oGuto escreveu:Mantendo o foco no tópico, parece que o que está pegando é o fato de alguém como o Kaká ter aderido a essa campanha.
Menino religioso, metido a bom rapaz, declaradamente casto (ops) até o matrimônio, inegavelmente bem sucedido.
“Qualidades” que, se aqui fez com que ele soasse meio hipócrita, possivelmente deu credibilidade à causa em outras praias.
Mesmo que neste fórum seja quase um dogma não falar mal da putaria em geral, como negar que ela envolva aspectos nem tão benéficos à sociedade como um todo?
A não ser que os camaradas entendam o mundo da putaria apenas como aquele onde algumas dúzias de moçoilas metidas a “glamourizadas”, descaradamente photoshopadas por sites especializados, buscam basicamente, como em qualquer comércio, empurrar o seu produto.
Não duvido que muitos associem alguns destes sites (como o que aqui anuncia) a algo “de alto nível", e, como em outras coisas, tenham nisso o seu sonho de consumo.
Balela.
Muda a roupagem, mas a putaria é a mesma desde os seus primórdios.
Mas, se putanheiros “profissionais” caem nessa, imaginem o reflexo disso nos demais, sejam em garotos “candidatos a” ou em meninas também igualmente “candidatas a”.
Ou seja, saindo dos fóruns de putaria , dos sites que propagandeiam o sexo vendido, etc etc, e caindo na vida real , que é aquela na qual se caga quase tudo que se come, a prostituição tem sempre a companhia de excessivos malefícios, que nem é preciso relacionar aqui.
Resumindo: campanha que tem a sua razão de ser, mas muito pouco a ver com aqueles que se enclausuram em seus mundinhos coloridos ou sombrios.
Grifo meu.
Discordo de você, oGuto. Essa "campanha" é tão imbecil em propósito (embora, obviamente, não nociva) quanto a campanha promovida pela igreja católica contra o uso de preservativos (essa sim, extremamente nociva). Ambas estão associadas ao ideário cristão de que o sexo deva ser regido por um determinado conjunto de regras supostamente arbitrado por um suposto deus.
Um cristão é uma pessoa com uma visão extremamente nebulosa da realidade. Não bastasse crer em algo cuja existência não se tem prova alguma (deus), crêem em uma mitologia absurda (cristianismo), que se resume a grosso modo no seguinte: num dado tempo no passado, um ser supremo resolveu criar o mundo e tudo o que nele há. Dentre as criações estava o homem, dotado de livre arbítrio, o qual descumpriu determinadas regras arbitradas por este ser supremo. Deus então se emputeceu e expulsou o homem do paraíso e determinou que em um dado tempo no futuro o seu filho (que na verdade, segundo os cristão, é ele mesmo - já que se dizem "monoteístas" - sendo que temos aqui um caso clássico de dupla - ou melhor dizendo - tripla personalidade, só que envolvendo o supremo) deveria se fuder de verde e amarelo para "salvar" os homens dos seus pecados. No momento que antecede o sacrifício do filho, temos o ápice da esquizofrenia divina, com o filho pedindo ao pai para que este afastace o cálice do sacrifício de si. Observe: como supostamente os cristãos são "monoteístas" (é o que eles alegam), o que se tem é um barba pedindo a si próprio para ser poupado do martírio. Essa esquizofrenia se repete no momento da crucifixação, quando Jesus pede a si mesmo - na figura agora de Javé - que perdoe a humanidade pelo seu sacrifício, alegando que eles não sabem o que fazem. O cara morre, ressuscita 3 dias depois e a partir desse momento, garante a permanência no paraíso após a morte quem crer e seguir as regras arbitradas pelo tal Cristo.
Essa história não faz absolutamente NENHUM sentido, mas ainda assim tem um monte de gente que ainda leva isso tudo muito a sério hoje em dia. Essas pessoas - os denominados cristãos - tem como base moral as ordens ditadas pelo suposto ser supremo esquizofrênico, sendo as mesmas supostamente expressas em uma coletânea de livros inundada por contradições internas e inverdades, a tal bíblia. Perceba, o que é moral ou imoral para essas pessoas é o que eles acreditam que um suposto ser supremo arbitrou. Não é necessário explicar porque essa ou aquela regra é boa ou ruim ou mesmo definir de uma forma racional estes conceitos...o que o tal deus supostamente falou é lei e fim de papo!
É ISSO a "base" da moral cristã! É baseado nesta piada de mal gosto que a igreja católica apregoa o sexo apenas para fins de reprodução e que o frango do Kaká prega contra a prostituição. Basicamente porque a bíblia diz que o sexo deve ser feito assim ou assado.
Esquecendo o cristianismo ou qualquer outro dogmatismo por ora, podemos tentar estabelecer de uma forma racional o conceito de moral e a partir deste ponto, analisar o possível conteúdo moral de determinadas atitudes, incluindo aí o prostituir-se.
Comecemos pelo mais básico e primitivo, conforme já coloquei em uma discussão em outro fórum (sobre vale-tudo), versando a respeito dessa mesma questão da prostituição.
A questão é a seguinte: vamos supor que você tenha um determinado objeto que seja do meu interesse. Eu poderia, a princípio, tentar tomar esse objeto de você a força para satisfazer a minha vontade de possui-lo. Contudo, se eu fizer isso, logo me depararei com alguns problemas. Por exemplo, eu posso acabar levando um direto de esquerda na cara e ter o meu nariz quebrado. A dor é algo desagradável e logo me fará perceber que devem existir certos limites dentro dos quais eu possa atuar com relativa segurança. Caso eu transpasse tais limites, poderei sofrer. O sofrimento logo impõe no ser racional a noção de limites, em um primeiro momento, relativa à sua própria sobrevivência. Observa-se isso de forma clara em crianças pequenas, por exemplo. Também a noção de cooperação pode surgir em um primeiro instante como uma necessidade para subsistir.
Nesse instante, pode-se dizer que é estabelecida de forma implícita e pragmática uma versão da chamada Regra Áurea: - "Não vou fazer aos outros o que não gostaria que fizessem a mim". Isso pode surgir, como eu disse, apenas do fato do indivíduo observar que se ele não respeitar certos limites ele poderá se machucar. Isso já é uma forma rústica de moral racional. O indivíduo estabelece uma regra de conduta que emerge da razão e da experiência: - "Se eu fizer B eu me posso me foder. Não quero me foder, logo, não farei B". Tal regra não é arbitrária, não é um dogma. É uma regra que nasce da experiência, sendo estabelecida pela razão.
Existem outros elementos também que podem contribuir para a formação da Regra Áurea, como por exemplo, a empatia, a capacidade de se imaginar no lugar de outrém e inferir como a pessoa poderia se sentir em uma determinada situação. Se gostamos da pessoa, a empatia pode nos levar de forma intuitiva à Regra Áurea. Mas, neste caso, a Regra Áurea apareceria num contexto mais altruísta, onde você não faria algo que machucasse outra pessoa por gostar dessa pessoa e não apenas pensando em si mesmo, isto é, pensando em não se ferrar.
Acontece que as pessoas são diferentes, o que umas gostam outras podem não gostar e já aí vê-se que a Regra Áurea pode deixar alguns buracos, já que gostos não são universais. De uma forma geral, pode-se nesse ponto estabelecer as regras para se fazer um juízo de valor sobre INTENÇÕES (e não sobre atos em si). Os pontos que estabelecem essas regras racionais seriam, em suma, os seguintes:
1 - Os seres estão em uma busca constante pela felicidade e evitam sempre estados de infelicidade;
2 - Posto isso, um sistema moral racional deve buscar a MAXIMIZAÇÃO da FELICIDADE GLOBAL e a MINIMIZAÇÃO da INSATISFAÇÃO GLOBAL;
3 - Implementando este ideal, estabelece-se (de uma forma bem simplificada) que:
3.a - Intenções que visam maximizar a felicidade global são moralmente boas ou morais;
3.b - Intenções que visam explicitamente gerar insatisfação ou que negligenciam o bem estar global, podendo conduzir a atos que contribuam para a geração de insatisfação são moralmente ruins ou imorais;
3.c - Intenções que não dizem em absoluto respeito a terceiros são moralmente neutras ou amorais.
O juízo de valor é feito sobre INTENÇÕES e não sobre AÇÕES, pois uma mesma ação pode ter mais de uma motivação possível, sendo talvez algumas delas nobres (moralmente boas) e outras, perversas (moralmente ruins).
É claro que isso tudo aqui foi posto de uma forma muito simplificada e sem rigor. Provavelmente existem inúmeros buracos na minha exposição, mas pelo menos ela mostra a diferença entre estabelecer uma moral racional e uma "moral" dogmática e arbitrária ditada seja lá por quem for.
Se formos nos calcar em uma moral racional para analisar a prostituição, veremos que, de um modo geral, a intenção por de trás é, no máximo neutra (a garota de programa comercializa o sexo como forma de obter dinheiro para si. É essa geralmente a intenção de uma garota de programa, ou seja, é algo que não diz respeito a terceiros, mas apenas a ela, sendo, portanto, uma intenção moralmente neutra).
Desde um ponto de vista racional, não há nada
a priori que condene moralmente a prostituição. Racionalmente falando, é uma profissão como qualquer outra (exceto pelo fato de não ser regulamentada aqui no Brasil, mas em alguns países já o é). Contudo, como o sexo é ainda um tabu na nossa sociedade (e por séculos foi considerado como algo sujo e ainda é visto assim dentro dos nichos religiosos mais radicais), há todo um conceito estético proveniente de uma carga cultural absorvida pelos indivíduos desde a primeira infância que faz com que a prostituição pareça algo sujo, feio ou moralmente reprovável. Contudo, quando você vai analisar racionalmente a questão você vê que essa visão é completamente ôca, pois não passa de uma mera tradição baseada em um dogma completamente arbitrário. E o mesmo vale para uma série de outros conceitos que nós adotamos sem parar para refletir sobre os devidos porquês de cada coisa.
Não estou negligenciando, de forma alguma, as mazelas que podem estar (mas não nececessariamente estão) associadas à prostituição. O mercado de programas é bastante amplo e existem aspectos trágicos em determinados segmentos - como por exemplo, a prostituição imposta por terceiros (algo ilegal) - mas não é esse o foco dos programas relatados aqui no GPguia. Se nos focarmos especificamente no caso das
freelancers (que, reconheço, são uma parcela ínfima do mercado), o que você tem são mulheres que, por livre e espontânea vontade e sem o intermédio de terceiros, resolveram obter dinheiro de forma rápida vendendo programas sexuais. Do ponto de vista racional, isso não é moralmente condenável.
Alguém pode querer argumentar que não raro a prostituição deixa seqüelas psicológicas (quando não físicas) nas GP's. Realmente, a prostituição é algo bastante insalubre, o que não é de se admirar dado o alto retorno financeiro que tal atividade pode dar em pouco tempo. "Não existe almoço grátis" - dificilmente alguém vai ganhar 30000 por mês sem ter que se esforçar de algum modo. Contudo, note que a palavra-chave aqui é opção, livre arbítrio. Via de regra, não tem Brad Pitt, Johnny Depp e nem Dom Juan procurando os serviços de cortesãs - o que elas vão atender, pelo menos em grande parte dos casos, são homens fora dos padrões estéticos concebidos pela maior parte das mulheres (pelos quais não nutrem qualquer tipo de atração), adúlteros (pelos quais não nutrem qualquer tipo de admiração) e até mesmo homens grosseiros, porcos, com fantasias sexuais bizarras, etc. Quem entra nessa tem que estar consciente que o mercado não é um jardim florido, o dinheiro vem, mas terá que aguentar os clientes, várias horas por dia, vários dias na semana, por no mínimo alguns anos. Não sei quantas saem bem disso, isto é, mentalmente sãs e bem sucedidas financeiramente. Mas o ponto aqui é que, a qualquer momento, se elas quiserem, podem sair dessa vida. A opção é delas. Portanto, se forem vítimas de algo, o serão de si mesmas, da própria ganância - e não dos clientes! Por isso digo que essa "campanha" do Kaká é uma piada de mau gosto. Não bastasse a motivação dogmática, ele não enxerga sequer que - exceto nos casos de "prostituição compulsória" - quem dá a palavra final não são os clientes (homens), mas sim as prestadoras, as GP's (mulheres). Se não houvesse mulheres oferecendo serviços sexuais não haveria clientes pagando por tais serviços. Mas com isso, o que sobraria: direcionar a tal "campanha" às próprias GP's, talvez com o
slogan imbecil - "Mulheres de verdade não se prostituem"?! Faz-me rir...