Eu diria que o auge das baladas em SP foi entre 1994 e 2006. Explico...
1 - Em 1994 o plano Real deu início a estabilização da moeda. Isto abriu espaço para crescimento econômico - havia mais gente com grana para gastar com diversão e diversos novos empreendimentos surgiram. Franz Schubert, Vila Madalena e puteiros de todos os tipos, incluindo os de luxo como Photo e Bahamas, são desta época.
2 - Entre o final dos anos 1990 e início dos anos 2000 SP viu surgir diversas regiões que condensaram baladas, bares, puteiros e cia. As madrugadas eram movimentadas a ponto de ser quase impossível trafegar pelas ruas de Pinheiros e Vila Olímpia. Grandes avenidas como Av. Brig. Faria Lima, com quatro faixas em cada sentido, eram totalmente ocupadas por gente circulando entre bares e baladas, bebendo e azarando tudo e todos nas madrugada de sexta e sábado. As noites começavam num barzinho, se estendiam para uma balada e, por vezes, acabavam num after (baladas que abriam às 4h da madrugada e seguiam manhã adentro) ou puteiros dos mais diversos níveis.
É importante lembrar que os valores que se gastava nesta época com bares, baladas, puteiros, combustível, estacionamentos, comidas e afins, numa noite agitada, se corrigidos para hoje, são assustadoramente impeditivos. Não era incomum gastar o equivalente a um salário mínimo numa única noite. Como o câmbio era mais favorável, o poder de compra e consumo era aproximadamente três vezes maior do que hoje.
3 - Em 2006, após renúncia de José Serra, Gilberto Kassab assumiu a prefeitura de SP. Kassab foi um prefeito disruptivo - baniu cigarros, puteiros e outdoors e apertou o cerco contra baderna, barulho e trânsito causado pelo entra e sai de bares, baladas e afins. A lei do silêncio após às 22h começou para valer. Isto levou a imensa redução dos burburinhos que se formavam em Pinheiros, Vila Madalena, Rua Augusta, Vila Olímpia e Itaim. Ainda havia bares, baladas e puteiros, mas o número destes estabelecimentos foi muito reduzido.
4 - A crise de 2015 deu fim ao que ainda rolava... O crash econômico foi fatal para a maior parte dos bares e baladas. Quase ninguém mais tinha grana para gastar com diversão noturna. Em paralelo, serviço de streaming e assinaturas de games cresceram. Era mais prático e barato gastar R$ 10/mês com Netflix do que R$ 250 a cada noite regular de balada ou R$ 750 numa visita a um puteiro legal sem abusar do bar ou dobrar a hora.
5 - A pandemia terminou de ceifar a badalação noturna que, neste momento, sobrevivia por aparelhos... Ainda existem bares, baladas e puteiros, mas em número e frequência muito, muito inferior ao que havia antes. Os preços estão quase impagáveis e o público que faz questão de sair a noite caiu 98%. Os encontros rolam por aplicativos ou sites de anúncios, serviços de entretenimento caseiro se tornaram muito mais presentes e o burburinho acabou. Muito pouca gente sai de casa para viver aventuras, conhecer alguém, buscar sexo, encher a cara etc, etc...
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Enfim, o contexto mudou. A economia mudou, o momento é outro... Fico grato por poder ter desfrutado do momento mais agitado da noite de SP. Passei alguns anos muito animados, saindo de três a cinco vezes por semana. Havia balada de todo tipo, bebida de todos tipo e com frequência uma noite significava encontrar grupos diferentes em cada etapada da noitada.
Numa sexta o esquenta rolava num barzinho com a turma X, a balada se estendia numa balada com a turma Y - às vezes rolava pegar alguém, às vezes não - às quatro da manhã era hora de encontrar a turma Z na entrada da "casa de todas as casas" para, às 6h30, 7h00, entrar num motelzinho mequetrefe do centro para foder uma GP. Antes de voltar para casa passava na padaria, comia algo e dormia das 10h30 às 18h para acordar de ressaca e repetir tudo de novo na noite de sábado.