Corrupção é coisa de político?

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#151 Mensagem por Tricampeão » 31 Jul 2011, 17:39

musacco escreveu:O problema é que em países, onde o sistema judiciário é independente e pune os políticos corruptos de alguma forma, a corrupção tem um menor amplitude, ou seja, fica restrita apenas naquela pessoa política unitária.
Pode dar um exemplo de onde o sistema judiciário é mais independente do que no Brasil? Para mim, aqui o Judiciário é um poder à parte, da mesma forma que na maioria dos países do mundo. O que é diferente nos outros?
Alem disso, na minha opinião, o Judiciário ser independente é um grande problema, não a solução. O Judiciário como um poder à parte é usurpação, pois todo poder emana do povo, e os juízes não são eleitos.

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Re:

#152 Mensagem por florestal » 01 Ago 2011, 01:17

Tricampeão escreveu: Então você acha que a corrupção na Itália acabou, florê?
Sú um esclarecimento, por favor: você lê os jornais italianos também ou só aquele do PPS?
Nos países europeus o grau de corrupção pública existente foi sensivelmente reduzido. O ex-presidente frances Jacques Chirac tinha patrimonio de apenas 3 milhões de dólares; seu ministro da economia foi demitido porquê alugou um apartamento de 540 metros quadrados com dinheiro público, enquanto a legislação previa no máximo 400 metros quadrados.

O que significa esse tipo de corrupção quando comparado à do Brasil? Pode-se perfeitamente dizer que não existe corrupção na Europa se a compararmos com a brasileira.

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Re: Re:

#153 Mensagem por Carnage » 07 Ago 2011, 17:04

florestal escreveu:
Tricampeão escreveu: Então você acha que a corrupção na Itália acabou, florê?
Sú um esclarecimento, por favor: você lê os jornais italianos também ou só aquele do PPS?
Nos países europeus o grau de corrupção pública existente foi sensivelmente reduzido. O ex-presidente frances Jacques Chirac tinha patrimonio de apenas 3 milhões de dólares; seu ministro da economia foi demitido porquê alugou um apartamento de 540 metros quadrados com dinheiro público, enquanto a legislação previa no máximo 400 metros quadrados.

O que significa esse tipo de corrupção quando comparado à do Brasil? Pode-se perfeitamente dizer que não existe corrupção na Europa se a compararmos com a brasileira.
Putamerda, florestal... No Sul da Itália a máfia domina tudo! Lá a corrupção grassa, e toda e qualquer atividade do estado tem a mão da máfia que extorque todo mundo e tem empresas de fachada que "prestam serviços" públicos pro estado ganhando muito e não fazendo nada.

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Carnage
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Re: Corrupção é coisa de político?

#154 Mensagem por Carnage » 07 Ago 2011, 17:05

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassi ... ato-janine
A luta contra a corrupção desanima
Autor(es): Renato Janine Ribeiro Valor Econômico - 01/08/2011  


Escolhi um título que pode somar vários e até distintos significados. Na verdade, a corrupção nos desanima porque, embora a opinião pública a tolere cada vez menos, e tenhamos visto a demissão de vários acusados de mal-feitos, no Brasil e no mundo, restam três grandes problemas.

O primeiro é a suspeita de que o desvio de dinheiro público esteja crescendo, em vez de diminuir. Falo em suspeita e não em certeza, porque a corrupção, quando bem conduzida, não deixa traços. O tempo todo, lemos denúncias de atos corruptos, mas geralmente se trata de casos pequenos ou que foram descobertos devido a erros primários. É possível que os grandes corruptos jamais deixem impressões digitais. Para dar um exemplo: os sistemas de controle do governo federal checam se o funcionário pagou 8 reais por uma tapioca, mas dificilmente descobrem se ele foi subornado.

Em nossos dias, aumentaram a transparência dos gastos públicos e a indignação com os atos de corrupção. Isso é bom. Na ditadura, vivia-se a euforia com obras faraônicas e o sigilo das contas estatais. Mesmo assim, muitos pensam que a corrupção teria aumentado de lá para cá. Para além da questão factual, difícil de responder, fica a sensação de que algo está errado no regime democrático - se este efetivamente, aqui como na França, Estados Unidos e Itália, não consegue pôr fim à corrupção em larga escala.

Também é grave um segundo ponto: a percepção de que castigo, mesmo, não ocorre. Corruptos não devolvem o dinheiro, não são presos nem sofrem penas maiores. Assistimos agora a uma sucessão de denúncias sobre o governo federal. Dois ministros já caíram, sob a suspeita de práticas não-éticas. Ignoramos se houve mesmo corrupção. Não dispomos de provas para condená-los. Mas a opinião pública sentiu-se informada o bastante para se indignar com suas ações e lhes negar a legitimidade ética, que um homem público deve ter como um de seus maiores capitais. Daí, a demissão deles. Contudo, na série ininterrupta de denúncias que vem desde o governo Collor, passando pelos episódios da reeleição e da privatização das teles (governo FHC) e chegando ao mensalão (governo Lula), o fato é que pouquíssimos, se é que alguns, foram realmente condenados e/ou devolveram o dinheiro desviado. Tudo isso faz pesar, sobre o ambiente político, grande descrédito.

Mas o mais grave é o terceiro ponto. Nos parágrafos anteriores, supus uma clara divisão clara entre a minoria de corruptos ("eles" ou, nos debates políticos, "vocês") e a maioria de gente decente ("nós", "nós", "nós"). Ora, cada vez me convenço mais, lendo as manifestações contra a corrupção, de que a grande maioria delas emana de pessoas absolutamente indiferentes à corrupção. "Nós" não estamos nem aí para a corrupção. "Nós" queremos é instrumentalizá-la para fins políticos. Na maior parte dos casos, o que se lê são acusações severas a corruptos, que imediatamente são ligados a um partido. A bola da vez é o PT, mas poderia ser qualquer agremiação. Como ele tem o governo federal e conta com a oposição de vários grandes jornais, é alvejado. Mas lembrem que Alceni Guerra (PFL), ministro de Collor, e Ibsen Pinheiro (PMDB), que presidiu a votação de seu impeachment, tiveram as carreiras políticas truncadas por acusações falsas de corrupção.

O uso da corrupção como álibi para atacar o outro mostra, não só uma cabal despreocupação com as provas dos malfeitos, mas também um completo repúdio a investigar toda denúncia que afete os políticos do "nosso" lado. Se alguém diz que é preciso apurar todas as denúncias de corrupção, custe o que custar, sofre prontamente um ataque de "nós". Vi a revolta de um facebooker porque um jornalista reputado, discutindo o superfaturamento de obras públicas, pediu em seu blog que também fossem investigados casos do governo paulista. Ora, para o indignado seletivo, a corrupção só valia contra a política petista. O que ele condenava não era a corrupção, era o PT. Se a corrupção fosse de outro partido, não cabia investigá-la.

O que é particularmente grave nessa atitude, que está longe de ser rara? É o descaso pela honestidade. Se a corrupção serve apenas para atacar o outro, é porque falta real empenho em combatê-la, em separar o público do privado. O Executivo federal luta no Congresso para evitar CPIs sobre denúncias de corrupção no governo - mas o mesmo acontece com o governo paulista, que aprovou na assembleia CPIs ridículas, para impedir que se apurem acusações a ele. Pelo menos, desde 2003, os procuradores-gerais da República não hesitam em acusar líderes governistas, como no caso do mensalão. Dizia-se, no governo FHC, que o procurador-geral só engavetava acusações. Infelizmente, a corrupção não é monopólio de nenhum partido. Nem a ética.

Diante disso, nosso quase esquecido Rui Barbosa o que diria? Talvez que, "de tanto ver agigantar-se o poder nas mãos dos homens, o homem chega desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e ter vergonha de ser honesto." Porque, aqui, não há meio termo. Ou condenamos a corrupção, ou somos seus cúmplices. Condená-la é condenar todo ato de corrupção, é exigir sua apuração, seja qual for o partido ou o governo que a pratique ou tolere. Quem é seletivo é conivente. E, dado que citei o brasileiro que talvez tenha escrito mais difícil em nossa história, a ponto de hoje ser pouco lido porque não se entende o que ele disse, posso terminar indo para o outro lado, o da telenovela, e dizer que na novela "Insensato coração" é muito bom o nome do blog do jornalista Kleber Damasceno, "Impunidade zero". É disso que precisamos.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo. Escreve às segundas-feira.

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Re: Corrupção é coisa de político?

#155 Mensagem por Carnage » 07 Set 2011, 01:41

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassi ... orruptoras
A Marcha Contra as Empresas Corruptoras
Enviado por luisnassif, seg, 05/09/2011 - 00:13
Autor: Weden


No Brasil, corrupção é algo estranho, já disseram muitos: grita-se contra os curruptos, mas silencia-se em relação aos corruptores.

Em 2003, a Convenção da ONU Contra a Corrupção, assinada por mais de 120 países em Mérida, enfatizou a importância de se punir com mais severidade as empresas corruptoras, além, evidentemente, de aumentar os mecanismos de controle sobre a atuação delas.

No ano passado, o Governo Federal enviou um projeto de lei que defendia maior rigor contra as empresas corruptoras, inclusive com a possibilidade de sua extinção judicial.

O projeto, no entanto, encontra-se parado no Congresso, apesar da convocação do presidente da Câmara, Marco Maia.

Além de não ser discutido no Congresso, este é um assunto tabu nas federações de indústrias, bancos e comércio: na ocasião da apresentação do projeto, Fiesp, Firjan, Febraban e outras entidades gigantes desconversaram.

A grande imprensa e seus satélites fingem que a questão não existe: não se fala, não se mostra, não se escreve sobre o tema.

Os colunistas "mais indignados" - com exceção de uma inserção esporádica de Josias de Souza, há dois anos - escondem qualquer informação ou opinião sobre as empresas corruptoras.

Não á manchetes, editoriais, discussão, reportagens aprofundadas ou mesmo superficiais sobre "empresas corruptoras" que saquearam o Estado desde a democratização.

Nos últimos dias, os intrépidos Alexandre Garcia e Di Franco produziram panfletos contra a corrupção "instalada na política", mas nenhum dos dois lembrou que, quando há corrupção, alguém corrompe, e quem corrompe, geralmente, são agentes econômicos (leia-se empresas), que jamais são punidos.

Tudo isso soa como demagogia barata: fala-se para a plateia, mas se esconde da plateia o problema em sua totalidade.

Daí a estranheza de ver veículos como a Folha, Globo e Estadão, que se calam em relação ao tema, estarem tão solidários com movimentações nas redes sociais "contra a corrupção", lideradas por anônimos de linguajar partidário (confiram no facebook e verão que quem mais posta mensagens para a convocação não se identifica).

Marcha contra corrupção que não proteste contra o silêncio criminoso de veículos da mídia - aliás, muitos deles envolvidos em negócios e em troca de favores com corruptos - e do Congresso em relação às empresas corruptoras é brincadeira de adolescente mal informado.

O caso da Veja, que retardou a entrevista de José Roberto Arruda, porque tinha "negócios" com o ex-governador, em pleno "mensalão do DEM", é um caso de cumplicidade evidente e um bom exemplo para se pensar na questão.

Portanto, para tornar a indignação mais verdadeira, todos à Marcha Contra as Empresas Corruptoras, porque se não há demanda...não haverá oferta.

É a lei do mercado da corrupção.

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Re: Corrupção é coisa de político?

#156 Mensagem por Dr. Zero » 07 Set 2011, 08:19

o ser humano foi criado da merda e para a merda ele voltará, depois de deixar suas inúmeras contribuições na privada

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Carnage
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Re: Corrupção é coisa de político?

#157 Mensagem por Carnage » 19 Set 2011, 22:54

http://www.conversaafiada.com.br/politi ... vestigado/
STJ confirma: rico (Sarney, Dantas) não pode ser investigado

Saiu na primeira página da Folha (*)

“STJ anula provas da PF contra a família Sarney”

As provas derivam de quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico da família Sarney.

O filho de Sarney, Fernando, é suspeito de lavagem de dinheiro.

E de mandar e desmandar no Ministério de Minas e Energia.



Navalha

O STJ confirma a jurisprudência

Rico não pode ser, sequer, investigado.

Não é que ele não possa ser condenado, algemado …

Não, amigo navegante, nada disso: ele não pode ser investigado.

Viva o Brasil !

Na Operação Castelo de Areia, julgada pelo corajoso Fausto de Sanctis, os ricos da Camargo Correa não foram investigados porque é proibido recorrer à denúncia anônima.

Denúncia anônima serve para prender sequestrador, pedófilo e traficante de droga – mas, não serve para prender rico.

Viva o Brasil !

Na Operação Satiagraha, também conduzida pelo destemido Fausto de De Sanctis, as provas foram destruídas porque funcionários da ABIN ajudaram a Polícia Federal a procurar endereços no Google.

A súmula vinculante do STJ determina que um agente da Polícia Federal não pode usar o elevador do Ministério do Turismo, nem tomar do cafezinho da Secretaria de Direitos Humanos, porque isso configura “a maçã podre que contamina o saco”.

Nesta epopéia, foram decisivos o papel de um Juiz Macabu e do representante do brindeiro Gurgel no STJ.

O filho do Ministro Macabu trabalha e ilustra o escritório de advocacia de Sergio Bermudes.

Bermudes é advogado de Dantas – o número UM de 2002.

Bermudes emprega também a mulher do ex-Supremo Presidente Supremo do Supremo, Gilmar Dantas (**).

Ele é a Catho da Magistratura Brasileira.

Só que Bermudes quase provoca o impeachment do ex-Supremo.

Clique aqui para ler a petição corajosa do Dr Alberto Piovesan e ver que ela significa, na verdade, um BO que denuncia a promíscua relação entre o Ministro Supremo e um advogado de rico.

Água mole em pedra dura …

O ex-Supremo não perde por esperar.

Pois, foi o Dr Macabu o relator dessa peça inolvidável: a Polícia Federal não pode jogar pelada, no fim de semana, com a turma do Ministério dos Esportes.

É a maçã podre.

Outra contribuição decisiva à História da Magistratura Ocidental desempenhou o Procurador da República subordinado ao brindeiro Gurgel que, no STJ, ao sepultar a Satiagraha, concordou com o Dr Macabu.

O trabalho dos Procuradores da República em São Paulo foi devidamente lançado ao lixo pelo sub-brindeiro do STJ – e Dantas se salvou.

Por enquanto.

Porque tanto na Castelo, quanto na família Sarney e na Satiagraha cabe recurso do Procurador Geral ao Supremo.

Como se sabe, o brindeiro Procurador agora cuida também da OAB

Cique aqui para ler Brindeiro Gurgel assume a prediência da OAB

No momento, ele está concentrado em acompanhar o número de sacas de cimento do Fielzão e na tarefa de descobrir quantas mulheres num motel configuram o crime de peculato do ex-Ministro do Turismo.

Quando se livrar dessas hercúleas tarefas, o brindeiro Gurgel terá que recorrer das três decisões do STJ

Vamos ver de quantas maçãs podres se compõe a brindeira bagagem.

Em tempo: só quem pode grampear numa boa, sem que nada lhe aconteça é o Padim Pade Cerra – clique aqui para ler “Carta desce ao submundo e lá encontra Cerra e seus arapongas”

Paulo Henrique Amorim

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Re: Corrupção é coisa de político?

#158 Mensagem por Gilmor » 20 Set 2011, 12:54

Não embarco na idéia de que vivemos num período de maior corrupção, a corrupção sempre existiu só que atualmente é mais aparente, é preciso ter cautela com esses movimentos moralistas, um exercício de memória pode nos levar a 1964, onde o discurso moralizante levou ao golpe militar.

Cheguei a pensar que a corrupção era fruto do capitalismo, besteira, os comunistas também são corruptos, não podemos ser otimistas ao ponto de acreditar que é possível nos livrar da corrupção sem aniquilar o homem.

É provável que a única cura para corrupção seja a extinção da espécie humana. Portanto, enquanto a cura não vem, é preciso aprender a conviver (de modo a mitigar) essa manifestação indesejável de nossa humanidade.

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Re: Corrupção é coisa de político?

#159 Mensagem por Carnage » 20 Set 2011, 22:01

Agora, uma coisa é certa, a corrupção no judiciário, mesmo que não tenha aumentado, está sendo cada vez mais revelada:

http://www.estadao.com.br/noticias/impr ... 3992,0.htm
CNJ amplia gastos e reproduz vícios que deveria atacar
Despesas do Conselho de Justiça com passagens aéreas sobem 60% de janeiro a agosto e superam até custo dos salários
18 de setembro de 2011 | 0h 00

Felipe Recondo / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo


Pagamentos de diárias em ascensão, programas que se assemelham a um trem da alegria, gastos com passagens aéreas, publicidade e eventos que somam milhões de reais, aumento da assessoria direta do presidente. Exemplos de práticas já descobertas em inspeções nos Tribunais de Justiça do País agora atingem também o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), criado para exatamente para coibir hábitos como esses e melhorar a administração do Judiciário.

Em oito meses, o CNJ aumentou em 60% as despesas com passagens e ampliou a listagem de gastos com festas e homenagens, como coquetéis, almoços e posses. Os "convescotes", palavra usada por um conselheiro e por um servidor, criaram despesas superiores a R$ 685 mil neste ano, mais de cinco vezes o que o Supremo Tribunal Federal (STF) gastou no mesmo período com a mesma rubrica.

Uma análise das despesas revela casos como o da psicóloga que viajou para o Chile com tudo pago pelo CNJ para estudar o sistema criminal do país. Nem mesmo seus colegas souberam explicar o que exatamente ela foi fazer lá. Ou ainda o exemplo do programa do conselho que, após uma série de despesas, mudou de nome. A alteração, segundo servidores do CNJ, serviu para zerar o orçamento e apagar o rastro de gastos milionários que foram feitos sob a outra rubrica.

Casos como esses mostram por que os gastos com diárias e passagens do CNJ superam o que o órgão despende hoje com pagamento de salários. Dados do Siafi dos oito primeiros meses do ano, obtidos por intermédio da ONG Contas Abertas, mostram que as despesas do CNJ com diárias no Brasil e no exterior superaram R$ 3,1 milhões, 21% a mais do que foi gasto no mesmo período de 2010. Com passagens aéreas, o conselho gastou nesse mesmo período mais de R$ 1,6 milhão, 60% a mais do que no ano anterior.

A soma desses gastos é maior do que as despesas deste ano do CNJ com o pagamento de vencimentos e salários - R$ 4,1 milhões, conforme dados oficiais. O que o conselho gastou em 2011 só com passagens aéreas é quase o dobro do que foi investido de 2008 a 2010 nos mutirões carcerários, conforme dados da gestão de Gilmar Mendes.

"Auxílio-sessão". Esses números do Siafi e dados do próprio CNJ revelam que, além do salário - que varia de R$ 22,9 mil a R$ 27,7 mil -, os conselheiros recebem uma espécie de "auxílio-sessão", conforme levantamento feito no site do conselho.

Eles receberam diárias e passagens para ir a Brasília participar das sessões de julgamento. Mesmo os que se afastaram de suas atividades para se dedicar exclusivamente ao conselho ganham os benefícios. Os números do próprio CNJ revelam que esses extras e as constantes viagens permitem que um conselheiro receba em um mês o equivalente a R$ 28 mil em diárias.

O campeão nesse ranking recebeu, neste ano, o equivalente a R$ 10 mil por mês nas viagens que fez pelo Brasil, seja para missões do CNJ, participar de eventos ou proferir palestras. Eventos que nem sempre, segundo servidores, são revertidos para os programas do conselho.

Para compensar gastos como esses, a secretaria-geral da presidência do CNJ tenta conter despesas de outros órgãos do colegiado, como a Corregedoria Nacional. Situação que criou rixas e conflitos entre presidência e corregedoria e acusação de lado a lado de quem seria o real responsável pelo aumento de gastos.

Dados da corregedoria mostram que ela respondeu por apenas R$ 832 mil dos R$ 3 milhões gastos com diárias. E que apenas com um de seu programas conseguiu devolver aos cofres públicos cerca de R$ 176 milhões, valores que envolviam processos do Sistema Financeiro de Habitação (SFH) que estavam parados no Judiciário.

Inchaço. O aumento de gastos também ocorreu no comando do CNJ. Durante sua gestão - até abril de 2010 - Gilmar Mendes convocou seis juízes para auxiliá-lo no exercício da presidência. Cezar Peluso, atual presidente do conselho, convocou 13 juízes para desempenharem a mesma função. Cada um recebe uma passagem aérea do tribunal para retornar ao Estado de origem, além de auxílio-moradia e do próprio salário.


Mais cadeiras


Dois servidores do CNJ contam que, com o aumento da estrutura da presidência, foi preciso buscar espaço para acomodar os novos juízes. "Não tinha cadeira para todo mundo", disse um deles.
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassi ... res-do-cnj
STF julga poderes do CNJ
Enviado por luisnassif, ter, 20/09/2011 - 14:09

Por Mauro Segundo 2


Comentando o post "CNJ aumenta gastos com passagens e homenagens"

Sei não se não é um processo de fritura que estão imponto ao CNJ. Acho muuuito estranha essa reportagem bem na véspera da votação no STF que vai decidir se o CNJ pode ou não abrir processos contra membros da magistratura antes das "corregedorias" locais, que sabe-se, nunca fizeram absolutamente nada.

Para mim, está parecendo que estão contruindo a cama para o STF deitar amanhã, para que tudo continue como sempre e tirem o CNJ da rol de preocupação de magistrados desonestos.

De O Estado de S. Paulo

STF pode derrubar poder do CNJ e blindar juízes

Supremo julga amanhã processo da Associação dos Magistrados que pede o fim de resolução que dá poder de investigação ao conselho

STF pode derrubar poder do CNJ e blindar juízes
Ministros do STF julgarão processo nesta quarta-feira


BRASÍLIA - Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) podem, nesta quarta-feira, 21, fulminar o poder do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para investigar e coibir irregularidades praticadas pelos juízes de todo o País. A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) quer derrubar uma resolução do conselho que regula e uniformiza os processos disciplinares contra os magistrados. A AMB quer amordaçar, principalmente, o poder da corregedoria do CNJ.

O processo é relatado pelo ministro Marco Aurélio Mello, um crítico da atuação do CNJ. A depender do resultado do julgamento do Supremo, a Corregedoria Nacional de Justiça pode perder a competência de investigar e punir magistrados antes que eles sejam processados pelas corregedorias dos tribunais locais. Os desembargadores que integram os tribunais poderiam proteger os colegas das denúncias sem que o Conselho Nacional de Justiça possa investigar os casos.

A AMB argumenta que o CNJ só pode avocar os processos já instaurados pelas corregedorias dos tribunais locais. Integrantes da Corregedoria Nacional ponderam que dar poder absoluto aos tribunais será prestigiar o corporativismo e a consequência poderá ser o arquivamento sumário de denúncias contra os desembargadores em decisões corporativistas.

As inspeções feitas pela Corregedoria Nacional nos últimos anos mostram ser comuns os exemplos de corporativismo e leniência dos tribunais e das corregedorias nos Estados. Em 2009, por exemplo, o CNJ afastou liminarmente de suas funções o corregedor-geral do Amazonas, desembargador Jovaldo dos Santos Aguiar. O desembargador era suspeito de paralisar indevidamente os processos disciplinares abertos contra os colegas.

A resolução do conselho, conforme a AMB, cria a possibilidade de recursos ao CNJ contra decisões dos corregedores dos tribunais locais que engavetem processos contra os magistrados suspeitos de irregularidades. De acordo com a Associação dos Magistrados, a legislação atual não estabelece a possibilidade de recurso contra a decisão do tribunal que rejeita a instauração de processo disciplinar.

Contestações. Os advogados que contestam a decisão do CNJ argumentam também que a resolução estabelece indevidamente a possibilidade de juízes serem compulsoriamente aposentados sem receberem subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço, como ocorre hoje.

O texto da resolução do CNJ determina ainda que as penas de censura e de advertência sejam de conhecimento público. Define que também sejam públicos o processo administrativo e o julgamento dos magistrados. Em contrapartida, a AMB argumenta que a Lei Orgânica da Magistratura estabelece que as sanções e os processos devem ser reservados.

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E_DU
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Re: Corrupção é coisa de político?

#160 Mensagem por E_DU » 20 Set 2011, 22:46

http://www1.folha.uol.com.br/poder/9782 ... uisa.shtml

Mais de 6x do valor do segundo colocado .... alguém acha que tem desvio nisso ????

Acorda Brasil !

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Carnage
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Re: Corrupção é coisa de político?

#161 Mensagem por Carnage » 20 Set 2011, 23:10

Porra, eu nem sei onde postar isso... Se encaixa em tantos tópicos!

Mas como o tema geral é corrupção, e tem relação com o judiciário, que acabei de destacar, vai aqui:

http://www.viomundo.com.br/humor/estada ... a-lei.html
Estadão: Aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei

por Luiz Carlos Azenha


A mídia brasileira militou fortemente pela extinção das operações Satiagraha (Daniel Dantas) e Castelo de Areia (Camargo Corrêa*).

Agora, acusa o STJ pela extinção da Boi Barrica (Sarney).

Trecho do editorial do Estadão:
“Não é a primeira vez que o STJ invalida ações da Polícia Federal. Os precedentes mais notórios foram a Operação Satiagraha, que focalizou o banqueiro Daniel Dantas, e a Castelo de Areia, envolvendo diretores da empreiteira Camargo Corrêa. Num caso, o motivo foi a participação, julgada ilegal, de membros da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) nas investigações. No outro, o tribunal entendeu que denúncias anônimas não justificam autorizações para escutas telefônicas. São objeções respeitáveis. Agora, está-se diante de uma interpretação equivocada – ou pior”.
É de matar de rir, não?

PS do Viomundo: Satiagraha e Castelo de Areia eram parte do ‘modo’ Estado Policial; Boi Barrica é parte do ‘modo’ Impunidade.

*Oportunamente corrigido pelo leitor Silvio I

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Carnage
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Re: Corrupção é coisa de político?

#162 Mensagem por Carnage » 21 Set 2011, 23:37

Aí a palhaçada!!

http://www.estadao.com.br/noticias/naci ... 4601,0.htm
Após decisão do STJ, provas de quatro operações da PF estão sob forte ameaça
Defesa de personagens como os ex-governadores José Roberto Arruda (DF) e Pedro Paulo Dias (AP) recorre à Justiça e aponta similaridade com interceptações da Boi Barrica, anuladas pela corte
19 de setembro de 2011 | 22h 20

Vannildo Mendes, de O Estado de S.Paulo


BRASÍLIA - Quatro grandes operações da Polícia Federal estão em risco no Superior Tribunal de Justiça (STJ). A decisão da corte de anular as provas da Operação Boi Barrica fez crescer a mobilização de importantes bancas de advocacia do eixo Rio-São Paulo-Brasília em favor dos réus apanhados nas operações Voucher, Navalha, Mãos Limpas e Caixa de Pandora. Em todos esses casos, já há no STJ recursos nos mesmos moldes do que obteve sucesso e anulou a Boi Barrica.

Entre os personagens acusados de corrupção e desvio de dinheiro público que esperam fulminar as provas obtidas pela Polícia Federal estão os ex-governadores do Distrito Federal José Roberto Arruda (sem partido), preso na Operação Caixa de Pandora, e do Amapá, Pedro Paulo Dias (PP), apanhado pela Operação Mãos Limpas, além dos envolvidos na Operação Voucher, que derrubou a cúpula do Ministério do Turismo.

"Pedi a anulação de todo o inquérito. A maior prova da inocência do meu cliente (José Roberto Arruda) é que até hoje o Ministério Público não o denunciou", afirmou o criminalista Nélio Machado. Ele alega vícios no processo, entre os quais grampos ilegais e espera que a jurisprudência do STJ contribua para o descarte das provas. "Toda decisão que reconhece ilegalidade e abuso na coleta de provas gera jurisprudência nova", enfatizou.

Segundo Machado, Arruda sofreu devassa completa em sua vida, a partir dos grampos ilegais de um criminoso - o ex-secretário de Relações Institucionais do DF Durval Barbosa, delator do esquema conhecido como "mensalão do DEM". "As demais interceptações estão fora de contexto e derivam de uma prova inicial viciada", acrescentou. A seu ver, embora não possa fazer analogia com o caso de Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), cuja decisão não conhece integralmente, ele disse que "foram violadas as garantias constitucionais" do ex-governador Arruda.

Boi Barrica. No caso da Boi Barrica, os ministros da 6.ª Turma do tribunal consideraram ilegais interceptações telefônicas feitas durante as investigações, o que no entender do STJ contamina as provas contra os réus, entre os quais Fernando Sarney, acusado de crimes financeiros e lavagem de dinheiro.

Aguardam ansiosos na fila os réus da Operação Voucher, que pôs na cadeia, em agosto, a cúpula do Ministério do Turismo. "A Justiça e a polícia não podem passar por cima da lei e sair ampliando o tempo e o leque de interceptações como se fossem filhotes", criticou o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakai, que atuou na defesa do ex-secretário executivo do Turismo Frederico Silva da Costa, o Fred, preso e apontado como cabeça do esquema.

O advogado aponta "fraude na interpretação do áudios" de conversa telefônica em que Fred ensina o empresário kkkkkkkkk de Mello a montar um instituto para receber recursos públicos e ressalta que "o importante é a fachada".

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Re: Corrupção é coisa de político?

#163 Mensagem por Carnage » 25 Set 2011, 19:36

http://www.cartacapital.com.br/politica ... ca-abalada
O Judiciário de confiança abalada
Wálter Maierovitch 24 de setembro de 2011 às 11:27h


Na sua história, o judiciário passou por momentos difíceis. Lembro da cassação, pela ditadura, dos íntegros ministros Victor Nunes Leal e Evandro Lins e Silva, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ambos tiveram recente mente a memória desrespeitada pelo ministro Eros Grau, que deu pela constitucionalidade da lei de autoanistia, esta elaborada pelo regime militar para encobrir arbitrariedades e garantir impunidade a autores e partícipes de assassinatos, torturas e terrorismo de Estado.

Na presente quadra, o Judiciário passa por outro tipo de dificuldade e decorre de um processo de perda de credibilidade pela população. Isso pela ausência de imparcialidade e pela falta de trato igualitário dos cidadãos perante a lei. De permeio, episódios desmoralizantes vieram a furo, como, por exemplo, a falsa comunicação de crime feita pelo ministro Gilmar Mendes: afirmava ser vítima de grampo e, com particular teatralidade, levantou suspeitas contra a Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

O sentimento de descrédito teve início quando, em decisão monocrática a contrariar súmula do STF impeditiva de se pular o exame por instâncias inferiores, o ministro Mendes concedeu, sem consultar o Plenário e num diligenciar inusual, habeas corpus liberatório a Daniel Dantas. Pouco depois, tornava-se público o conteúdo de uma interceptação telefônica realizada com ordem judicial e a dar conta da preocupação de Dantas com os juízes de primeira instância, uma vez que, perante tribunais superiores, teria a impunidade garantida. Convém lembrar que a prisão cautelar de Dantas foi imposta por juiz federal de primeiro grau em face da Operação Satiagraha.

Por outro lado, não tardou para, em sede de habeas corpus, a 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por 3 votos contra 2, anular a Operação Satiagraha e a sentença condenatória de Daniel Dantas por consumada corrupção ativa. Para os ministros julgadores, exceção a Gilson Dipp e Laurita Vaz, a participação de agentes da Abin, órgão oficial e subordinado à Presidência da República, foi ilegal e contaminou toda a apuração. Em outras palavras, o acessório a caracterizar, no máximo, uma mera irregularidade, valeu mais do que a prova-provada da corrupção: Daniel Dantas, conforme uma enxurrada de provas e gravações feitas com o acompanhamento da equipe da Rede Globo, procurou, por interpostos agentes, corromper policiais em apurações na Satiagraha. Na casa de um dos enviados de Dantas, a Polícia Federal apreendeu 1,1 milhão de reais.

Outra decisão que abalou os pilares da credibilidade e da confiança popular no Judiciário consistiu na anulação da Castelo de Areia, a envolver dirigentes da construtora -Camargo Corrêa. Por 3 votos a favor dos acusados e 1 -contrário, o STJ anulou todas as provas da operação. A tese é que as provas tinham origem em denúncia anônima. O voto vencido explicitou que investigações, e não a denúncia anônima, tinham motivado as interceptações. No mesmo sentido e anteriormente manifestara-se de forma unânime o Tribunal Regional Federal de São Paulo.

Quando ainda mal absorvidos pela sociedade civil os episódios acima mencionados, veio a furo outro caso de estupor. Esse a envolver como figura principal Fernando Sarney, filho do presidente do Senado. A 6ª Turma do STJ, sem que ministros convocados pedissem vista dos autos após o voto do relator, anularam a chamada Operação Boi Barrica.

Para a Turma, a decisão judicial que havia autorizado a quebra de sigilos não tinha sido suficientemente motivada. Isso tudo com desprezo ao relatório do Conselho de Atividades Financeiras do Ministério da Fazenda: o relatório indicava suspeita de lavagem de dinheiro por membros do clã Sarney e durante campanha eleitoral de Roseane ao governo do Maranhão.

Nesse caso, a verdade real foi desprezada por um garantismo baseado no subjetivismo da suficiência, e o inquérito acabou reduzido a pó. Como num passe de mágica, não existe mais nenhuma prova dos crimes de lavagem de dinheiro, desvio de dinheiro público e tráfico de influência.

De lembrar, logo no início das apurações da Boi Barrica, a concessão de liminar que proibiu o jornal O Estado de -S. Paulo de noticiar fatos em apuração e relacionados a Fernando Sarney. O desembargador censor foi posteriormente reconhecido como suspeito de parcialidade por vínculos com o senador Sarney.

Num pano rápido, em nome de um falso garantismo poderemos ter anulações a beneficiar o ex-governador José Roberto Arruda (Operação Caixa de Pandora), os envolvidos em desvios de recursos do Ministério do Turismo (Operação Voucher) e em superfaturamentos de obras do Ministério de Minas e Energias (Operação Navalha). No imaginário popular, ao que parece, a deusa grega da Justiça, Têmis, cedeu lugar ao deus romano Janus bifronte. Das suas duas caras, uma garantiria a saída pela porta da impunidade a poderosos e potentes.
Wálter Maierovitch

Walter Maierovitch é jurista e professor, foi desembargador no TJ-SP

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Re: Corrupção é coisa de político?

#164 Mensagem por Carnage » 28 Set 2011, 22:18

http://www.cartamaior.com.br/templates/ ... a_id=18572
Atos social e parlamentar pressionam Congresso contra corrupção
Deputados e senadores serão constrangidos nesta quarta (28) a votar 113 propostas de combate à corrupção esquecidas em gavetas do Congresso. Movimentos da sociedade vão distribuir vassouras aos congressistas, enquanto frente parlamentar fará panfletagem listando e explicando projetos abandonados. Na quinta, ato lembrará primeiro ano da Lei da Ficha Limpa, que corre risco no STF.

Najla Passos - Especial para a Carta Maior

BRASÍLIA - Os deputados e senadores que comparecerem ao Congresso nesta quarta-feira (28/9) vão ganhar de presente vassouras verde-amarelas. O "brinde" faz parte de um ato promovido pela organização não-governamental Rio de Paz e pelo recém-criado Movimento Contra a Corrupção com o objetivo de pressionar os parlamentares a votar leis destinadas a "varrer" a corrupção do país.

Atualmente, existem 113 projetos que propõem medidas de combate à corrupção tramitando ou na Câmara ou no Senado, segundo pesquisa da Frente Parlamentar Mista de Combate à Corrupção. Do total, 27 estão prontas para irem à votação. Entretanto, todas elas permanecem engavetadas.

As vassouras que serão entregues aos congressistas são idênticas às que foram fincadas na Praia de Copacabana (Rio), no último dia 18, em protesto anterior contra o mesmo problema. Incorporadas à paisagem da Esplanada dos Ministérios no início da noite desta terça-feira (27), elas anunciam novas manifestações previstas para os próximos dias.

“Reunimos muitos voluntários para montar a instalação. A população não aguenta mais impunidade”, afirma a estudante Maiara Gomes, uma das organizadoras do Movimento Contra a Corrupção.

Na próxima quinta-feira (29), o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) promove uma “festinha de aniversário”, no Salão Nobre da Câmara dos Deputados, para comemorar o primeiro ano de aprovação da Lei da Ficha Limpa. Fruto de um projeto de iniciativa popular que mobilizou cerca de 1% dos leitores do país, a Lei, hoje, corre o risco de ser julgada inconstitucional pelo Supremo tribunal Federal (STF), em votação prevista para este mês.

“Primeiro, o STF determinou que a Lei da Ficha Limpa não valesse para as eleições de 2010. Agora, ameaça caçá-la integralmente. Precisamos defender este avanço conquistado pela luta popular”, disse a diretora do MCCE, Jovita José Rosa.

No dia 12 de outubro, o Movimento contra a Corrupção, que nasceu espontaneamente no Facebook e reuniu algumas milhares de pessoas na sua primeira manifestação em Brasília, no dia 7 de setembro, promove marchas em várias cidades do país. Na capital federal, a concentração será, como da outra vez, em frente ao Museu Nacional, a partir das 10 horas.

Além do combate à corrupção, os voluntários exigem o fim do voto secreto no Congresso, sistema que resultou na absolvição da deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF), flagrada em vídeo recebendo propina antes de ser eleita.

“Temos recebido adesões de todo o país. As marchas ocorrerão, simultaneamente, em várias cidades. O país chegou ao seu limite”, complementa Maiara.

Corpo a corpo

Em meio à pressão popular sobre o Congresso, os membros da Frente Parlamentar Mista de Combate a Corrupção programaram uma panfletagem para a tarde desta mesma quarta-feira (28), com a intenção de contribuir para constranger os colegas.

“A Mesa Diretora da Câmara não tem priorizado o encaminhamento dos projetos de combate à corrupção, apesar da nossa pressão. No Senado, esta discussão também está parada", afirma o deputado Francisco Praciano (PT-AM), coordenador da Frente. "É por isso que queremos mostrar à população que no Congresso Nacional também há pessoas que lutam contra essa prática nociva. E garantir o apoio popular para que esta luta se reverta em ações concretas."

De acordo com ele, o panfleto apresenta o resumo das 113 proposições de combate à corrupção que tramitam nas duas casas. “Queremos sensibilizar nossos colegas a agilizar a tramitação dessas medidas parlamentares que atendem aos anseios da população. Também vamos visitar as diversas comissões da Câmara e do Senado, pedindo apoio à causa. E, nos próximos dias, tentaremos agendar novas audiências com os presidentes das duas casas”, acrescenta.

“Compasso de espera”

O senador Pedro Simon (MDB-RS), que acabou provocando o ato desta quarta-feira ao declarar à imprensa que gostaria de receber “uma das vassouras de Copacabana”, admite que, no que tange ao combate à corrupção, o Senado vive o que ele chama de “compasso de espera”.

“Estamos aguardando os encaminhamentos da Câmara e, principalmente, as definições da sociedade organizada sobre quais são as prioridades pra o período”, afirmou.

Para o senador, é necessário que o Congresso ouça as entidades representativas da sociedade civil para definir quais das 113 proposições listadas pela Frente Parlamentar devem ter a tramitação priorizada.

“Todos nós queremos combater a corrupção e garantir a ética na política, mas precisamos definir ações concretas e mais pontuais, como fizemos durante a tramitação do projeto que resultou na Lei da Ficha Limpa. A discussão não pode ficar só no plano genérico”, sugeriu.


http://www.cartamaior.com.br/templates/ ... a_id=18443
Leis para punir empresas corruptoras são boicotadas no Congresso
Projeto do governo com sanções para pessoas jurídicas que corrompem não anda desde ida ao Congresso, em fevereiro de 2010. Criminalização de corrupção ativa está parada há 33 meses em comissão. "Corruptor é impune no Brasil", diz deputado Henrique Fontana (PT-RS), autor do projeto. Perfil patronal de 45% dos parlamentares e doação privada a campanhas explicam lentidão. CGU cobra prioridade.

André Barrocal e Najla Passos


BRASÍLIA – Um esquema de desvios na área de transportes do governo causou prejuízo aos cofres públicos de R$ 682 milhões, 13% do valor dos contratos auditados pela Controladoria Geral da União (CGU). Para punir os corruptos, a CGU abriu processos contra 31 pessoas. Já o futuro dos corruptores depende da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público (MP). Ambos receberam o relatório da auditoria e, agora, têm elementos para tentar incriminar a conexão privada dos desvios.

Não se deve esperar, porém, que as empresas que se beneficiaram da bandalheira sejam punidas. A legislação brasileira não prevê a criminalização delas, só a das pessoas físicas que operavam em nome das corporações. E o Congresso não parece disposto a mudar isso.

Em fevereiro de 2010, o governo mandou ao Legislativo projeto que cria mecanismos para punir empresas que cometam crimes contra órgãos públicos. Dezessete meses depois, a proposta não saiu do lugar.

Em maio de 2007, o deputado Henrique Fontana (PT-RS) apresentou projeto para tipificar, do ponto de vista criminal, a corrupção ativa de empresas. Há 33 meses, o texto repousa em uma comissão da Câmara que poderia votá-lo e enviá-la direto ao Senado, sem necessidade de remeter ao plenário.

“Nós estamos sem forças na Câmara. Há 27 projetos de combate à corrupção prontos para serem votados e não conseguimos colocá-los em pauta”, diz o coordenador da Frente Parlamentar Mista de Combate à Corrupção, deputado Francisco Praciano (PT-AM). “A sensação que dá é que medidas estruturais contra a corrupção não encontram eco no Congresso”, afirma Fontana.

Em agosto, Praciano cobrou oficialmente do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), a instalação, “com a máxima urgência”, de uma comissão especial para debater o projeto do governo. O requerimento oferece a Maia um argumento para ele pressionar os partidos a indicar integrantes da comissão. Esse é o motivo de ela não existir ainda.

O projeto está sujeito a uma comissão especial desde que chegou à Câmara. Isso acontece sempre que uma proposta tem conteúdo abrangente e precisa passar por ao menos quatro comissões.

Em 2010, o então presidente da Casa, Michel Temer (PMDB), hoje vice da República, determinara a criação da comissão, mas faltaram as indicações partidárias. Maia repetiu o gesto em maio, mas o Partido Verde (PV) não providenciou a indicação.

CGU: prioridade

O movimento de Praciano foi combinado com a CGU. Autora do texto junto com o ministério da Justiça, a Controladoria considera a aprovação uma prioridade para melhorar proteção do erário.

“A legislação brasileira atual é falha e incompleta no tocante a medidas repressivas diretas contra as empresas envolvidas em corrupção”, diz o secretário-executivo da CGU, Luiz Navarro. “As penas mais fortes alcançam apenas as pessoas físicas dos dirigentes e empregados. Mas é muito difícil, senão impossível, alcançar o patrimônio da empresa para obter o ressarcimento do dano causado à administração pública.”

Hoje, só as pessoas que trabalham para as empresas estão, de forma individual, ao alcance da lei por lesar a administração pública. O projeto do governo tenta contornar isso. Descreve o que seriam atos corruptores e fraudes. E oferece dois modos de punir tais condutas.

Primeiro: permite que órgãos públicos apliquem sanções administrativas às empresas - como independeriam da Justiça, as decisões seriam mais rápidas. Haveria multas, indenização, proibição de assinar contratos com o governo e exposição pública do condenado, entre outras.

Segundo: com base nos atos corruptores descritos, o Ministério Público e outras entidades públicas poderiam entrar na Justiça para recuperar o dinheiro desviado (inclusive confiscando o patrimônio da empresa) e pedir o fechamento da firma.

A proposta do deputado Henrique Fontana tem dispositivos muito parecidos. Para ele, a ação dos agentes privados é tão nociva ao interesse público quanto a dos servidores. Neste ano, a Polícia Federal já prendeu 400 pessoas por participação, no lado privado, de esquemas fraudulentos. Os funcionários públicos algemados eram menos da metade.

"Se você pegar os 30, 40 maiores escândalos de corrupção, é praticamente nula a punição dos corruptores", diz Fontana. "O corruptor é impune no Brasil."

O projeto dele está parado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara desde dezembro de 2008. Em um ano e meio, tinha sido aprovado nas comissões de Trabalho e de Desenvolvimento Econômico. Na CCJ, ganhou a relatoria do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Até hoje, não houve parecer ou audiências públicas para discutir a idéia.

Poder econômico

Há duas pistas para entender a dificuldade de endurecer contra os corruptores. A primeira é o perfil dos parlamentares. A bancada empresarial é a maior do Congresso. Tem 45% das vagas, de acordo com estudo feito a partir da biografia de deputados e senadores pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).

A segunda é o tipo de financiamento de campanhas políticas no Brasil, com predomínio de doações empresariais. Nos últimos dias, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) entrou no Supremo Tribunal Federal (STF) com uma ação para acabar com as contribuições de pessoas jurídicas.

“Vem daí a defesa, pelos políticos 'devedores', dos interesses econômicos dos seus doadores na elaboração legislativa, na confecção ou execução do orçamento, na regulação administrativa, nas licitações e contratos públicos etc", diz a ação da OAB.

O fim das doações privadas e sua substituição pelo financiamento público de campanhas estão sendo debatidos atualmente na Câmara em um projeto de reforma política que está sendo relatado por Henrique Fontana.

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Re: Corrupção é coisa de político?

#165 Mensagem por Sempre Alerta » 11 Out 2011, 22:52

A corrupção como fenômeno político

Urge analisarmos a corrupção como um fenômeno intrinsecamente político, que se refere, portanto, à maneira como o sistema político brasileiro está organizado. A lógica do sistema político brasileiro é marcada pela privatização da vida pública, não em termos moralistas, e sim quanto às estruturas que o sustentam.

Francisco Fonseca

As denúncias de corrupção que assolam o governo Dilma nesse seu início têm sido divulgadas pela grande mídia como se fossem uma característica do atual agrupamento político que está no poder. Tudo se passa como se pessoas de caráter duvidoso se aproveitassem do Estado em favor de seus interesses pessoais e grupais.
Essa forma de veicular denúncias e indícios e, sobretudo, de interpretá-los, não apenas contribui para estigmatizar grupos políticos – no limite de sua criminalização, o que é um claro atentado à democracia – como, fundamentalmente, reafirma muitos dos mitos acerca do fenômeno da corrupção.
Deve-se notar que tais mitos são de variada ordem e se encontram espalhados pelo chamado senso comum e entre as elites, a começar pela mídia, que os espraia seletivamente. Sem a pretensão de esgotar todos eles, podem-se inventariar alguns:

• a colonização portuguesa, que seria essencialmente patrimonialista, em contraposição ao “poder local” e ao “espírito de comunidade” da tradição anglo-saxã, notabilizada por Tocqueville. Nessa imagem, haveria uma “inferioridade” da cultura e dos povos ibéricos, comparativamente a seus congêneres anglo-saxões, com consequências políticas nefastas a suas colônias. Assim, o patrimonialismo seria um legado do qual as ex-colônias jamais conseguiriam se livrar;

• a cultura brasileira, que não teria, mesmo após a independência e a República, conseguido separar o público do privado, mantendo as “raízes do Brasil”, conforme a análise culturalista de Sérgio Buarque de Holanda. Aqui, o universo miscigenado brasileiro, tão criticado por perspectivas eugenistas do início do século XX e mesmo por pensadores como Oliveira Viana, impregnaria as instituições com sua “amoralidade macunaímica” (a obra de Mario de Andrade é, nesse sentido, ironicamente sintética e crítica dessa perspectiva);

• o caráter (i)moral de grupos específicos que alçam ao poder, versão notabilizada pela UDN de Carlos Lacerda, intérprete da política à luz da moral (seletiva, diga-se) das relações pessoais: essa versão é bastante divulgada pela mídia contemporânea brasileira, com a mesma seletividade de então. Um exemplo dessa seletividade foi o processo de privatização, que, apesar de um sem-número de denúncias e indícios de corrupção no processo e na modelagem,1 foi sistematicamente negligenciado pela grande imprensa brasileira, em razão de seu apoio incondicional a ela.2 De toda forma, o fato é que a análise moralista aparece como fator explicativo dos processos de corrupção, mas seus intérpretes a invocam seletivamente;

• a disjunção entre elites políticas e sociedade, como se as primeiras não fossem reflexo, direto e/ou indireto, da última. Trata-se de visão simplista, mas bastante difundida, quanto à desconexão entre eleitos e eleitores, em razão ou da “corrupção inescapável” dos que chegam ao poder, ou de uma inexplicável autonomia dessas elites perante o corpo de eleitores;

• a ausência de uma base educacional formal sólida como explicação para comportamentos não republicanos. Nessa perspectiva, desconsideram-se o chamado “crime do colarinho branco” e as diversas formas de “tráfico de influência”, típicos das elites, como os atos mais graves e praticados por pessoas “educadas”, em termos de educação formal. Assim, o mote do senso comum – “a educação é a base de tudo” – concede à educação formal um poder equalizador, republicano e democrático que decididamente ela não tem e não pode ter, dado que a escola é também reflexo da sociedade, com todas as suas virtudes e mazelas, mesmo que seja um ambiente mais propício, em tese, à reflexão.3 Com isso, de forma alguma se está advogando a desimportância da escola, e sim seu papel real na sociedade, particularmente no Brasil. Nesse sentido, os meios de comunicação de massa são claramente concorrentes, com enorme superioridade quanto aos impactos, à escola, pois sua capacidade de incutir comportamentos e valores, inclusive estéticos, é brutal, ainda mais em países como o Brasil, em que não há qualquer responsabilização desses meios, embora sejam concessões públicas4;

• por fim, a ausência e/ou fragilidade de leis e de instituições capazes de fiscalizar, controlar e punir os casos de malversação dos recursos públicos, como se o país fosse “terra de ninguém”, desconsiderando-se os inegáveis avanços institucionais desde 1988. É importante notar o novo papel do Ministério Público, com poderes inéditos na história brasileira, desde 1988; a recente criação das Defensorias Públicas estaduais, que contribuem para a melhoria do acesso à Justiça pelos mais pobres; as funções fiscalizatórias da Corregedoria Geral da União; as revisões no papel dos tribunais de contas, entre tantas outras instituições e marcos legais organizados em torno dos conceitos de controles internos, externos e sociais (caso, deste último, das organizações da sociedade politicamente organizada na fiscalização do Estado).

Um fenômeno sociológico

Todas essas versões tendem a negligenciar que a corrupção, em graus variados, existe em todos os países e é, de certa forma, também um fenômeno sociológico. Reitere-se que tais versões, com suas variações, são disseminadas na sociedade brasileira, tanto entre as elites quanto entre o senso comum – aliás, as chamadas elites tendem a comungar dos valores do senso comum quando o assunto é corrupção.
Pois bem, em contraste às considerações culturalistas – de modo geral preconceituosas e simplificantes –, às moralistas, às generalizantes e às pouco refletidas, urge analisarmos a corrupção como um fenômeno intrinsecamente político, que se refere, portanto, à maneira como o sistema político brasileiro está organizado.
A lógica do sistema político brasileiro é marcada pela privatização da vida pública, não em termos moralistas aludidos, e sim quanto às estruturas que o sustentam. Vejamos: o financiamento das campanhas políticas é essencialmente privado, embora haja também uma pequena parcela de financiamento público via fundo partidário, o que abre espaço à disseminada prática do caixa dois, com todas as suas variações; o sistema partidário é fluido e altamente flexível, o que é uma realidade desde a redemocratização, constituindo a vida partidária, para grande parte dos atuais 28 partidos existentes atualmente, num grande balcão de negócios.
Expressões do jargão político brasileiro, como “partido de aluguel”, “venda do tempo na TV e no rádio” com vistas às campanhas eleitorais, e alianças partidárias que objetivam a distribuição de nacos do Estado, têm por trás uma cadeia de interesses privados empresariais, de tamanhos e graus diversos, o que tende a fazer dos partidos representantes de interesses privados setoriais.
O próprio imperativo de governar por meio de amplas coalizões, em razão da fragmentação dos sistemas partidário e eleitoral, tem como resultado tanto a construção de alianças sem qualquer confluência programática, como a necessidade de o Estado, nos três níveis da federação, alocar tais grupos. Isto impacta a coerência e a coordenação das políticas públicas e a busca de uma política que se aproxime da caracterização de “pública”, dada a rede de relações e interesses privados, notadamente empresariais, que estão por trás dos partidos políticos; entre outras modalidades.
Essas características produzem cálculos políticos nos partidos que os induzem a “jogar o jogo” das regras estabelecidas, não tendo, dessa forma, interesse em alterá-las: trata-se de um círculo vicioso.

Reforma política desprivatizadora

Nesse sentido, é claro que a reforma política é uma necessidade imperiosa, a começar pelo financiamento público das campanhas, o que poderia contribuir para desprivatizar a relação dos partidos com o Estado. Mas isso somente se essa reforma for acompanhada por uma inovadora e leonina institucionalidade5 voltada para fiscalizar e punir o uso de recursos privados.
Não que, por mágica, os interesses privados desapareceriam da vida pública, até porque, no capitalismo, eles lhe são inerentes,6 mas é possível diminuí-los ao se estabelecerem novos marcos, em que o privatismo seja, ao menos, controlado.
Assim, o norte da reforma política deve estar assentado no binômio “desprivatização” da vida pública e “aumento da representatividade e da responsabilidade” dos partidos, o que tem como consequência a diminuição de seu número.
Paralelamente à reforma política, há uma pauta permanente do Estado brasileiro, referente à transparência, à publicização, à participação popular e ao republicanismo.
Por mais avanços que a sociedade e o Estado estejam vivendo desde a redemocratização e, sobretudo, desde a Constituição de 1988, ainda há uma incrível opacidade que encobre esquemas poderosos de tráfico de influência.
As informações, que deveriam ser públicas, como contratos estabelecidos entre o Estado e os agentes privados, são de difícil acesso;7 a linguagem da administração pública continua hermética aos cidadãos comuns, a começar pelo orçamento; os mecanismos do chamado “governo eletrônico” não são voltados ao controle do Estado – o que implica controle sobre o poder dos agentes privados, associados à burocracia e a segmentos dos políticos eleitos –, e sim à prestação de serviços; o processo licitatório é flagrantemente burlado pela própria natureza oligopólica da economia brasileira, principalmente nas obras “públicas” que envolvem bilhões de reais; não há no país uma “cultura política”8 de prestação de contas, por mais que avanços sejam observados desde a redemocratização e mesmo pela intensa mobilização da sociedade politicamente organizada no Brasil.
Os mitos disseminados acerca da corrupção encobrem seu entendimento como fenômeno intrinsecamente político, com consequências sociais, políticas, econômicas e culturais. Mais ainda, as imagens e versões morais e moralistas escamoteiam os efeitos da desigualdade social histórica e profunda do Brasil, assim como a utilização do Estado pelas e para as elites.
A ainda vigente opacidade do Estado – cujos exemplos estão no orçamento, nos contratos que deveriam ser publicizados, nas informações teoricamente públicas, em sistemas decisórios pouco claros, e na ainda pouco institucionalizada participação popular – decorre, portanto, do caráter essencialmente político e histórico desse fenômeno.
O fato de mesmo o cidadão comum, pobre, não antever claramente a linha divisória entre o público e o privado é muito mais a expressão da forma como o Estado foi estruturado, e de sua apropriação por elites distintas ao longo do tempo, do que propriamente um fenômeno moral. Trata-se de um fenômeno político, de poder, por excelência!

Francisco Fonseca
cientista político e historiador, professor de ciência política da Fundação Getulio Vargas de São Paulo e autor do livro O consenso forjado – A grande imprensa e a formação da agenda ultraliberal no Brasil. São Paulo, Hucitec, 2005.

http://diplomatique.uol.com.br/artigo.php?id=998

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