Nazrudin escreveu:Compson, contemporiza que o bufão do Chávez não foi um fracasso absoluto, foi um fracasso relativo...
Isso é impossível, pois meu interlocutor propõe uma noção safada de "fracasso absoluto" que, a rigor, não se aplica a nada.
Mistar Gaga escreveu:Absoluto é absoluto, caralho!! Absoluto significa total, sem espaços para qualquer lampejo de sucesso.
Segundo esse conceito, o Plano Cruzado não foi um "fracasso absoluto", pois embora não tenha conseguido fazer nada do que se propôs, pelo menos levou o então governador de São Paulo, Orestes Quércia, a ameaçar mandar a Polícia Federal para laçar boi no pasto, o que não é apenas um "lampejo de sucesso", mas uma realização cômica poucas vezes vista na história da política.
Ora, Gaguinho, o sucesso ou o fracasso de uma política, de um governo se mede por seus objetivos e pela causalidade de suas ações sobre os resultados, não por ter acontecido uma ou outra coisinha legal nesse meio tempo...
Vejamos, Chávez e seu bolivarianismo tinham duas propostas básicas:
(1) Uma política externa agressiva e independente, que contrariasse os interesses dos países ricos e elevasse a Venezuela a liderança regional e setorial entre os produtores de petróleo;
(2) O desenvolvimento de um novo modelo econômico, com franca estatização da economia, melhorias dos indicadores sociais com distribuição de renda e ampliação da rede de bem-estar social, o que alguns delirantes chegaram a chamar de "socialismo do século XXI".
Pois bem, se eu argumentar que esses dois pontos não foram cumpridos ou, ainda, que seu cumprimento não decorreu de medidas do governo Chávez, posso sim afirmar que este se trata de um fracasso absoluto!
O ponto (1) é ridículo... Ninguém fora da América Latina dá a menor pelota para a Venezuela. O país entrou pro Mercosul só o ano passado (e meio que no tapetão) e em nada ampliou sua influência junto à OPEP. No cenário mundial, a Venezuela se isolou politicamente e seus principais parceiros são países ainda mais isolados, como Cuba e Irã... Na América Latina, ninguém rejeita, mas também ninguém abraça o bolivarianismo e a esfera de influência do país se limita a Bolívia e Equador. Enfim, a Venezuela não progrediu nada como liderança internacional, se é que não regrediu. Se o país recebeu um pouco mais de atenção da mídia é por causa das micagens de seu presidente, não do aumento de sua força...
O ponto (2) é o que os defensores do país afirmam como o grande sucesso do governo. De fato, a desigualdade social caiu, os indicadores de saúde, educação etc. subiram e a renda cresceu significativamente. Só tem um problema: isso aconteceu em quase todos os países da América Latina no período, desde os de governos de esquerda, como Venezuela, Bolívia e, vá lá, Brasil, até os mais alinhados com os EUA, como México e Chile. É de se suspeitar, portanto, que tais melhoras tenham muito pouco a ver com o perfil ideológico do governo.
Aliás, se o Gaguinho aí, que gosta tanto de falar em sociedade, política etc., estudasse um pouco de história, veria que a primeira década do século XXI resolveu para os países latino-americanos um problema estrutural que atravancava seu desenvolvimento desde a independência: as crises externas cíclicas que sempre colocavam os países à beira da falência. Isso aconteceu por dois motivos: a famigerada melhora nos termos de troca, com diminuição da diferença de preços entre matérias-primas, que a AL exporta, e produtos industrializados, que ela importa, e a enorme disponibilidade de dólares no mercado internacional, que reduziu o risco de crises cambiais e permitiu aos países acumularem reservas e converterem sua dívida externa em moeda doméstica.
Pois bem, se a situação internacional melhorou consideravelmente para os países latino-americanos em geral, ela melhorou muuuuito mais para a Venezuela, como mostra aquele gráfico dos termos de troca, que o Gaguinho não gostou, pois faz suas convicções parecerem merda. Mesmo assim:
- o país teve um desempenho no IDH apenas ligeiramente superior que a América Latina e pior que muitos outros países (caiu no ranking);
- o país, como a Argentina, está virtualmente falido em dólares;
- o país, como a Argentina, vive à beira de uma crise cambial.
Por fim, o desenvolvimento de um novo modelo econômico não tem nem que discutir: o que Chávez fez foi estatizar o setor de petróleo e aplicar políticas sociais. Ponto... Não tem nada de inovador em relação a qualquer surto latino-americano de nacionalização, como ocorreu nos anos 1930 e 1950.
Enfim, negados os itens (1) e (2), não vejo porque hesitar em dizer que o governo Chávez foi um fracasso absoluto e que o país poderia estar muito melhor com outro governo.
Ah, mas e o povo nas ruas, é todo mundo burro? Claro que não, Chávez conseguiu identificar-se com as melhorias de vida da população, que realmente ocorreram. Acho que essa identificação é equivocada, posso estar errado, mas é minha opinião.
Ah, mimimi, mas era Chávez ou os lambe-bolas dos americanos que iam entregar todo o petróleo e distribuir os ganhos entre seus pares das elites, impedindo a melhora das condições sociais. Dois problemas: quer mais lambe-bolas de americanos do que os governantes do México? Por que os indicadores sociais melhoraram por lá também então?
Além disso, pode até ser que a alternativa fosse essa, Chávez ou o entreguismo; mas o Chávez bolivariano não era a única alternativa a ele mesmo!