Há muita coisa postada aqui que eu gostaria de comentar com mais profundidade, mas é melhor ir direto a alguns pontos.
a) sobre ser o PSTU e o PSOL a esquerda brasileira: o PSTU foi uma criação de algumas "tendências" (grupos que compunham o PT na sua formação, oriundos de movimentos de esquerda vários que antes viviam na clandestinidade sob a ditadura militar, como a Libelu e setores do PCdoB que aderiram à criação do PT em 1980) que se sentiram excluídas da participação do poder quando o PT sagrou-se vitorioso nas primeiras eleições (prefeituras e cargos no legislativo no final dos anos 1980). O grupo Articulação do qual faziam parte Lula, Zé Dirceu e a maioria dos quadros de destaque tinha um poder interno inconteste e insuperável, de maneira a estabalecer as regras de divisão do poder de acordo com a sua vontade. As demais "tendências" se viram desprestigiadas, algumas se acostumaram a essa divisão de poder, outras não. Destas últimas, algumas foram simplesmente expulsas do PT (como a Convergência Solcialista) e outras formaram o PSTU. Das "tendências" que sobraram, algumas tentaram continuar a disputar o poder com a Articulação, sem muito sucesso, porque o Zé Dirceu "dirigia" o partido com habilidade (ou mãos-de-ferro) e quando o PT ganhou a Presidência da República, essas "tendências" remanescentes definitivamente ficaram sem poder interno. Daí que alguns quadros resolveram sair do PT (antes de serem expulsos) e fundar o PSOL. No final das contas, é de se perguntar se esses grupos "mais à esquerda" do PT eram mesmo "mais à esquerda" ou simplesmente eram gente desprestigiada no poder interno do PT. Essa pergunta é importante para se saber se hoje, constituídos ou reorganizados em partidos independentes (e não mais como "partidos internos" incrustados dentro do PT), seguem ainda aquela velha cartilha que pregava o socialismo. Me parece que não. Pelo que vejo, não passa de um pessoal que quer única e exclusivamente obter cargos, mesmo sem muito destaque ou poder de fato, apenas para se manter envolvido na política do País, sem que isso implique em terem de assumir grande ou ao menos alguma responsabilidade. Não é a toa que nunca disputam uma Prefeitura ou um governo de Estado com seriedade, querem apenas marcar posição, porque não têm projeto de poder de fato.
b) as eleições de 2010 estão longe ainda, a bem da verdade, e muita coisa pode acontecer em 1 ano e 10 meses. Se a Dilma hoje é uma desconhecida, pode não sê-lo até lá. E o Serra, que hoje goza da benevolência da imprensa (e não adianta alguém dizer que não) e da boa vontade da população, pode deixar de estar nas graças no ano que vem. Obviamente o Lula não disputará um terceiro mandato e quem imagina isso é porque não tem noção de como se dá uma modificação na Constituição e acredita nas bobagens que a imprensa fala quando faz um paralelo com a Venezuela de Hugo Chavez. Mas nada impede o Lula de se candidatar em 2014. De qualquer forma, não é muito produtivo discutir agora que irpá vencer as eleições de 2010. Eleições podem ser definidas em menos de um mês, como foi o caso do Brizola em 1982, do Jânio em 1985, do Quércia em 1986, da Erundina em 1988 e do Kassab em 2008. Pesquisas de um mês antes indicavam a vitória de outros candidatos. Bobagem queimar pestana quase 2 anos antes.
c) Infelizmente, como ocorre não só no Brasil, mas em todo e qualquer país, prevalecerá como melhor a imagem do político que souber jogar bem com o marketing. De minha humilde opinião, não vejo de forma alguma um governo Serra como sendo melhor do que foi e tem sido o governo Lula. Não caio nessa conversa fiada de que o governo Lula foi o mais corrupto da história. Sei de falcatruas que aconteceram nos governos Mário Covas, FHC e José Serra que nunca foram para a imprensa simplesmente porque não interessava para a imprensa. Nisso, em nada diferem os governos do PSDB do PMDB paulista de Orestes Quércia, que "salvou" vários jornais que estavam mal das pernas, como o Estadão, nos anos 1980 e início dos 1990. O que importará na "formação de opinião" é o que a imprensa disser ser a verdade. Sendo assim, não adianta tudo o que é publicado. Ler jornal demais não vai fazê-los estarem mais informados. Se não acreditam, leiam as seções "cartas dos leitores" dos vários meios de comunicação. Verão quanta imbecilidade é escrita por quem em tese é bem informado, apenas porque que lê jormal.
d) a cidade de São Paulo "aparenta" estar mais limpa do que em outros tempos, mas isso não é bem verdade. Sucede que "em alguns setores" da cidade, a limpeza tem sido realizada como se cuida de uma vitrine de uma loja de roupas. Se forem ver "o estoque" dessa loja, perceberam que a sujeira ainda impera aqui. Basta ir à periferias, como Paraisópolis, ou em bairros centrais em decadência, como a Santa Efigência (que continua sendo a Cracolândia), Bom Retiro, Bixiga e Vila Buarque (que ainda é a Boca do Lixo, com seus pontos de travestis e tráfico de drogas). Os Jardins, Higienópolis, Pacaembu, Morumbi, Av. Paulista e Moema têm sido muito bem cuidados, como sempre foram. Se o presidente dos EUA forem visitar o consulado americano, verá que por ali a cidade está uma beleza. Mas e os habitantes de São Miguel Paulista e da Brasilândia? Não discordo que o Brás está melhor, ao menos nas imediações das lojas. Mas está assim porque o eleitorado do Kassab está lá. Vá ver se num bairro como Rio Pequeno, onde o PT ainda tem uma votação expressiva, a limpeza tem sido feita com esse rigor. E se há menos camelõs hoje do que havia no tempo da Erundina e da Marta, é porqueo Kassab fez "acordos" mais eficientes com esses camelôs. De outro lado, lembro que nos lugares onde a Marta teve mais votos eram justamente os lugares em que havia mais cuidado por parte da Prefeitura quando ela era Prefeita. Em bairros da periferia, por exemplo, nem pontos de ônibus cobertos haviam e a Marta pelo menos fez isso. E instalou vários CEUs. Então, pra "esse pessoal", a Prefeitura da Marta foi melhor do está sendo a do Kassab. Mas os Jardins, indubitavelmente ficaram mais sujos durante o governo da Marta. É tudo relativo, portanto. Na Vila Maria, até hoje reverenciam o Jânio Quadros, mas ele foi uma bosta de prefeito para vários outras regiões da cidade. Não adianta manifestar opinião sobre a qualidade de um determinado Prefeito se não se olha para a cidade como um todo.
e) infelizmente, as coisas funcionam assim e não sei se culpo o Kassab e o resto dos políticos por agirem assim. Afinal, o povo que mais reclama é justamente quem não paga IPTU nem Imposto de Renda. A população que mais reclama não paga conta de luz nem de água, porque faz gambiarra nas favelas e nos cortiços. Então, sob essa lógica de que o direito deve corresponder a uma obrigação, a maior parte da população da cidade não tem porque reclamar de direitos, já que não cumpre com nenhuma obrigação em contrapartida. No final, a conclusão é mesmo essa: que se foda o povo! Os políticos devem pensar assim: "vamos cuidar de quem dá apoio e dinheiro para o poder público, ou seja, as classes A e B, e o resto que só reclama e não dá nada em troca, que vá pra puta que o pariu". Será que eles estão errados?
f) o que me leva a considerar que os políticos nada mais são do que um reflexo da sociedade na qual estão inseridos. Filhos-da-puta estão por todo o lugar: médicos dos hospitais públicos, funcionários desses hospitais, que são todos insensíveis às misérias dos pacientes, taxistas que aumentam as corridas pra ganhar mais, corretores de imóveis que agem para armar grandes arapucas, gerentes de bancos, donos de bares, fregueses dos bares, motoristas de ônibus, passageiros dos ônibus, traficantes, moleques que espancam outros nas escolas, babás que batem em crianças e bebês de colo, filhos que batem nos pais idosos, etc., etc. e etc. A sociedade brasileira é um grande balaio de gatos e todos gatos filhos-da-puta, onde as boas pessoas são exceções. Nesse contexto, vocês continuam a achar que os políticos são os grandes filhos-da-puta do País? Vocês continuam a achar que o povo merece respeito? Eu acho que sim, mas igualmente acho que a nossa sociedade deve mudar, deve se dar mais ao respeito e deve merecer o respeito dos políticos.
g) depois do que aconteceu no bairro ( e não favela) de Paraisópolis, alguém ainda acredita que a desigualdade social não é fator desencadeador da violência? Um dos bairros mais pobres de São Paulo convive, lado a lado, com um dos mais ricos, o Morumbi. É gritante o abismo que existe entre essas duas "comunidades", de maneira que somente alguém com cérebro de ostra ou com complexo de vira-lata (citando Nelson Rodrigues) não iria se revoltar, vivendo em Paraisópolis e tendo que olhar para o luxo desmedido das mansões do Morumbi. Claro que não estou justificando o que aconteceu, de jeito nenhum, mesmo porque foi uma ação de bandidos, não um legítimo movimento da população carente. Mas esse abandono em que vive a maior parte da população brasileira não pode ser varrido para debaixo do tapete. Discordo do ex-presidente Washington Luiz que na década de 1920 disse que "a questão social é caso de polícia". Não é, o Estado (Municípios, Estados e União) deve desenvolver projetos (e aplicá-los) que promovam a redução da desigualdade social. Do contrário, não chegaremos a lugar nenhum como país e como sociedade.
h) por fim, vocês viram o escândalo das merendas das escolas municipais? Afinal de contas, a atual administração do senhor Kassab não é tão competente ou honesta quanto se propaga.