Crise no Egito - População Invade as Ruas e Exige Renúncia do Ditador

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#211 Mensagem por Bob Guccione » 20 Out 2011, 12:01

Tricampeão escreveu:O Gaddafi já recuperou quase todo o pedaço de deserto que vem governando há décadas.
E pensar que, quando eu postei que o golpe ensaiado pelos gringos filhos da puta na Líbia não tinha importância nenhuma, a turminha do mimimi só faltou quebrar o teleprompter do William Bonner nas minhas costas.
Espero que agora tenha ficado claro para todos os analfabetos funcionais que não se faz revolução sem movimentos sociais.
Anotem aí, analfabetos funcionais, para não passarem vergonha da próxima vez: não se faz revolução sem movimentos sociais.
Anotem aí, analfabetos funcionais, para não passarem vergonha da próxima vez: o William Bonner não entende porra nenhuma do que está acontecendo no mundo, assim como vocês. Ele também é um analfabeto funcional: só lê o teleprompter que deram pra ele.
Anotem aí, analfabetos funcionais, para não passarem vergonha da próxima vez: é no Bahrein que estão acontecendo coisas importantes. E também no Oman, no Iêmen e no Djibuti, que o William Bonner nem sabe onde fica.
Nada como um dia após o outro.

Quebrou a cara, hein?

Bob Guccione
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#212 Mensagem por Bob Guccione » 20 Out 2011, 12:03

Tricampeão escreveu: Mais uma vez veremos que a mudança real nunca é obtida por meios pacíficos. Ou os egípcios arrotam grosso ou fica tudo do mesmo jeito.
O povo líbio seguiu o conselho do nobre forista Tricampeão e "arrotou grosso".

Como a mudança real nunca é obtida por meios pacíficos, Gaddafi morreu como um cão.

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Re: Re:

#213 Mensagem por Compson » 20 Out 2011, 12:10

Bob Guccione escreveu:
Tricampeão escreveu:O Gaddafi já recuperou quase todo o pedaço de deserto que vem governando há décadas.
E pensar que, quando eu postei que o golpe ensaiado pelos gringos filhos da puta na Líbia não tinha importância nenhuma, a turminha do mimimi só faltou quebrar o teleprompter do William Bonner nas minhas costas.
Espero que agora tenha ficado claro para todos os analfabetos funcionais que não se faz revolução sem movimentos sociais.
Anotem aí, analfabetos funcionais, para não passarem vergonha da próxima vez: não se faz revolução sem movimentos sociais.
Anotem aí, analfabetos funcionais, para não passarem vergonha da próxima vez: o William Bonner não entende porra nenhuma do que está acontecendo no mundo, assim como vocês. Ele também é um analfabeto funcional: só lê o teleprompter que deram pra ele.
Anotem aí, analfabetos funcionais, para não passarem vergonha da próxima vez: é no Bahrein que estão acontecendo coisas importantes. E também no Oman, no Iêmen e no Djibuti, que o William Bonner nem sabe onde fica.
Nada como um dia após o outro.

Quebrou a cara, hein?
Deveria perguntar ao Gilmor, que é o Tricampeão pós-lobotomia...

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Re: Re:

#214 Mensagem por Gilmor » 20 Out 2011, 12:35

Compson escreveu:
Bob Guccione escreveu:
Tricampeão escreveu:O Gaddafi já recuperou quase todo o pedaço de deserto que vem governando há décadas.
E pensar que, quando eu postei que o golpe ensaiado pelos gringos filhos da puta na Líbia não tinha importância nenhuma, a turminha do mimimi só faltou quebrar o teleprompter do William Bonner nas minhas costas.
Espero que agora tenha ficado claro para todos os analfabetos funcionais que não se faz revolução sem movimentos sociais.
Anotem aí, analfabetos funcionais, para não passarem vergonha da próxima vez: não se faz revolução sem movimentos sociais.
Anotem aí, analfabetos funcionais, para não passarem vergonha da próxima vez: o William Bonner não entende porra nenhuma do que está acontecendo no mundo, assim como vocês. Ele também é um analfabeto funcional: só lê o teleprompter que deram pra ele.
Anotem aí, analfabetos funcionais, para não passarem vergonha da próxima vez: é no Bahrein que estão acontecendo coisas importantes. E também no Oman, no Iêmen e no Djibuti, que o William Bonner nem sabe onde fica.
Nada como um dia após o outro.

Quebrou a cara, hein?
Deveria perguntar ao Gilmor, que é o Tricampeão pós-lobotomia...

Não sei se o forista Tricampeão se referia ao colega ao mencionar “analfabetos funcionais” mas o fato é que posso ter discordado de seus argumentos, mas jamais lhe ataquei pessoalmente como o colega fez agora e de forma gratuita.

Perceba que tal linha de retórica (falácia ad hominem) é desprovida de base lógica e deletéria ao debate de idéias.

Jamais manifestei-me em favor do déspota em tela, no entanto, torço para que o poder seja restituído ao povo para que dele não se apropriem os imperialistas de plantão.

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Re: Re:

#215 Mensagem por Compson » 20 Out 2011, 12:52

Gilmor escreveu:Não sei se o forista Tricampeão se referia ao colega ao mencionar “analfabetos funcionais” mas o fato é que posso ter discordado de seus argumentos, mas jamais lhe ataquei pessoalmente como o colega fez agora e de forma gratuita.

Perceba que tal linha de retórica (falácia ad hominem) é desprovida de base lógica e deletéria ao debate de idéias.

Jamais manifestei-me em favor do déspota em tela, no entanto, torço para que o poder seja restituído ao povo para que dele não se apropriem os imperialistas de plantão.
Foi mal, só quis dizer que seus argumentos são parecidos com os do Tricampeão, só que numa versão menos enfática (lobotomia não por incapacidade mental, mas por uma certa falta de ênfase).

Mas concordo que não teve nada a ver colocar você nessa história do Kadaffi... :oops:

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Re: Crise no Egito - População Invade as Ruas e Exige Renúncia do Ditador

#216 Mensagem por Compson » 22 Jan 2012, 20:22

A volta do parafuso
A Tunísia um ano após a queda de Ben Ali

VLADIMIR SAFATLE


RESUMO
O filósofo Vladimir Safatle publica o primeiro texto sobre sua viagem a países que onde ocorreu a Primavera Árabe, um ano depois das revoltas populares que abalaram regimes autoritários: Tunísia, Egito, Israel e Palestina. Em Túnis, registra a tensão entre valores democráticos e o risco de islamização.

Uma revolução é como um parafuso: pode dar muitas voltas. A metáfora talvez não seja poeticamente inspirada, mas nem por isso deixa de ser apropriada.

Compreender acontecimentos como revoluções implica a capacidade de acompanhar processos nos quais, muitas vezes, os sinais se invertem, novos riscos aparecem e aberturas inesperadas se fazem sentir. Revoluções se decidem no desdobrar vagaroso desta vida ordinária, na qual o entusiasmo revolucionário nada encontra.

Por isso, elas exigem certa humildade do pensamento. Não é difícil legislar sobre o que deve ser um acontecimento, sobre como ele deve se desdobrar.

Mais difícil é admitir que devemos ir aonde tais acontecimentos ocorrem, observar lugares, entrevistar pessoas, abrir mão de certos pressupostos, isso se quisermos realmente pensá-los. Não se descobre nada a distância -e não há nada melhor que uma revolução para mostrar isso.

Hegel lembrou que o verdadeiro pensamento era como a coruja de Minerva: só aparece no final do dia, quando temos a impressão de o mais importante já ter ocorrido.

Essa propensão noturna do pensamento não é covardia, mas a astúcia de quem sabe que nunca se avalia um acontecimento de forma isolada. Avalia-se uma sequência de fatos que, no desdobrar do tempo, impõem tendências. Um filósofo espera. Por isso, esperei um ano até ir à Tunísia.

NARRATIVA HEGEMÔNICA
Desde a queda do Muro de Berlim, em 1989, a grande narrativa geopolítica hegemônica afirmava haver apenas uma via de modernização social, esta presente nos países ocidentais de democracia liberal.
Contra isso, só teríamos agora a possibilidade de recuperação de alguma modalidade de laço comunitarista forte se ela fosse patrocinada pela religião. Nesse sentido, o mundo árabe, com suas repúblicas islâmicas do tipo iraniano, seria o melhor exemplo de tal tendência.

No entanto, 2011 talvez entre para a história como o ano no qual tal narrativa entrou em colapso. Enquanto as democracias liberais desagregavam lentamente sua substância normativa -isso por meio da mudança sistemática de leis sobre asilo, proteção social, imigração, privacidade-, o mundo árabe descobria a sublevação popular. Quando os tunisianos saíram às ruas gritando: "O povo exige", vários ouviram o nascimento do modelo de uma nova demanda de democracia real.

Essa demanda apareceu posteriormente em cidades como Atenas, Madri, Roma, Nova York, Tel-Aviv e Santiago. O mundo foi sacudido por grandes manifestações organizadas à margem de partidos, com uma extensa pauta de transformação da vida social, tão extensa quanto a palavra fundamental que guiou os manifestantes tunisianos na derrubada do governo de Ben Ali, em 14 de janeiro de 2011: "Dignidade".

HOJE

Mas qual é a situação da Tunísia hoje, um ano após sua revolução? "Para compreendê-la, você deve entender os riscos de uma revolução espontânea", diz Lassad Jamoussi, professor de literatura comparada da Universidade de Sfax e presidente da Liga dos Direitos do Homem. "Os acontecimentos que produziram a Revolução Tunisiana não foram dirigidos por um partido organizado ou por lideranças claras."
Hamadi Redissi, professor de direito da Universidade de Túnis e autor do instigante "A Tragédia do Islã Moderno" (Seuil, 2011), concorda: "Quem fez a revolução foram jovens diplomados e desempregados, ciberativistas e sindicatos". (O país tem uma longa tradição de organização sindical que se confunde com a história de sua independência, principalmente graças à UGTT - União Geral dos Trabalhadores da Tunísia.)

Não são, no entanto, tais atores que estão agora no poder. A eleição legislativa de 23 de outubro, que também foi uma eleição para a Assembleia Constituinte, revelou ser o partido islâmico Nahda ("renascimento", em árabe) o grande vitorioso, conquistando 89 das 217 cadeiras do Parlamento.

Em coalizão com o partido socialdemocrata CPR (Congresso pela República, 29 cadeiras) e com o esquerdista Ettakatol (Fórum Democrático pelo Trabalho e pelas Liberdades, 20 cadeiras), ele hoje governa o país, com o primeiro-ministro, Hamadi Jebali, no poder desde 14 de dezembro de 2011.

Não há uma oposição parlamentar forte constituída. A resistência ao governo vem, sobretudo, dos setores organizados da sociedade civil. Ainda há manifestações na Tunísia, mas agora elas se voltam sobretudo contra os riscos de islamização da sociedade.

Exemplo disso foi a manifestação de artistas e profissionais da cultura no dia 8 em frente ao Parlamento. Seu objetivo era a garantia da liberdade de expressão e de criação pela nova Constituição.

Samir Dilou, ministro dos Direitos Humanos e porta-voz do novo governo, explica o sucesso do Nahda: "A Revolução Tunisiana não foi um processo que começou em 2011. Ela se confunde com a luta contra o regime de Ben Ali. Os líderes muçulmanos foram sistematicamente perseguidos por esse governo, vítimas de tortura, exílio e violência. Eu mesmo participei de greves de fome e fui preso".

CÉLULAS ADORMECIDAS

A verdade é que, se olharmos para os eventos imediatos que desencadearam a revolução, assim como para seus slogans e atores, não encontraremos grupos islâmicos organizados.
Mas, no dia seguinte à revolução, o Nahda foi capaz de despertar aquilo que Sami Aouadi, professor de economia da Universidade de Túnis e presidente do sindicato dos professores universitários à época de Ben Ali, chama de "células adormecidas". Para isso, o partido se serviu do fato de nunca ter sido associado ao regime de Ben Ali.

Três fatores foram decisivos no processo que levou o Nahda ao poder. Primeiro, a profunda fragmentação dos grupos de esquerda. A eleição de 2011 foi disputada por 130 partidos, sem contar as inúmeras listas independentes. Essa fragmentação não atingiu os grupos islamistas, compostos por membros disciplinados e militantes, mas foi mortal para os grupos de esquerda. "Nem os membros do Nahda esperavam um resultado tão bom", afirma Aouadi.

Segundo, o Nahda propôs ser um partido islâmico "de segunda geração". Eles sabem que ninguém quer uma república islâmica do tipo iraniano. "O medo em relação aos partidos islâmicos é justificado, já que nem sempre eles andaram no caminho certo", diz o ministro. Seu slogan preferido é este: "O islã é compatível com a democracia". O exemplo turco estaria aí para demonstrar a veracidade da equação.
Terceiro, a Tunísia sempre foi um país profundamente dividido. De um lado, uma classe média urbana, ocidentalizada, escolarizada, habitando principalmente Túnis e Sfax e, de certa forma, sendo privilegiada pela modernização conservadora iniciada pelo líder da independência, Habib Bourguiba, em 1956.
Essa classe média, esgotada pelo processo de gangsterização dos últimos anos do governo de Ben Ali, viu seus filhos radicalizarem posições no movimento revolucionário.

MISÉRIA

Mas, de outro lado, qualquer um que andar pelas ruas das periferias de Túnis encontrará uma imensa massa pouco tocada por tal modernização conservadora, com seus valores incapazes de modificar a situação de miséria da maioria da população. Embora tenha uma taxa de alfabetização bastante elevada para o mundo árabe (76,3%) e o quarto IDH da África (após a Líbia, Seychelles e Maurício), exibe cotidianamente cenas de pobreza urbana, desigualdade e ostentação social.

A Tunísia radicalizou um processo urbano bem conhecido no Brasil, no qual as classes mais favorecidas desertam as cidades, cada vez mais precarizadas, para morar em bairros afastados e periferias de condomínio fechado. Uma cidade como Cartago, onde se situam as embaixadas, o palácio presidencial e as casas de altos funcionários do governo, é uma espécie de Alphaville litorânea de gosto ainda mais duvidoso.

Mas a diferença entre a fratura social tunisiana e a situação brasileira deve ser creditada ao fato de a massa pobre do país africano ser portadora de uma "lassitude em relação ao Ocidente, pois ela não viu o Ocidente trazer prosperidade", como afirma Redissi.

Ela é sensível às práticas assistencialistas dos muçulmanos, que não são muito diferentes das práticas dos evangélicos nas favelas brasileiras.

Assim, ela encontra na recuperação dos hábitos islâmicos uma maneira de expor um profundo ressentimento contra a realidade de exclusão social da qual foi vítima. Ou seja, na Tunísia, o conflito cultural entre o islamismo radical e o Ocidente funda-se em um peculiar ressentimento de classe.

ISLAMIZAÇÃO

Um ponto importante é a acusação, feita por praticamente todos os entrevistados ligados à oposição, de que o Nahda teria sido financiado por dinheiro de Qatar.

Tal situação demonstra uma das mais fantásticas voltas do parafuso na política árabe. Países como Qatar e Arábia Saudita são alguns dos maiores aliados dos ocidentais na região. No entanto, eles atuam agressivamente no mundo árabe para fortalecer movimentos que visam à islamização da sociedade e de seus costumes.

Em suma, nossos aliados são exatamente aqueles que fornecem dinheiro para movimentos salafistas ao redor do mundo, o que demonstra como, no fundo, os países ocidentais não se incomodam com sociedades nas quais a política é sufocada pela religião, desde que elas continuem respeitando seus negócios e contratos.

Talvez nenhum outro assunto exponha melhor a divisão da sociedade tunisiana, assim como as reviravoltas que uma ideia pode dar, do que o problema relativo ao porte do "niqab", o véu que cobre integralmente o rosto e o corpo femininos.

Durante os regimes de Bourguiba (1956-87) e de Ben Ali (1987-2011), hábitos muçulmanos, como o porte do "niqab" e o uso de barba, eram reprimidos. Essa repressão cedeu com a Revolução Tunisiana. Aproveitando-se de tal situação, estudantes salafistas (grupo radical muçulmano ligado à linha hegemônica da Arábia Saudita) mobilizaram-se na Universidade de La Manouba.

A universidade, assim como várias outras da Tunísia, proíbe mulheres que vestem o "niqab" de seguir cursos ou fazer provas. Desde dezembro, tais estudantes vêm impedindo as aulas para reivindicar que as mulheres de "niqab" tenham o direito de frequentá-los.

O salafismo é a versão mais fundamentalista da religião muçulmana: prega a aplicação literal da lei corânica (Charia) e o retorno às práticas originárias do islã. Extremante minoritários na Tunísia (estima-se que eles não exista mais do que 7.000 simpatizantes), eles são hegemônicos em países como a Arábia Saudita e Catar.

Conversando com estudantes salafistas e garotas com "niqab" mobilizados na universidade, descobre-se, porém, algo peculiar.

Ali, o discurso é ligado não à islamização da sociedade, mas à "liberdade individual". "Queremos a liberdade de vestir o que tivermos vontade", diz uma estudante com "niqab".

Ela afirma não ser obrigada a usá-lo. Ao contrário, seu pai reprova radicalmente seu comportamento e lhe pede insistentemente que abandone o traje tradicional.

MULTICULTURALISMO

Outras garotas contam histórias parecidas. Por um instante, crê-se ouvir adolescentes exigindo o direito de usar "piercing" no rosto.

Mais impressionante ainda é ouvir estudantes salafistas afirmarem que estariam dispostos a aceitar que garotas entrassem na universidade de minissaia desde que seus próprios direitos como crentes fossem respeitados.

"Sinto-me como os negros norte-americanos lutando pelos seus direitos como grupo", diz um deles. Por pouco, eles não se transformam em defensores ardorosos do multiculturalismo anglo-saxão.
É claro que sempre podemos dizer que se trata de um falso discurso, que tenta colocá-los na posição de vítimas de intolerância social.

"Na verdade, eles vieram à minha sala para dizer que queriam bem mais do que a permissão para portar o 'niqab': queriam separação entre homens e mulheres, assim como a interdição de mulheres darem aulas para homens. Depois, negaram isso diante da imprensa", diz o reitor da Universidade de La Manouba, Habib Kazdaghli.

Historiador responsável por estudos sobre a história do comunismo e do judaísmo na Tunísia, Kazdaghli viu-se acusado de comunista e sionista pelos estudantes salafistas.

Por um mês, ele pediu a presença da polícia no campus, já que os salafistas bloqueavam o prosseguimento das aulas até que as alunas de "niqab" fossem admitidas.

O bloqueio permanece, e a universidade continua sendo palco de manifestações, "sit-ins" e agressões a professores. No entanto, o governo postergou o pedido devido a um imbróglio burocrático, como se esperasse que a situação ficasse cada vez mais desgastante.

Ninguém em sã consciência duvidaria das palavras do reitor em relação às reais intenções dos salafistas. Basta ver o que eles fazem quando são maioria, como na Arábia Saudita.

Mas não deixa de ser sintomático que o discurso de liberdade individual, novamente posto em circulação, agora pela Revolução Tunisiana, acabe por ser usado para justificar a ligação a práticas comunitarista-religiosas. Como se, na Tunísia, se decidissem a extensão e o modo de aplicação que queremos dar a nossos valores ocidentais.

O dado interessante aqui talvez seja a descoberta de que não será possível desativar os riscos reais de deriva islamista da sociedade tunisiana se entrarmos em contradição com os próprios valores que defendemos. Agir como se nosso valores servissem apenas para defender nossos costumes acabará por minar sua força de adesão.

Por um lado, a Revolução Tunisiana demonstra sua penetração ao obrigar até os salafistas a usar um discurso que não é exatamente o deles, mesmo que tal uso seja claramente estratégico.

A força de uma revolução se mede, entre outras coisas, pelas modificações que ela produz nos limites dos discursos em circulação na vida social. Há certas coisas que não podem mais ser ditas depois de uma revolução, e isso não é apenas uma questão de palavras.


Por outro lado, uma revolução tem o desafio de não excluir dos direitos que queremos universalizar aqueles que, ao contrário, estão dispostos a fazer de tudo para nos excluir. Todo verdadeiro acontecimento nos obriga a nos confrontarmos com uma questão em aberto. Essa é a questão que a Revolução Tunisiana, com suas voltas de parafuso, parece nos deixar.
http://sergyovitro.blogspot.com/2012/01 ... fatle.html

Se todos os repórteres da Folha fossem assim...

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Re: Crise no Egito - População Invade as Ruas e Exige Renúncia do Ditador

#217 Mensagem por Compson » 30 Mai 2012, 14:24

Acabou a primavera:

Jovem [que ficou] nua [em protesto durante a Revolução Egípcia] se refugia na Suécia
http://www.diretodaredacao.com/noticia/ ... -na-suecia

Os colchetes são meus. A manchete original era idiota, esses jornalistas não servem pra mais nada...

E, reconhecendo os méritos dos mortos, o Hammermart acertou quanto disse que a Revolução Egípcia iria acabar numa ditadura teocrática. Quem chuta pra todo lado, uma hora acerta o gol...

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Re: Crise no Egito - População Invade as Ruas e Exige Renúncia do Ditador

#218 Mensagem por Compson » 23 Jul 2012, 10:44

E o quebra-pau na Síria, hein?

Assad vai matar toda a população pra se manter no poder?

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Re: Crise no Egito - População Invade as Ruas e Exige Renúncia do Ditador

#219 Mensagem por Fortimbrás » 23 Jul 2012, 17:48

Compson escreveu:E o quebra-pau na Síria, hein?

Assad vai matar toda a população pra se manter no poder?
O que me preocupa é o que pretendem esses que estão tentando derrubá-lo.

Não me parece que sejam democratas, querendo um país livre da ditadura. As pessoas não devem usar termo revolução na Síria, mas sim o de golpe de estado. Foi assim que o atual governo se instalou no poder, na década de 70.

Vai morrer muita gente e não me parece que será por algo que valha a pena morrer. A não ser que eu esteja enganado em relação aos inimigos do regime atual, será a troca de uma ditadura pela outra. Os que se instalarão no poder serão beija-bundas dos americanos . E essa é uma coisa de que de que não se pode acusar Assad e seu regime.

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Re: Crise no Egito - População Invade as Ruas e Exige Renúncia do Ditador

#220 Mensagem por Compson » 23 Jul 2012, 21:27

Fortimbrás escreveu:
Compson escreveu:E o quebra-pau na Síria, hein?

Assad vai matar toda a população pra se manter no poder?
O que me preocupa é o que pretendem esses que estão tentando derrubá-lo.

Não me parece que sejam democratas, querendo um país livre da ditadura. As pessoas não devem usar termo revolução na Síria, mas sim o de golpe de estado. Foi assim que o atual governo se instalou no poder, na década de 70.

Vai morrer muita gente e não me parece que será por algo que valha a pena morrer. A não ser que eu esteja enganado em relação aos inimigos do regime atual, será a troca de uma ditadura pela outra. Os que se instalarão no poder serão beija-bundas dos americanos . E essa é uma coisa de que de que não se pode acusar Assad e seu regime.
É verdade, a resistência ainda não mostrou sua cara e isso preocupa. Até agora não entendi se são "primaveris tardios", como no Egito, mercenários americanos se aproveitando da insatisfação popular com o esgotamento do regime ditatorial atual, como na Líbia, se são algum tipo de fundamentalista ou se são vários grupos que após a deposição do governo vão competir pelo poder (no voto ou nas armas)...

Democratas angelicais, não devem ser ou a mídia ocidental estaria celebrando a "primavera síria". Pelo mesmo motivo (falta de entusiasmo da mídia ocidental), não acho que sejam mercenários. Acho que é um movimento interno mesmo e a OTAN está apenas ajudando a fazer a cova de Assad.

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Re: Crise no Egito - População Invade as Ruas e Exige Renúncia do Ditador

#221 Mensagem por Carnage » 31 Jul 2012, 22:51

http://www.viomundo.com.br/politica/vla ... etiva.html
Vladimir Safatle: A Primavera Árabe e a indignação seletiva

publicado em 22 de julho de 2012 às 21:37

por Vladimir Safatle, em CartaCapital


A chamada Primavera Árabe foi, para muitos, o início de um movimento de reafirmação da força de transformação do campo político. Ela teria sido também a prova de que as sociedades árabes não estavam imersas em alguma forma de arcaísmo teológico antimodernizador que se manifestaria através de tendências latentes de constituição de sociedades teocráticas. Como se eles estivessem fadados a viver entre regimes laicos ditatoriais e sociedades que usam a religião como motor cego de mobilização popular.

No entanto, a análise da situação atual do mundo árabe pode parecer desoladora. Por enquanto, quatro países tiveram mudanças de regime: Tunísia, Líbia, Egito e Iêmen. Um quinto está em via de ver a sua ditadura cair, a Síria. Outro que teve grandes manifestações por mudanças, o Bahrein, está cirurgicamente longe dos noticiários internacionais.

Aliado importante do mundo ocidental, sede de uma base militar dos EUA, o Bahrein foi invadido por tropas sauditas a fim de garantir a perpetuação de uma monarquia absoluta. Nada disso causou indignação na opinião pública internacional com sua sensibilidade democrática seletiva e sua tendência a cobrar respeito aos direitos humanos apenas dos inimigos.

Outros países que tiveram manifestações, como o Marrocos, parecem agora imunes a revoltas. Da mesma forma, a pior ditadura teocrática do mundo, aquela que faz o Irã parecer uma democracia escandinava, continua firme com o apoio irrestrito dos defensores ocidentais da democracia. Na verdade, a Arábia Saudita continua sendo um foco de desestabilização de todo movimento democrático na região, já que financia generosamente movimentos salafitas pelo mundo.

Se levarmos tudo isso em conta e olharmos para os países onde a Primavera Árabe desabrochou, teremos a impressão de que o mundo árabe, de fato, tem uma tendência subterrânea à regressão. Na Tunísia, a queda do governo Ben Ali colocou no poder um partido islâmico, o Ennahda. Setores da sociedade tunisiana lutam diariamente para o país não regredir em matéria de laicidade e liberdade de expressão. Grupos salafistas invadem exposições de artes para destruir obras que julgam ofensivas aos preceitos islâmicos, além de paralisar universidades por exigir o direito de mulheres frequentarem aulas de burca.

No Egito, a Irmandade Muçulmana lidera o governo e a frente que ainda luta por tirar os militares do poder. Embora já tenha dito não querer islamizar a sociedade egípcia, é fato que isso não seria necessário: o Egito já é um país onde é possível processar um ator por ele ter representado um papel ofensivo ao Islã, onde cristãos não podem ser governadores de estado ou reitores de universidade e onde tomar uma cerveja em um bar não é exatamente algo simples.

Tal situação nos leva a duas reflexões. Primeira, o que vimos em 2011 foi um ensaio geral. Os grupos que deram início à sequência da Primavera Árabe não eram islâmicos, mas jovens diplomados desempregados e sindicalistas. No Egito, por exemplo, foi o Movimento 6 de abril, composto por jovens das mais variadas tendências, a iniciar o processo de ocupação da Praça Tahir. Esses grupos ainda não encontraram uma forma institucional que os fortaleça. Eles não têm unidade. Na ausência disto, o grupo mais organizado e disciplinado é, no caso, os muçulmanos, que conduz o processo.

A história conhece vários exemplos de revoluções traídas. Tais exemplos não podem ser lidos como meros fracassos, são movimentos duros de compreensão de limites de ação política. A espontaneidade impressionante da Primavera Árabe demonstrou sua força e sua fraqueza. Sua força fica clara quando a revolução ganha. Sua fraqueza aparece quando os embates em torno do saldo da revolução entram em cena.

Por outro lado, é inegável que a força dos movimentos muçulmanos vem principalmente do sentimento de humilhação que os povos árabes nutrem em relação ao Ocidente. Há um ressentimento profundo vindo de promessas de modernização não cumpridas, continuidade de sistemas de influência colonial e xenofobia internacional contra os árabes, muitas vezes tratados implicitamente como “povo terrorista”. Os muçulmanos sabem instrumentalizar bem tal afeto, dando a esses povos um sentimento de orgulho.

A única maneira de quebrar tal força viria da capacidade de setores dos países árabes em encontrar, dentro de sua própria tradição, correntes que constituam promessas de formas de vida distantes dos preceitos religiosos do islamismo conservador. Isso passa por saber explorar de maneira mais radical o caráter liberal de várias tradições do nacionalismo árabe. A Primavera Árabe aparece como a abertura de uma sequência imprevisível. E a maneira mais certa de garantir o pior é deixando-se tragar pelo imediatismo do derrotismo.

O Pastor
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Re: Crise no Egito - População Invade as Ruas e Exige Renúncia do Ditador

#222 Mensagem por O Pastor » 01 Ago 2012, 18:42

Na Síria, o Irã apoia uma causa, a OTAN/EUA apoiam outra. Pode isso Arnaldo??

Fortimbrás
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Re: Crise no Egito - População Invade as Ruas e Exige Renúncia do Ditador

#223 Mensagem por Fortimbrás » 01 Ago 2012, 21:40

"Se levarmos tudo isso em conta e olharmos para os países onde a Primavera Árabe desabrochou, teremos a impressão de que o mundo árabe, de fato, tem uma tendência subterrânea à regressão."

Triste verdade...

Compson
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Re: Crise no Egito - População Invade as Ruas e Exige Renúncia do Ditador

#224 Mensagem por Compson » 02 Ago 2012, 13:07

Fortimbrás escreveu:"Se levarmos tudo isso em conta e olharmos para os países onde a Primavera Árabe desabrochou, teremos a impressão de que o mundo árabe, de fato, tem uma tendência subterrânea à regressão."

Triste verdade...
Não entendo nada de Oriente Médio, mas acho que o que falta não é uma revolução Iluminista/progressista no sentido clássico, tipo: "olha, seus religiosos, vocês podem ter as superstições e os delírios que vocês quiserem, mas deixem o Estado e os outros religiosos (inclusive os não religiosos) em paz, ok?"

Ou uma revolução "cultural" que mate toda a classe religiosa, como na China maoísta.

Agora, por que isso aconteceu no Ocidente e no Oriente Extremo, mas não aconteceu no Oriente Médio, eu não sei dizer...

Mas até acontecer, acho que toda tentativa revolucionária vai ser sempre assombrada pelo clero islâmico que, como disse o Safatle, é muito mais organizado.

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Re: Crise no Egito - População Invade as Ruas e Exige Renúncia do Ditador

#225 Mensagem por Fortimbrás » 02 Ago 2012, 18:15

O que me inquieta é isso mesmo: a bagunça toda é motivada pelos regimes e tudo mais, mas se presta a interesses externos. Na Síria isso é nítido.

O que se quer com a dita Primavera Árabe? Ou, melhor dizendo, o que nós ocidentais achamos que os reviltosos querem, quando se insurgem para desafiar estas ditaduras?

Não é a democracia? Um sistema político em que a maioria elege seus representantes diretos e indiretos?

Pois bem, em uma democracia cujo estado tem uma maioria religiosa, fica claro que será um religioso que assumirá o poder. Mesmo que ele seja um desvairado, um alucinado, um ser do século doze, uma criatura medieval e detestável. Um miserável de espírito, um ser que não vê nada mais importante do que um livro supostamente sagrado e seu contéudo supostamente divino.

Essa é a questão que nós do Ocidente, costumamos não observar quando criticamos a falta de democracia nos países árabes. Se é cristalino que não há democracia, deveríamos nos perguntar se a democracia seria preferível a outro tipo de sistema político qualquer, inclusive uma ditadura.

Em uma ditadura no estilo do Assad, na Síria, todos padecem pelo entranhamento do regime nas esferas particulares dos cidadãos. É um estado de arapongas, um estado que se mete em tudo, que vê inimigos e espiões por todos os lados e não hesita um segundo sequer em demonstrar sua força desrespeitando quaisquer direitos humanos que possam ser levantados em resposta.

É claro que é uma merda viver num lugar governado por ditadores escrotos. A pergunta que fica é: se a transição que muda um regime para outro é feita na base da força, quem garante que o lado vencedor será melhor? Quem garante que os insurgentes querem um país democrático?

Os EUA apóiam os insurgentes, mas isso não significa nada. Eles também apóiam a Arábia Saudita. Os americanos, ou gringos filha das putas, são aliados de ocasião. Cagam para direitos humanos, liberdade, democracia e outros valores que evocam hipocritamente. Será que se perguntarmos para os iraquiano se eles estão contentes com a democracia e a liberdade que o gringos filhas da puta lhes trouxeram a resposta será a afirmativa?

Isso posto, pode -se dizer que as forças que vem atuando a Síria e em outros lugares, são movidas por interesses que não necessariamente representam o interesse da maioria do país. Esses movimentos são financiados e armados por gente que não deseja o bem da Síria. Ou do Egito. Os insurgentes são um mero instrumento para que o regime de Assad suma de vez e deixe de perturbar aqueles que desejam dominar o Oriente Médio. Se Assad fosse um lambe botas americano, poderia assassinar mil rebeldes por dia que Obama não diria um "ui".

A queda do regime é boa para esses países, mas fica um tom de artificialidade na luta por essa queda. Não se sabe o que essa gente quer. E eles mesmos não parecem muito interessados em propagar os seus propósitos. E a própria imprensa tupiniquim que cobre o furdunço, essa imprensa de merda que todos conhecemos, não se aprofunda como deveria. Textos como esse do afatle são a minoria. O que se lê é a quantidade de gente que morre, como foi que morreram, onde estão se matando, essas merdas.

Gostaria de me informar melhor sobre o assunto, mas a impressão que fica é essa mesmo: os sírios estão assistindo a um golpe de estado, não a uma revolução. Se estiver enganado, ficarei sinceramente surpreso e muito feliz.

Gostaria muito que os rebeldes fossem gente interessada em trazer a Síria para um patamar mais progressista, mas isso me parece completamente fora de questão nesse momento.

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