engano, mas plenamente justificável porque crianças pedintes da feira costumavam pedir coisas lá e incomodar. E que ele era bom e até os alimentava de vez em quando. Nem sequer pediu desculpas terminando por dizer que se eles quisessem se queixar que fossem à delegacia.

Minha sogra ligou-me e, de fato, fomos à delegacia do bairro e fizemos boletim de ocorrência. O atendimento da delegada de plantão foi digno e correto. Lavrou o BO e abriu inquérito. Terminou pedindo desculpas e que meus primos não levem uma impressão ruim do Brasil.

Em tempo: o filho de 6 anos é negro. Em um e-mail (ainda não respondido pelo restaurante Nonno Paolo) pergunto qual teria sido a atitude se o menino fosse um loirinho de olhos azuis.

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Re: 20/11 - Dia da Consciência Negra

#246 Mensagem por wheresgrelo » 02 Jan 2012, 23:02

Racismo??

Quê isso, Magina!!!!

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Re: 20/11 - Dia da Consciência Negra

#247 Mensagem por Compson » 03 Jan 2012, 12:43

O problema é que "racismo" é uma palavra muita imprecisa para designar o que aconteceu nos EUA, o que aconteceu na África do Sul e o que acontece no Brasil. É verdade que nos três casos trata-se de discriminação racial contra os negros, mas as origens histórias e as relações entre as raças são muito diferentes.

Não posso falar muito sobre EUA e África do Sul, mas, ao que parece, no primeiro caso trata-se de resquícios dos conflitos da época da escravidão (por isso o racismo é mais intenso no Sul), ao passo que na África do Sul, o problema racial é agravado pelo tradicional problema entre colonizador e colonizado. Em ambos os casos ela se manifesta como ódio, talvez pela tendência dos povos protestantes em serem mais radicais nos tratamentos dos problemas (segregação estrita na África do Sul, agressões e assassinatos nos EUA).

No Brasil há igualmente discriminação, há igualmente um histórico de conflitos escravistas e coloniais, mas as elites de tradição ibérica ou mediterrânea são diferentes.

Por exemplo, a escravidão em São Paulo acabou ao longo da década de 1880 por iniciativa de revoltas, fugas ou alforria dos próprios escravos. Mas quando a lei Áurea foi decretada em 1888, os fazendeiros saíram às ruas e organizaram festas pelo interior de SP como se fossem grandes progressistas concedendo liberdade aos negros.

Foi uma grande pataquada (a própria lei Área o foi), mas isso de certo modo acirrou os ânimos ou, pelo menos, não transmitiu à classe média de homens livres o sentimento de ódio pelos negros.

É incorreto usar um eufemismo como "cordial" para nomear esse tipo de comportamento, mas é um fato que as elites do sul da Europa e da América têm um jeito diferente de exercer seu poder, que é tão filho da puta e dominador quanto os protestantes, apenas mais cínico.

De todo modo, o que quero dizer é que, embora haja racismo no Brasil, nos EUA e na África do Sul, seus modos de manifestação são diferentes e, portanto, diferentes devem ser as formas de combatê-lo.

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Re: 20/11 - Dia da Consciência Negra

#248 Mensagem por Gilmor » 03 Jan 2012, 15:22

Compson escreveu:O problema é que "racismo" é uma palavra muita imprecisa para designar o que aconteceu nos EUA, o que aconteceu na África do Sul e o que acontece no Brasil. É verdade que nos três casos trata-se de discriminação racial contra os negros, mas as origens histórias e as relações entre as raças são muito diferentes.

Não posso falar muito sobre EUA e África do Sul, mas, ao que parece, no primeiro caso trata-se de resquícios dos conflitos da época da escravidão (por isso o racismo é mais intenso no Sul), ao passo que na África do Sul, o problema racial é agravado pelo tradicional problema entre colonizador e colonizado. Em ambos os casos ela se manifesta como ódio, talvez pela tendência dos povos protestantes em serem mais radicais nos tratamentos dos problemas (segregação estrita na África do Sul, agressões e assassinatos nos EUA).

No Brasil há igualmente discriminação, há igualmente um histórico de conflitos escravistas e coloniais, mas as elites de tradição ibérica ou mediterrânea são diferentes.

Por exemplo, a escravidão em São Paulo acabou ao longo da década de 1880 por iniciativa de revoltas, fugas ou alforria dos próprios escravos. Mas quando a lei Áurea foi decretada em 1888, os fazendeiros saíram às ruas e organizaram festas pelo interior de SP como se fossem grandes progressistas concedendo liberdade aos negros.

Foi uma grande pataquada (a própria lei Área o foi), mas isso de certo modo acirrou os ânimos ou, pelo menos, não transmitiu à classe média de homens livres o sentimento de ódio pelos negros.

É incorreto usar um eufemismo como "cordial" para nomear esse tipo de comportamento, mas é um fato que as elites do sul da Europa e da América têm um jeito diferente de exercer seu poder, que é tão filho da puta e dominador quanto os protestantes, apenas mais cínico.

De todo modo, o que quero dizer é que, embora haja racismo no Brasil, nos EUA e na África do Sul, seus modos de manifestação são diferentes e, portanto, diferentes devem ser as formas de combatê-lo.
O racismo não tem nada de impreciso, está claramente definido em lei.

Você se contradiz ao pleitear formas distintas de combate ao racismo brasileiro em relação ao sul africano ou Yanke, na medida que afirma que diferem apenas pelo cinismo.

Se a única diferença é o cinismo, como você bem reconhece, não vejo razão para tratamentos diferenciados.

Alias, no Brasil o crime de racismo é visto de forma tão grave que tem status constitucional.

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Re: 20/11 - Dia da Consciência Negra

#249 Mensagem por Nazrudin » 03 Jan 2012, 15:26

Aqui no Brasil, diferente da Africa do Sul e EUA, houve uma miscigenação muito mais acentuada, quase sem paralelo na historia mundial. Diluiu-se o racismo no sangue. O preconceito, claro, não deixou de existir. Veja que os negros se arvoram como donos da expressão, quando ela pode ser usada por indigenas, italianos, alemães e todo grupo étnico diferente quando era jogado nesse caldeirão que é o Brasil. Mais das vezes porem, a condição economica e o preconceito cultural preponderavam sobre a cor da pele. Hj. ainda é assim. Temos muito preconceito entre classes, algo que envolve situação economica e padrões de educação.

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Re: 20/11 - Dia da Consciência Negra

#250 Mensagem por Compson » 03 Jan 2012, 15:33

Gilmor escreveu:Você se contradiz ao pleitear formas distintas de combate ao racismo brasileiro em relação ao sul africano ou Yanke, na medida que afirma que diferem apenas pelo cinismo.

Se a única diferença é o cinismo, como você bem reconhece, não vejo razão para tratamentos diferenciados.
Não há contradição alguma... Cinismo implica práticas diferentes, que implicam relações sociais diferentes...

Para dar um exemplo mais claro e menos polêmico: nos EUA, quando uma grande empresa é ajudada pelo governo todo mundo sabe que é lobismo ou desespero; no Brasil, a mesma coisa é política "desenvolvimentista" para o bem do povo... Nos EUA a esqueda ocupa Wall Street, no Brasil escreve artigos elogiosos na revista da Unicamp.

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Re: 20/11 - Dia da Consciência Negra

#251 Mensagem por Gilmor » 03 Jan 2012, 21:49

Compson escreveu:
Gilmor escreveu:Você se contradiz ao pleitear formas distintas de combate ao racismo brasileiro em relação ao sul africano ou Yanke, na medida que afirma que diferem apenas pelo cinismo.

Se a única diferença é o cinismo, como você bem reconhece, não vejo razão para tratamentos diferenciados.
Não há contradição alguma... Cinismo implica práticas diferentes, que implicam relações sociais diferentes...
O cinismo não altera pratica nenhuma só serve para tentar mascarar relações de poder analogas, segundo tuas próprias palavras: “tão filho da puta e dominador quanto os protestantes”
Compson escreveu:Para dar um exemplo mais claro e menos polêmico: nos EUA, quando uma grande empresa é ajudada pelo governo todo mundo sabe que é lobismo ou desespero; no Brasil, a mesma coisa é política "desenvolvimentista" para o bem do povo...
Exemplo descabido, nos EUA recentemente muitas empresas foram ajudadas pelo governo com a desculpa esfarrapada de que era para ajudar o país a sair da crise.
Compson escreveu:Nos EUA a esqueda ocupa Wall Street, no Brasil escreve artigos elogiosos na revista da Unicamp.
Outro exemplo sem nexo, pois os governos brasileiro e norte americano vivem realidades bem distintas, enquanto um país está crescendo e se desenvolvendo o outro está em plena crise.

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Re: 20/11 - Dia da Consciência Negra

#252 Mensagem por Compson » 03 Jan 2012, 22:25

Gilmor escreveu:O cinismo não altera pratica nenhuma só serve para tentar mascarar relações de poder analogas, segundo tuas próprias palavras: “tão filho da puta e dominador quanto os protestantes”
Ser tão filho da puta quanto não significa agir da mesma maneira. Reputo Steve Jobs e Rupert Murdoch no mesmo grau de filho-da-putice, no entanto, suas práticas e suas imagens são radicalmente diferentes.

De todo modo, esqueça o cínico, foi mal empregado mesmo... No rigor do conceito, os protestantes ("Murdoch") é que são cínicos (sou filho da puta e pronto)... O que os mediterrâneos ("Jobs") são é dissimulados mesmo (sou filho da puta, mas dou um jeito de parecer legal).
Gilmor escreveu:
Compson escreveu:Para dar um exemplo mais claro e menos polêmico: nos EUA, quando uma grande empresa é ajudada pelo governo todo mundo sabe que é lobismo ou desespero; no Brasil, a mesma coisa é política "desenvolvimentista" para o bem do povo...
Exemplo descabido, nos EUA recentemente muitas empresas foram ajudadas pelo governo com a desculpa esfarrapada de que era para ajudar o país a sair da crise.
Não. Foram ajudadas pelo motivo nada esfarrapado de que deixá-las quebrar poderia ser muito pior: desespero!
Gilmor escreveu:
Compson escreveu:Nos EUA a esqueda ocupa Wall Street, no Brasil escreve artigos elogiosos na revista da Unicamp.
Outro exemplo sem nexo, pois os governos brasileiro e norte americano vivem realidades bem distintas, enquanto um país está crescendo e se desenvolvendo o outro está em plena crise.
Pode ser, mas não te aconselho a comparar os números do último trimestre de 2012. Quer tentar?

De todo modo, se você acha que a situação de racismo no Brasil é comparável à dos EUA, cite uma lei após a Abolição que discrimine negros; cite um grupo grande e organizado de extermínio. O que, novamente, não quer dizer que não haja racismo, ele apenas assume uma forma diferente...

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Re: 20/11 - Dia da Consciência Negra

#253 Mensagem por O Pastor » 04 Jan 2012, 06:59

O fato é o seguinte.

O gerente do restaurante que fez isso, pode ser qualquer pessoa que conviva entre nós. Uma pessoa que no convívio diário, vc jamais chamaria de "racista". O típico "gente boa" do dia a dia. Essa é a reflexão que precisa ser feita no Brasil. As pessoas são racistas e nem se dão conta disso. E é exatmente isso que impede o progresso consistente dos afro-brasileiros. A barreira quase insuperável do racismo.

SE vc é racista, intuitivamente (mesmo sem se dar conta) vc vai impedir o progresso daqueles que vc se opõe.

Isso jamais aconteceria nos EUA ou na África do Sul de hoje, Compson. Jamais, essa é a verdade, por mais que o gerente quisesse muito fazê-lo (ou o restaurante racista seria perfeitamente identificável). Mas pode acontecer com qualquer brasileiro ou cidadão de outro país que seja negro e a qualquer momento. Essa é a mais pura realidade do nosso país.

O garoto espanhol vitma da nossa atroz realidade não era um garoto pobrezinho com cara de mendigo e duvido q estivesse mal vestido. Ele era negro e não deveria estar num restaurante q suponho fosse de classe média. Foi isso que o gerente, dentro do imaginário q o cerca, pensou. Isso prova DEFINITIVAMENTE, que o tal do "preconceito social" nunca foi o problema, e sim o preconceito "racial".

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Re: 20/11 - Dia da Consciência Negra

#254 Mensagem por Compson » 04 Jan 2012, 17:49

Apenas esclarecendo: quando disse que racismo era "muito impreciso" não quis dar nenhum migué pra livrar a cara do gerente.

Expulsar o garoto negro do restaurante, proibir negros/as de se relacionarem com brancos/as ou organizar um grupo voltado ao extermínio de negros são todos racismo.

O que é "muito impreciso" é que em cada caso os fundamentos, as origens e as práticas são muito diferentes. Classificar como "racismo" não resolve questão nenhuma.

Em última análise, não é necessário ficar especulando sobre as especificidades culturais de cada povo, basta lembrar a história: nos EUA, quando a abolição parecia inevitável, a elite branca escravocrata iniciou uma guerra civil separatista, suscitando o ódio; no Brasil, ela tentou se passar por ator do processo, como libertadores e modernizadores. Não conveceram negro nenhum, mas isso fez toda a diferença...

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Re: 20/11 - Dia da Consciência Negra

#255 Mensagem por Gilmor » 05 Jan 2012, 18:42

Compson escreveu: O que é "muito impreciso" é que em cada caso os fundamentos, as origens e as práticas são muito diferentes. Classificar como "racismo" não resolve questão nenhuma.
Você defende descriminalizar o racismo no Brasil?
Compson escreveu:Em última análise, não é necessário ficar especulando sobre as especificidades culturais de cada povo, basta lembrar a história: nos EUA, quando a abolição parecia inevitável, a elite branca escravocrata iniciou uma guerra civil separatista, suscitando o ódio; no Brasil, ela tentou se passar por ator do processo, como libertadores e modernizadores. Não conveceram negro nenhum, mas isso fez toda a diferença...
Fez toda diferença pra quem? Pro negro é que não foi....

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