Estou lendo um livro chamado A Cama na Varanda, que trata sobre amor e sexualidade humana. Livro muito interessante.
... Gratis-net
Esta semana cheguei no capítulo que trata sobre homosexualidade.
As causas da homossexualidade
Não é somente o Homo sapiens que pratica a homossexualidade.Esta é bastante comum na natureza, onde se pode observar em muitosmamíferos um macho tentando cobrir outro macho, enquanto esteúltimo adota a atitude copulatória própria do sexo feminino. É observado também nos helpers dos pássaros, que ajudam o casal a alimentar os filhotes, mas não participam diretamente da reprodução. As gatas alojadas separadas dos machos exibem todos os padrões decomportamento homossexual. As gaivotas fêmeas, às vezes, se acasalamentre si. Os gorilas machos andam em bando exibindohomossexualidade. As fêmeas dos chimpanzés pigmeus têm relaçõeshomossexuais regulares. Até certos peixes machos ocasionalmente agemcomo fêmea, assim como os patos selvagens e outras aves. "Na verdade,a homossexualidade é tão comum em outras espécies - e ocorre em circunstâncias tão variadas - que a homossexualidade humana chega aser notável, não por sua prevalência, mas por sua raridade."
Sabe-se muito pouco sobre as causas da homossexualidade, seja elao amor entre dois homens ou entre duas mulheres, mas as estatísticasrevelam que 5 a 10% da população do mundo ocidental tem algumaprática homossexual sistemática.Na discussão sobre as causas da homossexualidade há os quepercebem as semelhanças entre homossexuais e heterossexuais einsistem na universalidade da pulsão homossexual, isto é, todosseríamos bissexuais, e há os que ressaltam as diferenças e a especificidade homossexual.
O sociólogo Frederick Whitam foi um dos pesquisadores queestudaram a homossexualidade a partir de uma perspectiva transculturale, como os outros, constatou certo número de dados que não variavam.Ele trabalhou em várias comunidades homossexuais de países tãodiferentes como os Estados Unidos, a Guatemala, o Brasil e as Filipinas echegou a seis conclusões:
1. Homossexuais existem em todas as sociedades.
2. A porcentagem de homossexuais parece ser a mesma em todasas sociedades e mantém-se estável no tempo.
3. As normas sociais não impedem nem facilitam a emergência daorientação homossexual.
4. Subculturas homossexuais aparecem em todas as sociedadesque têm uma população suficientemente grande.5. O comportamento e os interesses dos homossexuais dasdiferentes sociedades tendem a ser parecidos.6. Todas as sociedades apresentam um
continuum similar de homossexuais masculinos e femininos."Tudo isso faz pensar que a homossexualidade não foi criada poruma forma particular de organização social, mas seria antes uma formafundamental de sexualidade, que se exprime em todas as culturas."
São várias as hipóteses da origem da homossexualidade. ParaFreud, o ser humano é biologicamente bissexual. Todos nasceríamos comum impulso sexual dirigido tanto para pessoas do sexo oposto comopara as do mesmo sexo. A orientação sexual - homo ou hetero - seriadeterminada na infância. A homossexualidade seria uma variação dafunção sexual provocada por certa interrupção do desenvolvimentosexual. A forma como é vivida a relação amorosa da criança com a mãe,na fase em que ocorre o complexo de Édipo, determina se a direçãoheterossexual ficará bloqueada ou a homossexual estimulada. O Relatório Kinsey publicado em 1948 contribuiu para a tese dabissexualidade humana. Nele é apresentado o continuum hetero-homossexual e a fluidez dos desejos sexuais. Numa escala de zero a seis, a tendência heterossexual e homossexual existiria na maioria daspessoas.
A inclinação heterossexual exclusiva teria o grau zero, variandoaté a inclinação homossexual exclusiva no grau seis da escala. Cada grauintermediário corresponde a uma proporção mais ou menos forte deinclinação homossexual ou heterossexual. Foram pesquisados por Kinseye seus colaboradores 16 mil americanos, e os resultados mostraram que,embora apenas 4% da população masculina fosse exclusivamentehomossexual desde a puberdade, 37% dos homens e 19% das mulherestiveram, entre a puberdade e a idade adulta, pelo menos umaexperiência homossexual culminando em orgasmo. Pouco tempo depois,Masters e Johnson confirmaram em suas pesquisas as teses de Kinsey
O novo Relatório Kinsey, com pesquisas realizadas nos anos 1969-70com homossexuais da cidade de São Francisco (EUA), reforçou osresultados do relatório de 1948, mas insistiu especialmente nadiversidade das homossexualidades.Shere Hite, numa pesquisa mais recente, com sete mil americanos,confirma os trabalhos anteriores. Inúmeros rapazes (mais de 40%), queem sua maioria se tornaram homens heterossexuais, tiveram relaçõessexuais com outros rapazes quando eram meninos ou adolescentes, emuitos homossexuais não tiveram.
Outros autores não aceitam a idéia de uma homossexualidadeuniversal. Para Robert Stoller, "a homossexualidade não é uma doença. Éuma preferência sexual e não um conjunto de sinais e sintomasuniformes; mas só pertence aos homossexuais, que são diferentes dosoutros e formam, portanto, uma minoria. (...) mas é inexato confundi-loscom os heterossexuais".
R. Friedman tem a mesma opinião de Stoller e tentou provar que "amaioria dos homens heterossexuais não tem predisposição para ahomossexualidade inconsciente e, inversamente, a maioria dos homenshomossexuais exclusivos não tem predisposição para umaheterossexualidade inconsciente... O que existe é uma minoria dehomens bissexuais forçados a reprimir, seja suas fantasias homossexuais,seja suas fantasias heterossexuais".
Partindo da idéia de que a homossexualidade é uma característicaprópria de alguns e não de outros, foram consideradas as hipóteses deanomalia endócrina, anomalia genética ou fatores físicos.Atualmente, a maioria dos pesquisadores inclina-se pela hipótesede uma influência endócrina pré-natal sobre a orientação sexual. Seexiste uma orientação hormonal do comportamento, seria produzida navida embrionária, quando os hormônios sexuais sexualizam o sistemanervoso em todos os níveis. A homossexualidade estaria associada, emparte, a alterações no cérebro fetal. Algumas semanas depois daconcepção, os hormônios fetais começam a esculpir os genitaismasculinos e femininos, e supõe-se que esses hormônios podem tambémcompor o cérebro fetal masculino e feminino. A forma como é dado esse banho hormonal determina a orientação sexual da pessoa durante suavida.
"Sempre fui e serei gay. Nasci assim." Esta declaração foi dadarecentemente aos jornais pelo americano Dirk Shaffer, que ironicamentefoi eleito em 1992 o Homem do Ano da revista feminina
Playgirl.
Ao longo desse período, Shaffer apareceu em revistas e talk-shows dosEstados Unidos como o símbolo do macho da América e o homem maisdesejado pelas mulheres. Usando uma amiga como falsa namorada e,quando necessário, escondendo o namorado dentro do banheiro, elefingiu ser heterossexual durante um ano até acabar seu contrato com arevista. Perguntado se, quando as mulheres se jogavam a seus pés, emalgum momento desejou ser heterossexual e pegar logo uma mulherdaquelas e não precisar mais fingir nada, Shaffer respondeu: "Váriasvezes. Mais de uma vez eu quis gostar de mulher e ser hetero, ochamado normal. Mas sempre fui e serei gay. Nasci assim. Acredito queisso não é uma escolha. A pessoa nasce gay, como nasce de olhoscastanhos ou azuis."
Alguns dias depois, o Jornal do Brasil publica uma entrevista comChandler Burr, jornalista especializado na área científica, que acabara delançar, nos Estados Unidos, A separate creation
— The search for biológica/origins of sexual orientation, em que cita vários estudos em andamentopara defender a tese de que a homossexualidade é determinadabiologicamente desde a fecundação. Transcrevo a seguir alguns trechosda entrevista dada ao jornalista Renato Aizenman:
— Qual é a principal conclusão de seu livro?
— A principal conclusão é a de que a orientação sexual humana, tantono caso da homossexualidade como no da heterossexualidade, é determinadageneticamente antes mesmo do nascimento. Trata-se de uma determinaçãoexclusivamente biológica e não há fator social que possa criá-la ou mudá-la. Ahomossexualidade é imutável.
— Pode-se dizer, então, que todo gay já nasce gay?
— Sim, com certeza, e isso se aplica tanto aos homens quanto àsmulheres.
— Que tipo de pesquisas científicas foram utilizadas para embasar seu livro?
— Há duas vertentes de pesquisas sobre o assunto. Uma é a pesquisa clínica, na qual se estuda o aspecto exterior das pessoas. Ela procuraresponder à pergunta "O que é a homossexualidade?". Outra é a pesquisagenética, que se detém no interior dos cromossomos e quer responder àpergunta "O que causa a homossexualidade?". Ambas apontam atualmentepara a conclusão de que a homossexualidade é uma característica genéticaminoritária entre os humanos, e que é transmitida através das gerações de umamesma família. Todas as pesquisas indicam que se pode comparar os gays aoscanhotos. Algumas pessoas simplesmente nascem canhotas e não há nada quese possa fazer a respeito. Estas duas características genéticas têm, inclusive,uma incidência bastante parecida na humanidade.
— Sabe-se que a obrigação de escrever com a mão direita é prejudicial aodesenvolvimento dos canhotos e pode, inclusive, gerar um comportamento agressivo da parte deles, O mesmo acontece com os homossexuais?
— Sim. Você pode forçar um canhoto a escrever com a direita, assimcomo pode forçar um gay a ter relações com o sexo oposto. Mas em ambosos casos estará impelindo essa pessoa a agir contra a sua natureza. Isso causaránela uma profunda dor e angústia, que podem gerar distúrbios mentais.
— Como é a aceitação da teoria do gene gay dentro da comunidade científica?
— Todos os cientistas hoje aceitam o fato de que a homossexualidade éuma característica de nascença e concordam que a metodologia usada naspesquisas de busca do gene gay é bastante eficiente. Mas ainda precisamossaber qual é exatamente esse gene e como a proteína específica que ele produzatua nas moléculas.
— Em que época da vida de uma pessoa o gene gay começa a se manifestar?
— Muito cedo. Eu, por exemplo, soube que era gay quando tinha 6anos de idade. Não sabia o que era homossexualidade, mas sabia que eradiferente dos outros garotos. O mesmo acontece com a maioria dos homens e mulheres gays.
— A existência do gene gay botaria abaixo todas as teorias psicanalíticas até agora aceitas a respeito da homossexualidade?
— As explicações psicanalíticas para a homossexualidade, desde Freudaté hoje, são completamente ridículas. Muitos pais, quando percebem umcomportamento sexualmente inverso em seus filhos, levam-nos correndo aopsicanalista. Isso é inútil.
— A existência do gene gay pode ajudar homossexuais no relacionamento com omundo hetero?
— O fato de a homossexualidade ser decorrência de uma imposiçãogenética mostra a nossos pais, amigos e colegas que somos pessoascompletamente normais, saudáveis, felizes e boas. Apenas a natureza quis quenossa orientação sexual fosse diferente da maioria.
— Um filho gay pode então alegar aos pais que, se ele é homossexual, herdou essa característica da própria família?
— A orientação sexual é transmitida através das gerações do mesmomodo que os olhos azuis. Se uma família tem ou teve algum gay entre seus membros, as estatísticas mostram que é provável que existam ou apareçamoutros. No caso do gene gay, está provado que ele é herdado sempre da mãe.O que não quer dizer que mães de filhos gays devam começar a se sentirculpadas por isso. Pelo contrário, a existência do gene gay prova que não háculpa de parte alguma. É apenas a natureza agindo.