Zezinho (ZZ): Papai, vamos aquele sitio onde há muitos animais, que brincam connosco?
Papai Naoseionome (PP): Mas olha lá, ainda há pouco tempo te comprei uma bicicleta, por isso não podemos gastar muito guito. Vamos dar uma voltinha rápida, mas tem que ser a um daqueles jardins mais reles, onde nem sempre estão os animais que gostamos.
(ZZ): Vamos aquele jardim ali na Miguel Bombarda, que de vez em quando tem bichos giros.
É que para quem não sabe, os putos têm uma grande capacidade de persuasão. E por acaso, eu também não me importava nada de dar uma voltita num animalzito assim jeitoso, do tipo elegante, e bem domesticado.
Lá nos metemos no metropolitano. Não me lembro bem da cor da linha, porque sou um bocado daltónico e o zezinho ia distraído a brincar com as bolas e nem deu pelo tempo de viagem.
Lá chegados, fomos recebidos pelo porteiro do jardim, já entradote e com marcas das agruras do tempo.
(PP): Então, quais são os animais que tem cá hoje?
O porteiro retirou-se, para dar lugar ao desfile da bicharada. Quando terminou, e quando fiquei a sós com o Zezinho, desabafei:
(PP): ÓÓ Zezinho, o jardim hoje está fraco. Não há gazelas, nem felinos nem outros animais bonitos. Parece que hoje só há leões marinhos.
(ZZ): Papai, os leões marinhos são aqueles bichos muito gordos, com imensas dobras na pele, cheios de gorduras e um focinho com bigodes?
(PP): São esses mesmos. Não são nada engraçados para brincar e se não temos cuidado e algum deles nos cai em cima, podemos fazer um dói-doi! O melhor é irmos embora e voltarmos outro dia. O Papai compra-te um chupa-chupa, que sai mais barato e ficas mais bem servido.
Mas o sacana do puto desatou num berreiro, a dizer que não queria porcarias de guloseimas, queria brincar um bocadinho com um bichinho, que o papai tinha prometido, etc… Enfim, muito contrariado, mas para não fazer uma desfeita ao moçoilo, lá paguei a entrada de 50€ ao porteiro, que nos dirigiu para uma jaula, onde, enquanto esperávamos pelo animal, lemos o placar informativo sobre a raça do mesmo:
Nome: Gordus Granjolus (da espécie dos Enormous Disformus)
Origem: Algures dum recanto da Península Ibérica
Tempo de vida: Desconhecido
Altitude: + 1,70
Tonelagem: Perto da unidade
Pelo: Amarelado
Medidas: Tudo grande, muito grande, enorme, do pescoço aos membros inferiores.
Mal nos encontrámos frente a frente com a fera, percebemos que tinha um ar dócil, embora as proporções continuassem a impor algum respeito. Lá nos pusemos à vontade, deixei o Zezinho à solta e para meu espanto, o puto teve um momento de hesitação e pareceu encolher-se.
Vendo tal cenário, o animal investiu em força, e no ímpeto da brincadeira, derrubou-nos a ambos. Felizmente que o chão era fofinho, mas ainda assim, ver aquela massa a dirigir-se para cima de mim e do cachopo deixou-me algo apreensivo.
(ZZ): Papai, que coisas são essas que tens aí junto à cara? São tão grandes!!
(PP): Mummf, ó filho, mummf, são bolsas com líquido e têm uma espécie de chucha. São boas para mexer e também se podem chupar. Queres brincar com elas um bocadinho? Não têm corantes nem conservantes, é tudo natural!
Lá me ajeitei, a muito custo e consegui que o Zezinho ficasse junto daqueles enormes apêndices, que só se conseguiam manipular com as duas mãos em simultâneo. A desgraçada da criança desapareceu totalmente ali no meio e só a voltei a ver, momentos depois, quando o bicho aliviou um bocadinho a pressão, mas apenas para abrir as suas poderosas mandíbulas e tratar de abocanhar o puto. Vá lá que não magoou o Zezinho. Alias, até me pareceu que a criança estava a gostar da brincadeira, porque estava a ser tratado com delicadeza, embora por vezes os pelos dos bigodes lhe fizessem algumas cócegas, que o distraiam.
Com um golpe de ginástica, lá me consegui desenvencilhar do animal, embora me pareça que à custa de 3 costelas partidas e uma luxação no ombro. Com medo da chuva, vesti um impermeável ao Zezinho e após muito incitamento, lá se convenceu a explorar melhor o dorso do animal.
O Zezinho andou para ali às voltas, um bom bocado, na maior parte das vezes totalmente perdido, sem saber bem onde estava, nem o que estava a fazer, apesar do bicho estar a ser muito gentil para ele e a incitá-lo sempre. Eta bicho danado pr’á brincadeira. Embora tivesse severas dificuldades de mobilidade, até que se via estar cheio de vontade de se divertir. Mas o puto estava mesmo assustado! Tão depressa se lançava em força para a brincadeira, como se encolhia todo com medo. Estive quase para agarrar a criança pela mão e tirá-la dali para fora, mas a muito custo e com muita vontade por parte do bichinho, lá consegui que a criança dissesse que estava satisfeita e que podíamos ir embora.
No caminho para casa, o gaiato disse-me:
(ZZ): Papai, nunca mais voltamos a brincar com Leões Marinhos, 'tá bem?
Eu prometi-lhe que tal nunca mais irá acontecer. É capaz de haver por aí quem goste deste tipo de brincadeiras, mas eu e o Zezinho temos a nossa conta!!
Conclusão: Esta é uma obra de ficção. Não maltratem os animais, que são nossos amigos.