Antes de mais nada, lembremos os dois vídeos:
(1)
http://www.youtube.com/watch?v=iNAolrMSioU
(2)
http://www.youtube.com/watch?v=oHthT-YtNSo
Trata-se do antigo espaço do DCE que foi desalojado em 2007 (!) para uma reforma eterna. Se não me engano, em 2010, os estudantes reocuparam o local.
Em (1), o policial (não sei com que base legal) finge que está dialogando para convencer os alunos a sair. Na primeira intervenção do rapaz negro ela dá um chilique e pergunta se ele é aluno da USP (como se isso fosse relevante). O rapaz responde que sua palavra basta (e de fato basta, já que o militar pode pedir documento de identificação, mas não é bedel pra ficar pedindo carteirinha da USP, nem o acesso de não alunos é vetado na universidade), o gordinho tem um chilique e arrasta o moleque pra fora do prédio, chegando inclusive a sacar a arma.
Em (2), alguns minutos depois, o mesmo policial fica dando ordens desparatadas de desocupação, os alunos o chamam ostensivamente de racista em sua cara, o rapaz negro mostra sua identificação de aluno e (um pouco intimidado) vai provocá-lo e ele fica dizendo que "não fez nada de errado" e responde coisas como "vocês não sabem nada de abuso de autoridade", "o que vocês sabem sobre racismo?".
Agora vejamos qual é o argumento mais consistente do oGuto:
oGuto escreveu:Portanto, não vejo no que esse fato torne idiota alguém que, como eu, defenda a Polícia Militar (de São Paulo, fique bem claro).
A não ser que alguns acreditem que tenho estado aqui a defender ilegalidades ou o soldado “fulano”, o sargento “ciclano” e o coronel “das quantas”, e não a instituição Polícia Militar.
Não vejo como dissociar a relação entre um sargento que não tem o menor controle de seus atos e a instituição que lhe entrega uma farda, uma arma e uma autoridade. Não se trata de uma reação ocasional e descontrolada, sob circunstâncias de grande stress, mas simplesmente do (mal) caráter do cidadão: do cara que finge que discute, mas acha que discussão é só um jeito mais "democrático" de dar ordem e, quando perdida, basta partir para os finalmentes contra aqueles que parecem mais vulneráveis.
Das duas uma:
ou (1) os critérios da PM são totalmente inadequados a ponto de conceder distintivo a um cara desse ou (2) esse é justamente o tipo de caráter que a instituição procura.
Em caso de (1), esqueça o "preparo e competência"; em caso de (2), assuma o cinismo.
A julgar por quem os defende, creio que seja o segundo caso:
oGuto escreveu:Talvez, ainda, somente uma pragmática demonstração de igualdade racial, a comprovar que ser negro não é nenhum impeditivo para se tomar umas bordoadas da polícia (às vezes deve cansar bater somente nos branquelas).
Veja que esse acontecimento foi tão interessante que até o cordeirinho do oGuto mostrou a cara, primeiro tirando um sarro do seríssimo problema do racismo policial (mas
cadê o wheresgrelo?); depois tratando com naturalidade o fato dos cidadãos tomarem "umas bordoadas da polícia", mostrando que, quando o referido forista falava de "preparo e competência", não se tratava de preparo e competência para resolvir conflitos, mas para reprimir violentamente um dos lados.
Mas desde quando a PM tem mandato para ficar dando bordoadas em quem quer que seja?
Por que o PM não deu uma "demonstração de igualdade racial" tratando o estudante negro da mesma forma que tratava os estudantes brancos?
Naturalidade, aliás, nada supreendente: se o sarnento, digo, sargento teve coragem de fazer isso em plena luz do dia, numa universidade pública e sob olhar das câmeras, o que não ocorrerá nas noites escuras da periferia?
No mais, aconselho mesmo o WG a não aparecer na discussão, pois já sabemos em quem os PMs (e seus lambe-botas) descontam a raiva quando estão acuados...